domingo, 28 de março de 2010

139 - PREGUIÇA EM FAMÍLIA




        Certo domingo, Mané assistia a uma partida de futebol na TV e escutou um barulho no telhado. Sem coragem para levantar da poltrona, olhou para o seu filho e falou:

        - Manezin, veja lá fora se tá chovendo.

       O filho, que herdara o ânimo do pai, deitado no outro sofá, sugeriu:

       - Pai, Né melhor o senhor chamar o cachorro Joli pra ver se ele tá molhado ?



Colaboração: Klébia Fiúza

quinta-feira, 25 de março de 2010

138 - PRESSÃO ALTA





        Francisco Correia Lima, conhecido como Hamilton, administrou a pacata Várzea Alegre por dois mandatos em meados do século passado. Na época, como os profissionais médicos eram ainda mais insuficientes que hoje, o político, formado em Farmácia, também consultava os habitantes da região.

        Sem rodeios, o farmacêutico tratava e diagnosticava os problemas dos seus pacientes com uma excessiva sinceridade, o que não abalava a sua enorme popularidade.

        Certo dia, em sua movimenta Farmácia Popular, na antiga Rua Major Joaquim Alves, o líder político consultou o agricultor Joaquim Saldanha, morador das Varas, sítio localizado a poucos quilômetros da sede do Município. Hamilton fez algumas perguntas e usou o medidor de pressão e o estetoscópio para os exames. Terminada a verificação, o farmacêutico nada disse, provocando a imediata pergunta do angustiado paciente:

       - Dotô Hamilton, o que eu tenho? Como tá minha pressão?

        - Saia de perto de mim. – determinou o farmacêutico.

        - Vixe, dotô. Por quê? É contagioso?

        - Não. É para você não cair em cima de mim – finalizou secamente o Doutor Hamilton.



Colaboração: Raimundo de Souzão das Varas

terça-feira, 23 de março de 2010

137 - PERU DE PÁSCOA




          Estamos na época do coelho de páscoa e dos ovos de chocolates, mas em outro período um diferente animal protagonizou uma intrigante história. Vivia-se os últimos dias de 1995 e a família do Jardim das Oliveiras em Fortaleza se preparava para a aguardada ceia de Natal. Todos sentados à mesa observavam o peru girar dentro do recém adquirido forno de microondas. Arroz, batata, salada e outros acompanhantes esperavam o prato principal.

         Aquela festejada noite também marcava a inauguração do comentado equipamento doméstico. Nem milho de pipoca havia estourado no moderno forno.

        Depois de alguns minutos assistindo ao peru girar, Hudson, com fome, gritou:

         - Mãe, o peru tá apitando. Nun já tá bom não?

         - Antoi, tira o peru aí, tou levando as cocas – pediu dona Fransquinha ao marido.

          Com a delicadeza de um trator de esteira, o já faminto Antônio de Leó mirou e apertou no botão vermelho para destravar a porta do forno. Amassou uma, duas, três vezes e nada de abrir. Na verdade, o biloto* afundou e não voltou. O suspense tomou conta do ambiente, pois não havia outra forma de abrir e resgatar o principal prato da ceia. Jayra, a filha caçula, alertou.

         - Pai, o senhor vai furar o forno com essa faca de mesa.

          Como o comentário da filha, Antônio parou de forçar as beiradas do já antipatizado equipamento. Não havia saída. O forno se trancou feito cofre e não havia como retirar o peru de dentro. Dona Fransquinha fritou meia dúzia de ovos para a família. Todos cearam apenas sentindo o cheiro do peru.

          O animal permaneceu trancado no forno durante todo o fim de semana prolongado. Somente na segunda-feira Antônio levou o forno para a assistência técnica. Ao voltar com o equipamento consertado, foi recebido na porta pelo filho Hudson que perguntou:

         - Pai, e cadê o peru?

        - Deixei na assistência. Eu lá quero aquele bicho teimoso aqui em casa.



*sinônimo cearense para botão, interruptor.

Colaboração: Hudson Batista Rolim

domingo, 21 de março de 2010

136 - SAFRA DE CACHORRO




        Temos em nossa família, especialmente no tronco dos Batistas, alguns membros que apresentam certo desligamento, uma indisfarçável leseira. Mas essa característica não significa falta de solidariedade, inteligência, retidão e outras inúmeras qualidades. Era o caso de muitos dos nossos parentes, notadamente do saudoso comerciante e agricultor José Batista de Freitas, conhecido como Jocel.

