sexta-feira, 3 de abril de 2015

910 - OS MENINOS DA BARÃO


Maria Aldair Carvalho, natural de Várzea Alegre, reside em Fortaleza desde meados no século passado. Após morar em outros endereços da capital alencarina, fixou-se na Rua Barão de Aratanha, Bairro de Fátima, onde criou seus cinco filhos e instalou uma movimentada boutique, negociando com famosas marcas de roupas masculinas e femininas.

Na década de 1970, com outras crianças do bairro, seus filhos mais novos Francisco Otávio e Carvalho Neto brincavam em frente ao Prédio da Barão, quando Francisco Otávio, inadvertidamente, jogou uma pedra em direção a uma árvore, atingindo um veículo marca Chevrolet, modelo Opala, que passava pela rua.

A inocente pedrada provocou uma pequena e quase imperceptível avaria no luxuoso veículo. Mesmo assim, o descontrolado motorista parou imediatamente o carro e saiu correndo atrás do garoto. Assustado, o pequeno Francisco entrou rapidamente no prédio onde morava. O enfurecido motorista, logo atrás, subiu as escadas e bateu fortemente à porta de um dos apartamentos. Mal a comerciante Aldair atendeu, o ofegante motorista perguntou:

- Foi aí que entrou um menino que jogou uma pedra no meu carro?

Enquanto Francisco se escondia embaixo da cama, Aldair, com muita calma, fixou o olhar no furioso proprietário do carro, e, serenamente, respondeu:

- Não, meu senhor. Não tenho filho. Meu sonho é ter um...

Colaboração: Terezinha Costa Cavalcante

(Imagem Google)

quarta-feira, 1 de abril de 2015

909 - CABEÇADA DE JÚLIO (Republicado em homenagem ao amigo aniversariante)


`

Até início da década de 1980, no meio da Rua Duque de Caxias, local onde atualmente existe o Calçadão Antônio Alves Costa, havia um espaço bastante disputado pelos garotos da tranquila cidade de Várzea Alegre.

A pracinha estreita, com três bancos, e com um pedestal para televisão servia como improvisada quadra de futebol para os meninos das ruas próximas. Ali perto, na Casa Zé Augusto, de Alberto Siebra, funcionava uma agência de passagens das empresas Itapemirim e Rápido Crateús. Mas nem mesmo a aproximação dos ônibus ou o movimento dos demais veículos pelas ruas laterais à pracinha interrompia as partidas.

Certa tarde, em uma acirrada disputa pela bola, o robusto Antônio Ênio Meneses deu um escorão e jogou o franzino Julio Bastos Leandro contra a lateral de um ônibus que recolhia passageiros na agência de Alberto. O barulho foi enorme. Júlio ficou tonto e com um enorme galo na testa, pois bateu fortemente com a cabeça na lateral do veículo de transporte coletivo.

Imediatamente o motorista da empresa largou a direção do ônibus e se aproximou. Quando todos imaginavam que acudiria o pequeno garoto, perguntou:

- Quem é o pai desse minino cabeçudo que amassou o oinbus. Vai ter que pagar o prejuizo.

Colaboração: Júlio Bastos Leandro

(imagem Google)

sábado, 28 de março de 2015

908 - ENERGIA NOVA


Hoje fui ao Malocão do Sesi - Serviço Social da Indústria - pra apanhar um Kit de corrida e, conversando com amigos, recordei a última vez que estive naquele concorrido espaço para eventos de Macapá.

Já faz alguns anos, creio que mais de quinze. Eu acabara de parar de consumir bebida alcoólica e fui a um baile de Carnaval no Malocão. Ainda estranhava ficar sem beber em momentos festivos. Sentia falta do álcool e mais ainda de segurar um copo com a mão, esporte que pratiquei por algumas décadas.

Um amigo, vendo a minha dificuldade em entrar no clima festivo, sugeriu:

- Flávio, experimente tomar um energético que tu vai pular carnaval na maior animação.

Atendi a orientação do parceiro e comprei uma lata do tal energético. Despejei todo o conteúdo misturado ao gelo em um copo duplo. Lembrei imediatamente das bondosas doses de uísque e outras bebidas que tomava em carnavais e outros momentos festivos. Não sei se por conta da sede, da saudade ou da semelhança com as doses de antigamente, mas eu esvaziei o copo em dois rápidos goles.

Inicialmente, senti uma certa animação. Parecia que os velhos tempos voltariam. Mas a sensação de euforia logo mudou. Em vez da esperada energia passei a sentir uns arrepios e a suar frio. Aquele líquido não acelerou o ritmo das minhas pernas. Afetou outra parte do meu corpo, provocando um movimento estranho nas minhas tripas.

Senti que precisava rapidamente de um banheiro. Corri para os sanitários do Malocão, mas a forte concorrência pelo espaço não me permitiria evacuar naquela área. Havia gente demais no pequeno recinto.

