sexta-feira, 30 de março de 2012

579 - METÁFORA CEARENSE




Apesar das dificuldades decorrentes do clima com chuvas irregulares, os cearenses do sertão não perdem o afiado senso de humor. Ali, todos os dias e em qualquer situação do cotidiano, são criadas cômicas histórias e inusitadas expressões. Não é por acaso que daquelas frutíferas terras secas surgiram humoristas do quilate de Chico Anysio, Renato Aragão e Tom Cavalcante.

Certo dia, em Várzea Alegre, eu conversava com amigos na antiga Praça dos Motoristas, quando ali surgiu um desconhecido rapaz, com estranhos trejeitos. Quando o afeminado jovem passou, um dos taxistas comentou:

- Esse cabaronca na quarta.

Desconhecendo a expressão, perguntei:

- Como assim ? Não entendi...

O velho motorista, sentado no banco da praça, como se estivesse na direção de um veículo, explicou:

- Você já reparou um carro véi, com motor avariado? Quando passa a quarta marcha em vez de seguir, o carro faz é roncar e sai pulano...

E quando eu imaginava que findara as descrições, o experiente chofer de praça, sem compromisso com o políticamente correto, continuou com suas conceituações metafóricas:

- Hômi, ele é baitola. Acha bom sentar em cadeira ocupada.


(imagem Google)

quarta-feira, 28 de março de 2012

578 - A TROCA DO PASTEL





            Um bêbado chegou a um boteco e pediu um pastel. Ao ser atendido, pensou melhor e falou para o balconista:

            - Troque esse pastel por uma dose de cachaça.

        Prontamente a cachaça foi servida e, o pastel, colocado de volta na estufa. Logo após tomar de um só gole a cachaça o bêbado se despediu de todos e foi deixando o lugar. Porém, ao vê-lo se retirar, o balconista alertou:

            - Ei, Ei, e a cachaça? Falta pagar, rapaz.

            - Eu troquei pelo pastel.

            - E o pastel? - Indagou o funcionário do bar.

            - O pastel aí, num tá vendo? – disse o bêbado, apontando para a estufa.

           O Balconista, ainda confuso, apanhou a flanela do ombro, limpou uma das poucas mesas do bar, coçou a cabeça e com um gesto tímido se despediu do freguês.


Colaboração: Carlos Leandro da Silva, Carlin de Dalva.

(imagem Google)

terça-feira, 27 de março de 2012

577 - A VENDA DE COCADA




No final do século passado, em uma pequena cidade do sertão nordestino, um antigo morador instalou uma modesta venda de cocada na calçada da agência local do banco Bradesco.

Depois de algum tempo, por conta do grande movimento de clientes na porta da única casa bancária do município, o comércio de doces típicos progrediu.

Certo dia, observando o crescimento do pequeno negócio, um amigo se aproximou da banca e falou para o vendedor de doces:

- Tenho uma proposta pra você ganhar muito mais. Me arrume cem conto emprestado que eu pago cento e cinquenta no mês que vem.

O modesto vendedor respondeu:

- Dá não. Num posso quebrar o acordo.

- Que acordo? – insistiu, o amigo.

Sabendo da fama de mau pagador do conterrâneo e percebendo o claro oportunismo da proposta, o perspicaz ambulante explicou:

- Acertamo com o dono do banco pra mode um não atrapaiá o negócio do outo. Ele num vende cocada e eu num empresto dinhêro.


(imagem Google)
Colaborador: Carlos Leandro da Silva (Carlin de Dalva)

domingo, 25 de março de 2012

576 - O ETERNO CHICO ANYSIO




Sábado a tarde. Longe da família. Sentido com o falecimento do famoso conterrâneo. Decidi ir à Cinelândia participar das homenagens fúnebres ao grande artista cearense Chico Anysio. Antes, do sertão caririense, recebi o estímulo da minha mãe:

- Vá meu filho e reze um Pai Nosso.