       Certo dia, na década de setenta, Jocel contratou Pedro Lourival para dirigir seu caminhão e buscar umas cargas de rapaduras no engenho do Mocotó, sítio localizado a cerca de dez quilômetros de Várzea Alegre.

     Já chegando ao destino, um cachorro vira-lata, desacostumado com o trânsito daquela pouco movimentada estrada vicinal, cruzou repentinamente na frente do caminhão. O experiente motorista Pedro Lourival freou bruscamente o velho veículo e ainda tentou desviar do animal. Contudo o violento choque foi inevitável e o cachorro não conseguiu completar os seus latidos tradicionais de dor:

      - Cain, cain, cain...

     Ainda nervoso com o susto, com gotas de suor aparecendo na testa, o motorista olha para o lado e escuta Jocel dizer calmamente:

      - Eita, mas tem....

      - E é Jocel, tem muito cachorro doido por aqui?

      - Nann, é manga. Os pés tão tudo carregado. Vai ser uma safra das grande.



Colaboração: Hudson Batista Rolim, neto de Jocel

(imagem Google)

sexta-feira, 19 de março de 2010

135 - SANTO PADROEIRO




        Em fevereiro de 1991 cheguei a Macapá. Além de perceber imediatamente a simpatia e hospitalidade do povo amapaense também fui recebido por fortes chuvas. Gostei. Não poderia ser diferente, pois cearense do sertão adora tempo chuvoso e calor humano.

        Não demorei a descobrir que além de dar nome a uma majestosa fortaleza, construção símbolo do Amapá, São José era padroeiro de Macapá. Bela coincidência, pois o homem descrito nas escrituras sagradas como justo, obediente e trabalhador, também fora escolhido padroeiro do Ceará.

        Chegou março e no dia 19, como nos outros dias do mês, caiu muita água dos céus de Macapá. Fiquei esperançoso, pois esse dia serve de referência para os cearenses na previsão da estação invernosa. Chover no dia de São José é sinal de um ano de bom inverno e de muita fartura.

         Poucos dias depois liguei para o Ceará para falar com minha querida avó Maria Amélia. Ansioso, fui logo dizendo:

         - Vovó, este ano o inverno vai ser bom, caiu a maior chuva no dia de São José.

         Porém, para minha surpresa, vovó falou:

        - Meu , só se foi aí, pois aqui não caiu um pingo d’água. Faça uma prece para São José distribuir melhor essas chuvas com seus afilhados

quarta-feira, 17 de março de 2010

134 - PASSARINHO NA GAIOLA





       O agricultor varzealegrense Raimundo Alves de Menezes, conhecido por Mundin do Sapo, por muitos anos, com sua solidariedade, espontaneidade e sabedoria contribuiu para a felicidade do povo do sertão.

        Na década de 80, Mundin passeava por Fortaleza e foi ao BEC dos peixinhos* receber seu aposento. Na época não havia preferência para os idosos e o agricultor se colocou no final de uma longa fila da agência bancária.

       Para passar o tempo e alegrar o desconfortável ambiente, o simpático agricultor passou a assoviar alguns dobrados, chamando a atenção e divertindo os que aguardavam o atendimento.

       Contudo, as duas únicas mulheres que atendiam vagarosamente no guichê do banco passaram a caçoar da atitude irreverente do velho matuto. No meio do deboche, uma das caixas falou alto:

        - Vamos arrumar uma gaiola para prender esse canário velho de cabeça branca.

       Ao perceber o tom de menosprezo das bancárias, Mundin respondeu imediatamente:

        - Percure uma gaiola grande que dê nóis três dento. Apois o cabelo do canário branco, mas o talo tá bem verdin.



* conhecida e movimentada agência do falecido Banco do Estado do Ceará localizada no centro de Fortaleza

Colaboração: Izabel Feitosa de Morais, Bebé de Zé de Ana

(imagem Google)

segunda-feira, 15 de março de 2010

133 - AS LONGAS RETAS DA BR



        Noutra ocasião, numa viagem pra Fortaleza, no ônibus da empresa Vale do Jaguaribe, seguiam Antônio Ulisses e Gilson Primo.

       Logo após o embarque que na época ocorria na Farmácia de Zé de Ginu, onde hoje funciona a bombonière de propriedade de Samuel Quereno de Oliveira ,os dois foram debulhando conversa e falando da vida alheia. Depois de umas amoladas tesouradas, Gilson disse:

         — Antônio Ulisses, vamos deixar os outros do lado, tá na hora de começar a falar de Irapuan.

