Após alguns dias matando a saudade da querida terra onde
nasci, cruzei novamente o sertão nordestino em viagem de volta para casa. Sofrendo
em decorrência da longa seca, com o tom cinzento da vegetação monopolizando a
paisagem, o povo cearense mostra sua originalidade e seu instinto de
sobrevivência. Pelas estradas do sertão central encontrei algumas motopipas, pequenos veículos de duas
rodas carregando vários recipientes com água, uma versão moderna dos antigos
jumentos e suas ancoretas.
Contemplei esse bucólico cenário ouvindo a potente voz
e a ritmada sanfona do grande Luiz Gonzaga. Ninguém descreveu melhor e com mais
precisão a vida e o espírito sertanejo. Com bom humor, o pernambucano de Exu
revelou passagens do cotidiano do povo simples da região.
No meio do percurso, adorei escutar mais uma vez a divertida
história de Samarica Parteira, escrita
por Zé Dantas e gravada por Gonzagão em
1974. A interpretação maravilhosa descreve a ida do peão, muntado em uma bestinha melada, para buscar a
parteira pois a esposa do Capitao
Barbino sofria com "dô de minino".
Gonzaga ajuda na sonoplastia, imita sons como o forte
ranger das cancelas e o barulho dos sapos na lagoa. Na saudação inicial, o velho sanfoneiro já
apresenta o divertido tom da prosa, tratando da valentia e da sofrida beleza do
sertanejo:
"- Oi sertão!
- Sertão d’Capitão
Barbino! Sertão dos caba valente...
- E dos caba
frouxo também...
- sertão das muié
bonita...
- e dos caba
fei também..."
(imagem
Google)
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