domingo, 11 de agosto de 2013

783 - NA PORTA DO CÉU





O ferreiro cearense Francisco Basil de Oliveira, o conhecido Chico Basil, marcou pela sua maneira simples, inteligente e criativa de contar histórias. E o seu repertório era inesgotável. Recentemente, em Várzea Alegre, conversando com meu tio José Macedo de Santana, descobri mais uma das muitas narrativas do saudoso ferreiro.

Chico Basil dizia que, em 1974, ano marcado por um forte e incomum período de chuvas no semiárido nordestino, um cearense morreu e foi recebido por São Pedro na grande porta do Céu:

- Meu filho, seja bem vindo. Mas antes de entrar me diga do que você morreu.

Com o santo calmamente anotando tudo em um grande livro, o ainda assustado cearense falou:

- São Pedo, eu morri afogado. Uma chuva grande…

Um velhinho, acocorado em um canto, olhando em outra direção, disse:

- Ô Chuvinha besta!

O cearense continuou contando ao Porteiro do Céu:

- Foi muita água, São Pedo. Arrombou açude, derribou ponte, levou ceica e eu vim junto…

Do seu canto, o velhinho de barba branca continuou se metendo na conversa:

- Isso lá foi chuva. Tá mais pra uma neblina…

Depois de várias intromissões, o cearense reclamou:

- São Pedo, quem é esse vein tão mentiroso?

O Santo se aproximou e falou ao ouvido do novo morador do céu:

- Meu filho é melhor não discordar dele não. É Noé…

 
(Colaboração: José Macedo de Santana)


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