         No que o companheiro de viagem acrescentou:

        — Agora não, Gilson, tenha paciência, pra tratar de Irapuan nós temos que esperar as longas retas da BR 116.


* extraído do Livro Conte Essa, Conte Aquela – Histórias de Antônio Ulisses.

Ilustração: Edricy França

domingo, 14 de março de 2010

132 - A TROCA DO PASTEL



            Um bêbado chegou a um boteco e pediu um pastel. Ao ser atendido, pensou melhor e falou para o balconista:

            - Troque esse pastel por uma dose de cachaça.

           Prontamente a cachaça foi servida e, o pastel, colocado de volta na estufa. Logo após tomar de um só gole a cachaça o bêbado se despediu de todos e foi deixando o lugar. Porém, ao vê-lo se retirar, o balconista alertou:

            - Ei, Ei, e a cachaça? Falta pagar, rapaz.

            - Eu troquei pelo pastel.

            - E o pastel? - Indagou o funcionário do bar.

            - O pastel tá aí, num tá vendo? – disse o bêbado, apontando para a estufa.

           O Balconista, ainda confuso, apanhou a flanela do ombro, limpou uma das poucas mesas do bar, coçou a cabeça e com um gesto tímido se despediu do freguês.





Colaboração: Carlos Leandro da Silva, Carlin de Dalva.

(imagem Google)

sexta-feira, 12 de março de 2010

131 - A TENTAÇÃO DE ZUZA






            O agricultor Zuza Lemos adorava sua esposa Zefinha. Mas, como muitos, uma mulher bonita sempre despertou sua indiscreta atenção.

            Em um mês de janeiro da década de setenta, na festa de São Sebastião, enquanto a esposa Zefinha assistia à novena na Igreja, o marido resolveu passear pelo concorrido arraial. Naquele período festivo, encontrou muitos amigos e conterrâneos que visitavam a pequena vila cearense.

           Entre os visitantes, Zuza Lemos encontrou uma jovem e bonita mulher. Aproveitando-se do momento, o agricultor, com sua simpatia, iniciou uma prosa com a bela fêmea segurando-a carinhosamente pelo braço.

           No meio da descontraída conversa, o mangabeirense foi surpreendido pela chegada da sua esposa Zefinha:

          -  Zuza, que chamego é esse?

         O agricultor, aproveitando sua mão ainda no braço da mulher, imediatamente falou para a visitante:

         - Minha fia, você não tá mais com febre não. Pode até tomar banho se quiser.






Colaboração: Maria Tereza, filha de Lêda Lemos e neta de Quinco Lemos

segunda-feira, 8 de março de 2010

130 - O ROLAMENTO DO CAMINHÃO







        No final da safra, Antônio Ulisses providenciava o transporte dos produtos agrícolas que comprava para a vizinha cidade de Iguatu, onde os revendia ao usineiro Inácio Parente.

       Em uma dessas viagens, contratou o caminhão de propriedade de Chico Firino, e juntos seguiram rumo à cidade banhada pelo Rio Jaguaribe. No meio do caminho, o motorista e proprietário do caminhão começou a escutar um barulho estranho. Estacionou o caminhão, bateu nas rodas, e verificou outras partes do veículo. Não acreditava, Chico Firino, que fosse, como parecia, o ronco dos rolamentos, pois havia trocado tais peças recentemente.

        No prosseguimento da viagem, já no interior da cabina do caminhão, voltou a escutar o estranho ruído. Preocupado, o motorista comentou com Antônio Ulisses acerca do defeito, pois estava bastante incomodado com aquele permanente barulho.

        Já nas proximidades de Iguatu, quando temia uma roda saltar antes de chegar ao destino, Chico Firino percebeu que o ruído não vinha do seu velho mas conservado caminhão. Para tranqüilidade do camioneiro, pois já havia decidido levar o carro à oficina, a barulheira ouvida era provocada pelo conhecido costume de ranger dos dentes de Antônio Ulisses.