Avisei a namorada que precisaria sair e fui às pressas para o apartamento em que morava, não muito distante do local da folia. Entrei rapidamente no carro e acelerei. Cheguei em poucos minutos. Subi a escada correndo, abri com agilidade a porta e corri para o banheiro social.

Todo o esforço foi em vão. Bastou que eu levantasse a tampa do vaso para que eu melasse toda a minha fantasia do carnaval. Minha energia momina escorreu pelas pernas. Desde esse dia aprendi que não adianta enfrentar uma dor de barriga, pois por mais que você se esforce, acelere o passo, acaba se borrando, especialmente se turbinado por um bom energético que lhe faz "criar asas".


(imagem Google)

quinta-feira, 26 de março de 2015

907 - QUEDA DO SKYLAB


Em 1979, a população mundial viveu semanas de pânico com a informação de que a estação espacial americana Skylab sairia de órbita e poderia cair em alguma parte habitada do planeta Terra.

Em Várzea Alegre, sertão cearense, o assunto Skylab tomou conta das rodas de conversa, superando outros temas preferidos como política, futebol e profecia de chuva.

Na Praça dos Correias, disputado ponto de encontro de amigos, um grupo conversava sobre o risco da estação espacial despencar em Várzea Alegre, quando o político e empresário José Odimar, com sua gagueira e forma acelerada de falar, interrompeu:

- Se, se esse tal de Skylab cair lá em casa, mata todo mundo. Só, só escapa Constância, minha filha...

O agricultor Luiz Cupira, impressionado e temeroso com iminente queda da estação orbital, com o cigarro de fumo no canto da boca, arregalou os olhos e indagou:

- Por causa de quê, seu Zé Odimar?

Com a irreverência habitual, o marcante varzealegrense respondeu:

- Porque minha filha Constância num para em casa, só vive na rua...

Colaboração: José Solário Macedo Crispin (Bibi)
(imagem Google)

quarta-feira, 25 de março de 2015

906 - NAMORO DE ANTIGAMENTE


         Na primeira metade do século passado os namoros atendiam a costumes bem diferentes da maioria dos relacionamentos de hoje. Não começava sem a autorização dos pais, e, antes do casamento, o máximo de intimidade que ocorria era um beijo furtado nos raros momentos em que os jovens conseguiam permanecer a sós.

       Naquela época, em Várzea Alegre, tradicional município do sertão cearense, o namoro também obedecia a rígidas e intransponíveis regras de respeito. Contudo, mesmo com todas essas duras normas de comportamento, o jovem e solteiro varzealegrense José Odimar Correia conseguiu manter ao mesmo tempo o namoro com duas moças da cidade. 

     Certa tarde, uma das namoradas de Zé Odimar, desconfiando que o seu pretendente mantinha outro relacionamento, com olhar sério e triste, cobrou:

         - Zé, seja sincero. Você tá namorando comigo é pra casar ou é pra quê mesmo?

      - O jovem Zé Odimar, com a espirituosidade que marcaria a sua vida, imediatamente respondeu:

         - É pra quê mesmo.



Colaboração: José Solário Macedo Crispin (Bibi)
Imagem Google

segunda-feira, 23 de março de 2015

905 - SUMIDOR DAS MELOSAS


Nas ermas estradas vicinais do sertão surgiram muitas histórias de trancoso, passagens fantásticas do repertório popular, uma delas a de um sumidouro existente na estrada das Melosas, aprazível sítio localizado às proximidades do município de Várzea Alegre.

O imaginário dos moradores da região atribuía todo desaparecimento de animal ou de pessoas a um buraco sem fundo existente no estreito caminho que dava acesso a outros sítios como Recanto, Rosário e Riacho do Meio dos Leós. Muita gente temia por ali passar em horários de pouco movimento e ser engolido pelo fenômeno que surgia esporadicamente.

Certa manhã de sábado da década de 1950, bem cedo, com o sol ainda tímido, o agricultor João Gonçalves de Oliveira, conhecido como João de Gregorinha, passava pela estrada em seu cavalo quando avistou o temido buraco se abrindo a sua frente. Assustado, João puxou repentinamente as rédeas, o animal se desequilibrou e o agricultor caiu desajeitadamente ao solo.

João de Gregorinha ainda se recuperava do susto, limpando-se e acalmando o cavalo, quando Anália, gentil moradora das Melosas, se aproximou rapidamente com uma caneca na mão e falou:

- Seu João, que que sucedeu? Tome um poquin d'água?

O conhecido varzealegrense, envergonhado com a queda e sem querer contar a fantasiosa razão do tombo, pôs o pés no estribo do cavalo e, retomando o percurso, resmungou:

- Carece não, Anália. Levei foi uma queda, num comi doce de leite não...

(imagem Google)


Colaboração: Antônio Alves da Costa Neto