O belíssimo Theatro Municial estava lotado, repleto de fãs, familiares e amigos do artista. Nem mesmo a forte chuva que caiu no final da tarde afastou seus admiradores. Como a passagem pelo caixão era muito rápida, para concluir a oração prometida, peguei a longa fila por três vezes. Vi no luxuoso salão de entrada, Chico Anysio, em seu último e tranquilo sono, coberto por uma bandeira do Vasco da Gama, um dos seus times preferidos.

Ao lado da urna funerária, sua atual esposa Malga di Paula, que, visivelmente emocionada, recebia as inúmeras mensagens de pêsames. As ex-mulheres do artista também passaram por lá, como a ex-ministra Zélia Cardoso de Melo.

Ao assistir às declarações emocionadas de suas várias esposas, lembrei-me de uma das muitas e inteligentes frases lapidadas pelo grande e eterno humorista de Maranguape:

- Quem passou 40 anos casado com Dona Maria, entende de Dona Maria. De casamento entendo eu, que casei 6 vezes.


(imagem Google)

quinta-feira, 22 de março de 2012

575 - ACORRENTADA




Há vários anos, em uma cidade brasileira, policiais conduziram um homem de meia-idade a uma delegacia por manter a jovem esposa em cárcere privado. A prisão aconteceu  após os vizinhos denunciarem que o indivíduo sempre que saía para o trabalho deixava a pobre mulher acorrentada no quarto da casa.

O delegado recebeu o algemado preso na sala de interrogatório e disse:

-  Bonito, né? Está gostando das mãos presas por algemas? Por que o senhor cometeu uma barbaridade dessa com sua esposa?

Mesmo sem justificar a brutalidade, o interrerogado então a contar a supreendente história, posteriormente confirmada pela própria encarcerada:

- Dotô, eu sou mestre de obra. Descobri que a muié tava me traino. Aí, pra ela não saí nem receber ninguém eu gradiei a casa toda.  Passei a trabaiá tranquilo pois deixava ela trancada dento de casa e levava as chave dos cadeado.  Mas os vizin continuaram a me alertar. Num era possível pois botei grade até nos balanci do banheiro. Resolvi outa incerta. E num é que a muié continuava me chifrando. Flagrei ela de quatro e com o traseiro encostado na grade da área de serviço. E o caboco do lado de fora, em pé, se apoiando nas grade e fazeno o serviço. Daí foi o jeito, dotô.


(imagem google)

terça-feira, 20 de março de 2012

574 - PASSARINHO NA GAIOLA (Pedra de Clarianã há dois anos)







     O agricultor varzealegrense Raimundo Alves de Menezes, conhecido por Mundin do Sapo, por muitos anos, com sua solidariedade, espontaneidade e sabedoria contribuiu para a felicidade do povo do sertão.

      Na década de 80, Mundin passeava por Fortaleza e foi ao BEC dos Peixinhos* receber seu aposento. Na época não havia preferência para os idosos e o agricultor se colocou no final de uma longa fila da agência bancária.

      Para passar o tempo e alegrar o desconfortável ambiente, o simpático agricultor passou a assoviar alguns dobrados, chamando a atenção e divertindo os que aguardavam o atendimento.

     Contudo, as duas únicas mulheres que atendiam vagarosamente no guichê do banco passaram a caçoar da atitude irreverente do velho matuto. No meio do deboche, uma das caixas falou alto:

     - Vamos arrumar uma gaiola para prender esse canário velho de cabeça branca.

      Ao perceber o tom de menosprezo das bancárias, Mundin respondeu imediatamente:

      - Percure uma gaiola grande que nóis três dento. Apois o cabelo do canário tá branco, mas o talo tá bem verdin.


