sexta-feira, 23 de julho de 2010

217 - ARROZ DOCE



          Prosseguindo em umas das muitas atividades desenvolvidas por seu avô materno, Antônio Ulisses por muitos anos comprou oiticica e algodão dos agricultores de Várzea Alegre. Com o fim da safra e o velho armazém abarrotado dos produtos agrícolas, o corretor revendia-os a Inácio Parente, próspero usineiro com negócios em Iguatu.

           Por conta desse intenso comércio, Antônio Ulisses realizava algumas viagens ao vizinho município onde encontrava Inácio Parente. Certa manhã, no início da década de oitenta, após tratar dos preços dos produtos agrícolas, o rico usineiro convidou o corretor varzealegrense para almoçar no recém inaugurado restaurante La Barranca, localizado em Iguatu em privilegiada margem do Rio Jaguaribe.

          Logo ao entrar Antônio Ulisses estranhou o refinado restaurante. Acostumado a comer em modestos cafés e em boxes do mercado público da sua Várzea Alegre, o corretor sentiu-se perdido e desconcertado no interior do chique estabelecimento. Naquele dia, os garçons serviam apenas as carnes diretamente na mesa. Para se abastecer dos outros pratos o cliente se dirigia a um farto buffet instalado no meio do restaurante.

         Sempre muito apetitoso, Antônio Ulisses foi até as guarnições do buffet e passou a se servir. Mesmo diante de enorme variedade de comida, encheu logo seu prato com arroz e feijão. Em seguida, o convidado passou direto para o balcão de sobremesas e, sem saber que era um doce, colocou porções de pudim de leite sobre a montanha do seu prato. Entranhando a atitude do corretor, o educado Inácio Parente, com discrição, alertou:

       - Meu caro Antônio Ulisses, esses doces aí a gente só come depois, como sobremesa. Você tá misturando pudim de leite com sua comida?

         Orgulhoso, o matuto corretor não admitiu o engano. Antes de sentar à mesa e ser forçado a comer todo o arroz e feijão com pudim, Antônio Ulisses falou:

        - Seu Inácio eu gosto assim mesmo. Vez por outra eu como um pudinzin junto com arroz.



Colaboração Irapuan Costa.
(Imagem Google)

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