Em 1984 Antônio Ulisses se mudou com toda família para o sítio Santa Rosa, área rural próxima à sede do município de Várzea Alegre. Mesmo faltando experiência nos novos ramos, decidiu investir em equipamentos agrícolas e pecuários.
Assim, procurou o seu primo e amigo Chico Piau, desejoso de adquirir um cavalo para a lida diária do sítio e também destinado ao passeio de seus filhos, principalmente o primogênito Antônio Costa. Sem perder a oportunidade do negócio, Chico logo lhe ofereceu um pangaré, não economizando elogios ao cavalo:
- Primo, tenho um novo, na segunda muda dos dente, bom de sela, sem mocas*, e ainda tem sangue do cavalo de raça do Doutor Mário Leal.
Antônio Ulisses não pestenajou. Impressionado com as qualidades oferecidas, mesmo sem ver o animal, fechou logo o negócio.
Porém, infelizmente, em poucos dias verificou que o cavalo era de difícil trato. Para selá-lo, Cabral, Zé do Crato e outros antigos moradores do sítio precisavam madrugar na roça, e, mesmo usando um saco de milho, não conseguiam atrair o velhaco animal.
Já desconfiado com a aquisição, Antônio Ulisses pediu ao seu amigo Francisco Ferreira Lima que examinasse o quadrúpede, que, encabrestado, bufava debaixo do pé de Juazeiro. Experiente agricultor, Fransquin Crente abriu a boca do animal e foi logo dizendo:
- Cumpade, Dom Pedo deu o grito do Ipiranga montado nesse cavalo. Esse bicho é véi demais!
Na primeira oportunidade em que se encontrou com Chico Piau, Antônio Ulisses, decepcionado, reclamou:
- Mas Chico, rapaz, você ainda meu parente, pegar e me vender uma cavalo véi daquele.
A resposta do esperto negociante foi imediata:
- Antônio Ulisses, deixa de ser besta. Bom é véi que tem juízo, experiência, e num tem perigo de derrubar teus minino.
* vocábulo varzealegrense que significa vício, mau hábito.
Colaboração: Antônio Alves da Costa Neto
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