* conhecida e movimentada agência do falecido Banco do Estado do Ceará localizada no centro de Fortaleza

Colaboração: Izabel Feitosa de Morais, Bebé de Zé de Ana

(imagem Google)

segunda-feira, 19 de março de 2012

573 - SANTO PADROEIRO (Republicado)






     Em fevereiro de 1991 cheguei a Macapá. Além de perceber imediatamente a simpatia e hospitalidade do povo amapaense também fui recebido por fortes chuvas. Gostei. Não poderia ser diferente, pois cearense do sertão adora tempo chuvoso e calor humano.

     Não demorei a descobrir que além de dar nome a uma majestosa fortaleza, construção símbolo do Amapá, São José era padroeiro de Macapá. Bela coincidência, pois o homem descrito nas escrituras sagradas como justo, obediente e trabalhador, também fora escolhido padroeiro do Ceará.

     Chegou março e no dia 19, como nos outros dias do mês, caiu muita água dos céus de Macapá. Fiquei esperançoso, pois esse dia serve de referência para os cearenses na previsão da estação invernosa. Chover no dia de São José é sinal de um ano de bom inverno e de muita fartura.

     Poucos dias depois liguei para o Ceará para falar com minha querida avó Maria Amélia. Ansioso, fui logo dizendo:

     - Vovó, este ano o inverno vai ser bom, caiu a maior chuva no dia de São José.

     Porém, para minha surpresa, vovó falou:

     - Meu , só se foi aí, pois aqui não caiu um pingo d’água. Faça uma prece para São José distribuir melhor essas chuvas com seus afilhados


domingo, 18 de março de 2012

572 - A PINTURA DE DELFONSO






O varzealegrense Ildefonso Vieira Lima tornou-se conhecido no centro-sul cearense por suas habilidades na difícil arte da pintura. Vários jovens passaram por seu modesto ateliê e aprenderam a manejar o pincel. Uns permanecem até hoje no ofício e outros, com os ensinamentos do mestre, galgaram profissões diversas ao longo da vida.

Além do incontestável desempenho artístico, o pintor Delfonso também marca pela original forma de contar histórias. De um jeito singelo, simples e ingênuo, narra situações do cotidiano sertanejo.

Outro dia, Delfonso contou que um morador do sítio Panelas, em Várzea Alegre, descia uma íngreme ladeira de bicicleta quando avistou uma pessoa com as calças arriadas e acocorado no meio de uma roça de milho. Ao ver a cena, o indiscreto ciclista gritou:

- Eeeei cagão!

O homem, flagrado na desconfortável situação, levantou as calças rapidamente e buscou localizar o impertinente no leito da estrada vicinal. Ao ver o rapaz que seguia distante, sem saber o que falar, improvisou:

- E tu andadô de bicicleta...

Colaboração: Ropson Frutuoso
(imagem Google)

sexta-feira, 16 de março de 2012

571 - O EPITÁFIO DO BOÊMIO




Após uma semana de intensos estudos no Rio de Janeiro, recebi o convite de um simpático vizinho, Carlão Medeiros, para conhecer alguns bares dos movimentados, bonitos e agradáveis bairros da zona sul.

Mesmo sem consumir bebida alcoólica há mais de dez anos, aceitei prontamente o convite. Afinal, para sentir a cidade, conhecer as pessoas e entender o verdadeiro espírito carioca, torna-se imprescindível passar por esses reveladores e bem frequentados ambientes.   

No périplo por Ipanema, caminhando por elegantes ruas, paramos inicialmente ao lado do balcão do lotado Popeye, na Visconde de Pirajá. Em seguida, sentamos no tradicional e histórico Garota de Ipanema, onde Tom Jobim e Vinicius de Moraes se inspiraram para compor umas das mais belas e conhecidas canções brasileiras.

No vizinho Leblon, conheci o Bracarense, Azeitona e Cia e o Belmonte. Por fim, estivemos no Chico e Alaíde, chamado de dissidência, pois montado por antigo garçom e cozinheira do Bracarense. Ali, fomos recebidos pelo simpático sócio Chico, cearense de Crateús, que, por sua paixão por corridas de cavalo, recentemente foi objeto de reportagem no Jornal O Globo sob o título “do Jegue ao Jóquei”.  

