quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

980 - O CUNHADO DE PELÉ




Em 1989 eu cursava o quarto ano da graduação na centenária Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará. E, com as limitações financeiras da maioria dos estudantes, vivia em Fortaleza com simplicidade, usando o transporte público, pois sem recursos para maiores luxos.

Naquele ano, por conta da coincidência do nome e sobrenome, nos corredores da velha faculdade, surgiu uma história de que eu seria irmão de Flávia Cavalcante, miss Brasil que alcançou o almejado título representando o Ceará. Não bastasse o festejado prêmio de beleza, logo após se tornar conhecida com uma das mulheres mais lindas do país, minha xará e suposta irmã passou a namorar com o Rei do Futebol, o mundialmente reverenciado Pelé.

Pouco tempo depois, em  uma manhã ensolarada, após caminhar vários quarteirões desde o terminal de ônibus, ao me aproximar da faculdade, suado, eu fui abordado por um grupo de colegas na praça Clóvis Beviláqua. Um deles, mais indignado com minha situação, questionou:

- Flávio Cavalcante, eu não me conformo com sua liseira. Cunhado de Pelé e andando de busão…

Mesmo admirando a fantástica careira de  Pelé, mas querendo aproveitar a notoriedade do Atleta do Século, dando força ao boato e fingindo desapreço, eu retruquei:

- Sinceramente eu não gosto muito desse namoro não. Quando Pelé vai lá em casa é a maior frescura. Ninguém pode mais entrar. Não podem saber que ele tá lá…

(Imagem Google)

quarta-feira, 13 de abril de 2022

979 - UMA DOSE DE CHEIRO


A indústria da beleza cresceu consideravelmente nas últimas décadas. Em Várzea Alegre, pequena  e progressista cidade do cariri cearense, atualmente há vários estabelecimentos especializados na venda de perfumes, cosméticos e outros produtos destinados ao embelezamento das pessoas. 

 

Nos dias de hoje, em nossas casas, possuímos vários frascos com desodorantes, colônias e perfumes para o uso pessoal e continuo. Mas nem sempre foi assim. Há cerca de 50 anos, especialmente em noites de festas, depois de se banhar e vestir a melhor roupa, o cidadão se dirigia a uma bodega da cidade para comprar um retalho de perfume. 

            

Em Várzea Alegre, na Casa São Raimundo, tradicional estabelecimento comercial que funcionou ininterruptamente por mais de 73 anos, nos começos de noite, o cliente ingressava, pedindo: 

 

- Luiz Silvino, me venda um “cherin” de Ouvert* aí...

 

Assim, o jovem comerciante derramava uma pequena dose na tampa do recipiente do perfume e entregava ao cliente. Após espalhar o líquido pelo corpo, o satisfeito cliente deixava o local, caminhando pelas ruas próximas do centro da pacata cidade cearense. Exalando o forte e raro cheiro, o perfumado buscava impressionar, também pelo olfato, as moças que por ali passeavam.

 

 

* marca de perfume 

Imagem Google

Colaboração: Luiz Cavalcante (Luiz Silvino)

domingo, 10 de abril de 2022

978 – A COBRANÇA DE TOINHA




 

Nos últimos dias, com muita consternação, o município de Várzea Alegre, no sertão cearense, despediu-se da comerciante Antônia Lisboa de Lima, conhecida por todos como “Toinha Boágua”, proprietária de bar que atendeu com presteza sucessivas gerações de varzealegrenses. 

 

Impossível encontrar algum conterrâneo que não consumiu bebidas alcoólicas ou provou dos apetitosos pratos muito bem servidos pela concorrida cozinha do Bar de “Toinha Boágua”. 

 

Na década de 1980, com sua natural simpatia e infinita disposição, Toinha  comandava seu movimentado bar no Calçadão Antônio Alves Costa, setor comercial e boêmio da progressista cidade do sertão caririense.

 

Em uma tarde de sábado, próximo ao fim do mês, o bancário Luiz Bitu, fiel cliente do bar, tomava uma cerveja gelada e conversava com Toinha, quando a extrovertida proprietária pediu:

 

- Luiz, como você trabalha no BEC*, faça um favor pra mim.  Escreva uma carta prum guarda da SUCAM que almoçou uns dias por aqui e foi simbora sem pagar...

 

O atencioso bancário, em uma folha do caderno do bar, rapidamente redigiu uma carta de cobrança endereçada ao esquecido funcionário da hoje extinta Superintendência de Campanhas de Saúde Pública– SUCAM. 


Em seguida, Luiz indagou:

 

- Taí a carta, Toinha. Tá boa? O que eu faço agora? – Perguntou o inocente bancário que, sempre pagava as cervejas e os tira-gostos que consumia, ao receber o salário, no final de cada mês.

 

Imediatamente, a espirituosa Toinha respondeu:

 

- Luiz, tá boa demais. Agora aproveite e escreva uma cartinha dessas pra você também...

 

 

* BEC – Banco do Estado do Ceará, privatizado em 2005.

(imagem Google)

 

Colaboração: Luiz Bitu e Júlio Bastos Leandro