Em todos esses bares, enquanto provava deliciosos  petiscos e bebia água, sucos e refrigerantes, o meu hospitaleiro cicerone tomava gelados chopps e contava boas e divertidas histórias da boemia carioca. Em certo momento da conversa, Carlão, com seus mais de dois metros de altura, com o copo erguido após um grande gole, disse:   

- Eu já escolhi a frase pra ser escrita em minha lápide quando eu morrer: Aqui jaz Carlão Medeiros. Enfim parou de beber.


(imagem do sitio eletrônico do Bar Chico e Alaíde)

quarta-feira, 14 de março de 2012

570 - O MALABARISTA




No final da década de oitenta, os jovens varzealegrenses Alexandre Guedes, Ropson Frutuoso e os irmãos Samoel, Antônio Carlos e Gean Claude dividiram um pequeno apartamento no bairro Rodolfo Teófilo, em Fortaleza.

Os esforçados pais dos estudantes, desejando ampliar os horizontes e conhecimentos dos filhos, superaram dificuldades para manter a residência na capital alencarina. Mas  as limitações materiais não impediram que os rapazes tornassem o ambiente leve e descontraído, numa divertida  época que marcou fortemente suas vidas.

Certa noite, após um dia de intensa atividade escolar, Gean chegou ao apartamento e abriu a velha geladeira em busca de tempero para sua refeição noturna. Como de costume, encontrou na bandeja apenas um solitário ovo.

Enquanto o óleo fervia na frigideira, Gean, com habilidade, em frente ao fogão, fazia malabarismo com o ovo, jogando-o para cima com uma mão e aparando com  a outra. Sob o olhar dos demais moradores do apartamento, o  espirituoso estudante, narrando sua apresentação circense,  falava:

- E ele arrisca a própria janta....


(imagem Google)
Colaboração: Ropson Frutuoso

segunda-feira, 12 de março de 2012

569 - CEARENSE POLITICAMENTE CORRETO




Os tempos modernos exigem a busca do equilíbrio entre o politicamente correto e a liberdade de expressão. Assim, somos livres para pensar e dizer o que quisermos mas sem atingir, diminuir ou discriminar qualquer outra pessoa.

Na aplicação dessas novas regras exige-se a troca de algumas palavras. Negro mudou para afro-descendente e, deficiente, para portador de necessidades especiais.

Recentemente, meu querido tio Paulo Danúbio, em uma das suas constantes viagens à Várzea Alegre, conversou com minha mãe sobre essas polêmicas normas de comportamento. Se referindo à minha estatura, que não superou a média do cearense, o extrovertido professor disse:

- Terezinha, baixin agora é politicamente incorreto. Só posso chamar Flavin de deficiente vertical.

(imagem Google)

sexta-feira, 9 de março de 2012

568 - DIETA SEXUAL (Pedra de Clarianã há dois anos)





         O agricultor cearense Zuza Lemos sempre gozou de uma saúde de ferro. Mas certo dia, depois de um mal estar súbito, por insistência de sua esposa Zefinha, decidiu procurar o médico da cidade de Lavras da Mangabeira. O doutor, analisando os sintomas descritos, desconfiou que o paciente sofresse de algum problema cardíaco. No fim da consulta, o clínico geral recomendou:



        - Seu Zuza, enquanto eu não receber o resultado dos exames e fechar o diagnóstico o senhor não deve fazer extravagância. O caso merece cuidado. Durante esse período de trinta dias é bom que o senhor pare seu trabalho da roça e também não namore dona Zefinha.



        - Dotô, trinta dias eu não agüento não. – ponderou o agricultor.



        - Se o senhor desobedecer quem não agüenta é o seu coração. E o senhor morre. – finalizou o médico.



       Zefinha, que acompanhou toda consulta, deixou o hospital preocupada com a saúde do marido. Para garantir o resguardo, a esposa decidiu dormir em quarto separado e de porta trancada.



        Passados alguns dias, Zefinha acordou tarde da noite com o barulho de fortes pancadas da porta. Era seu marido Zuza que batia e gritava desesperado:



       - Zefinha, abra a porta. Eu quero morerrrrrrr.



Colaboração: Eliomar Gonçalves de Lemos Gomes
(imagem Google)

terça-feira, 6 de março de 2012

567 - DE CALÇAS NA MÃO





Toda manhã, em uma pacata cidade do nordeste brasileiro, uma senhora saía cedo para trabalhar, voltando somente no horário do almoço, horas depois. Porém, naquela segunda-feira, minutos após se despedir do marido e sair, o tempo mudou e começou repentinamente a neblinar. Para se proteger,  precisou retornar à sua casa para apanhar um guarda-chuva.

Ao abrir a porta da residência, a pobre senhora se deparou com uma surpreendente cena na sala. Seu aposentado esposo, de calças arriadas, agarrado com a jovem e faceira empregada.

Assustada, com as mãos na cabeça, a esposa gritou:

- Seu cachorro, que é que você me diz duma coisa dessa? O que é isso que tou veno?

O assustado marido, buscando vestir as calças rapidamente, respondeu:

- Muié, isso só pode ser um azar grande.


Colaboração: Antônio Alves da Costa Neto
(imagem Google)

segunda-feira, 5 de março de 2012

566 - DÍVIDA DE JOGO




Na década de oitenta, no sertão cearense, um modesto e bem intencionado lavrador mandou o filho estudar na cidade. No entanto, em vez de se dedicar aos livros e buscar novos horizontes profissionais, o jovem se viciou no baralho. Em pouco tempo acumulou várias dívidas nas casas de jogos.

Ao saber do inesperado desvio de rumo, o velho agricultor foi à cidade e trouxe o filho de volta para o sítio. Para quitar as várias contas trazidas das mesas de jogo, o jovem passou a trabalhar intensamente na preparação das terras secas para o plantio da próxima estação chuvosa.

Passados alguns dias do retorno, certa tarde, o rapaz arrancava tocos em uma roça com o pai e outros trabalhadores rurais. Em determinado instante, sofrendo com o ardente sol de setembro, o jovem interrompeu a árdua tarefa, descansou os braços sobre o cabo da chibanca*, olhou para o céu azul e disse:

- Oh meu Deus, quem terá sido o infeliz que inventou a roça?

O velho agricultor  parou os golpes de enxada, tomou um gole de água da cabaça, enxugou o suor do rosto com a manga da camisa e respondeu:

- Meu fii, quem inventou a roça foi um bicho chamado barai...


Antiga ferramenta para cavar buracos, parecida com a pá de corte, porém mais curta e mais estreita, também parecendo-se com a lâmina de uma picareta com um cabo reto na vertical com a pá.

Colaboração:  Antônio Alves da Costa Neto

(imagem Google)

domingo, 4 de março de 2012

565 - MULHER MELANCIA (Pedra de Clarianã há dois anos)





        Recentemente os canais de TV apresentaram para o público brasileiro várias beldades com apelidos de fruta, como a Mulher Melancia, Mulher Melão e Mulher Jaca. Cada uma dessas jovens traz nas belas formas do seu corpo uma qualidade que lembra o formato das frutas tropicais.

        Mas a comparação das mulheres com frutas sempre aconteceu, inclusive no criativo e irreverente sertão cearense.

        Anos atrás, em um sábado pela manhã, o agricultor mangabeirense José Tomaz Lemos, conhecido como Zuza Lemos, adquiriu na feira uma grande melancia. Ao chegar em casa, pôs a fruta sobre a mesa da cozinha e falou para a jovem e faceira empregada:

       - Bota essa melancia na geladeira.

       Quando a formosa mulher apanhou a melancia e saiu requebrando as belas ancas, o agricultou veio por trás e a agarrou. No mesmo momento, surgiu repentinamente Dona Zefinha e falou:

       - Zuza, que é isso?

       Imediatamente, o esperto agricultou, reconhecendo a voz de sua esposa Zefinha, apertou ainda mais a mulher e comentou:

       - Eu num disse que tu pesava mais que essa melancia? Ou muié teimosa!



Colaboração: Luís Onofre Gomes Cruz

sábado, 3 de março de 2012

564 - DESPEDIDA DO INATIVO




No início da década de noventa, eu trabalhava em uma pequena cidade quando um colega completou a idade para a merecida aposentadoria. Eu e outro amigo decidimos realizar uma festa de despedida para o honrado homem que passaria à inatividade. Sua face enrugada, seus poucos cabelos, todo seu corpo sofrido trazia a marca de décadas de intenso trabalho.

A reunião festiva transcorreu em um restaurante local com muita alegria e com a participação de seletos convidados. Algumas moças compareceram ao evento, e, uma delas, de apelido Babalu, chamou a nossa atenção pela graça e beleza. Desde o começo da noite eu e o colega mais jovem passamos a cortejar e disputar a bela garota. Uma hora ela dançava comigo, outra hora com o outro organizador da festa.

O velho homenageado não se interessou por nenhuma das mulheres presentes, cuidando apenas em receber os cumprimentos e distribuir simpatia a todos.  

Já na madrugada, a maioria dos convidados bateu em retirada. Restamos, apenas, eu, o outro colega patrocinador do encontro festivo, o homenageado e a dengosa Babalu. Como estávamos apenas em um carro, eu combinei com o amigo mais jovem:

- Vamo levar  primeiro o véi em casa. Depois a gente disputa quem fica com Babalu.

Ao chegar em frente à sua residência, o experiente colega, depois de cochilar bastante no trajeto, emocionado, agradeceu pela homenagem e se despediu. Contudo, antes de deixar o veículo, segurou o braço da faceira moça e disse:

- A jovem fica comigo.

A garota não hesitou, desceu de mãos dadas com o homenageado da noite e nem olhou para trás. Ela nem viu a cara de desapontamento dos dois bobos que desmereceram o velho concorrente.


(imagem Google)

sexta-feira, 2 de março de 2012

563 - SEGUNDA-FEIRA





Funcionando desde 1996, o Bar Pirata, na Praia de Iracema, em Fortaleza, mantem até hoje a fama de proporcionar a segunda-feira mais animada do mundo.  Os inúmeros frequentadores do famoso bar contrariam o costume geral de guardar o primeiro dia útil da semana para curar a ressaca e retomar as atividades laborais.

Em uma segunda-feira da década de oitenta, no começo da noite, em Várzea Alegre, pacata cidade do sertão cearense, João Geraldo Souza, após um agitado fim de semana, caminhava tranquilamente pela Praça do Abrigo quando decidiu cruzar o portão do Mercado Velho e ver o movimento no Bar Fina Flor. Ao chegar, observou o estabelecimento praticamente vazio. Encostados ao balcão, bebiam apenas alguns  amigos, entre os quais  Vanderley de Zé de Zuza, Fernando de Luiz Silvino e o proprietário do bar, de apelido Pingo.

Ao ver a turma na farra naquele dia, João Geraldo, com ar sério, censurou:

-  Mas, rapaz, vocês em plena segunda-feira bebendo...

Vanderley, com o copo de cerveja na mão, estranhando o comportamento do colega, convidou:

- O que é isso, John Gerald? Bora tomar uma com a gente?

Mesmo com o simpático convite, o recém chegado, ainda em pé, continuou a criticar:

- Beber no sábado, domingo, feriado, é bom. Mas todo dia...

João Geraldo fez uma ligeira pausa e, sob o olhar  perplexo de todos, completou:

- Beber todo dia é bom demaisssssssssssssss.


(imagem Google)
Colaboração: Varderley de Souza Freire