*Extraído do livro “Conte essa, Conte Aquela – Histórias de Antônio Ulisses.

sábado, 6 de março de 2010

129 - DIETA SEXUAL





         O agricultor cearense Zuza Lemos sempre gozou de uma saúde de ferro. Mas certo dia, depois de um mal estar súbito, por insistência de sua esposa Zefinha, decidiu procurar o médico da cidade de Lavras da Mangabeira. O doutor, analisando os sintomas descritos, desconfiou que o paciente sofresse de algum problema cardíaco. No fim da consulta, o clínico geral recomendou:



        - Seu Zuza, enquanto eu não receber o resultado dos exames e fechar o diagnóstico o senhor não deve fazer extravagância. O caso merece cuidado. Durante esse período de trinta dias é bom que o senhor pare seu trabalho da roça e também não namore dona Zefinha.



        - Dotô, trinta dias eu não agüento não. – ponderou o agricultor.



        - Se o senhor desobedecer quem não agüenta é o seu coração. E o senhor morre. – finalizou o médico.



       Zefinha, que acompanhou toda consulta, deixou o hospital preocupada com a saúde do marido. Para garantir o resguardo, a esposa decidiu dormir em quarto separado e de porta trancada.



        Passados alguns dias, Zefinha acordou tarde da noite com o barulho de fortes pancadas da porta. Era seu marido Zuza que batia e gritava desesperado:



       - Zefinha, abra a porta. Eu quero morerrrrrrr.



Colaboração: Eliomar Gonçalves de Lemos Gomes
(imagem Google)

quinta-feira, 4 de março de 2010

128 - CUIDADO COM O SAL





         O mangabeirense José Tomaz Lemos faleceu em Fortaleza, no dia 2 de outubro de 2000, a poucos dias de completar 96 anos. No velório, entre forte emoção e intenso sentimento de perda, o educador Francisco Mangueira Lemos, conhecido como Francimar de Derinha, falou:

         - Um fato inédito está acontecendo agora: pessoas chorando em volta de tio Zuza.

         O lúcido comentário definiu com precisão a vida do querido agricultor, que em toda sua existência cuidou em plantar e colher alegria.

         Certa manhã de sábado, no final da década de 70, Zuza foi até o café de Maria Rodrigues, localizado em frente da praça da igreja de São Sebastião, no pequeno e aprazível distrito de São José. Ao chegar, sentou-se em volta de uma mesa com vários amigos e pediu à proprietária do estabelecimento dois ovos cozidos.

         Nessa época, no sertão cearense, também já se falava dos efeitos nocivos do sal para a pressão arterial, razão que certamente motivou a pergunta da dona do café:

        - Ei, Zuza, você usa sal nos ovos?

       Sem pestanejar, o arguto e irreverente agricultor respondeu:

        - Não. Uso talco.





Colaboração: Eliomar Gonçalves de Lemos Gomes
(imagem Google)

quarta-feira, 3 de março de 2010

127 - CUIDADO AO BEBER




          Em que pesem as mudanças legislativas e o incremento na fiscalização com os famosos “bafômetros”, na grande maioria das cidades brasileiras as mortes e as graves lesões no trânsito não diminuíram satisfatoriamente. A cada dia, violentos acidentes ocorrem em nossas vias, principalmente em decorrência do uso de bebida alcoólica pelo condutor dos veículos.
 
           Recentemente, assustada com os prejuízos pessoais causados pelos acidentes de trânsito, uma organização não governamental do interior do Ceará decidiu realizar uma chocante e polêmica campanha publicitária de conscientização. Entre as várias ações, uma resultou na imediata diminuição dos casos provocados pela danosa mistura de álcool com direção. Em blitz realizadas em lugares e dias estratégicos, os motoristas da cidade receberam da “ONG” um panfleto com apenas duas frases em letras garrafais:
 
          “SE FOR DIRIGIR, NÃO BEBA.
 
          SE FOR BEBER, ÓI O BOGA.*”





*Segundo o moderno dicionário Cearês, a tradução da frase “ói o boga” é “cuidado com o ânus”.

Colaboração: Ricardo Morais (Ricardo Piau)

terça-feira, 2 de março de 2010

126 - MULHER MELANCIA





        Recentemente os canais de TV apresentaram para o público brasileiro várias beldades com apelidos de fruta, como a Mulher Melancia, Mulher Melão e Mulher Jaca. Cada uma dessas jovens traz nas belas formas do seu corpo uma qualidade que lembra o formato das frutas tropicais.

        Mas a comparação das mulheres com frutas sempre aconteceu, inclusive no criativo e irreverente sertão cearense.

        Anos atrás, em um sábado pela manhã, o agricultor mangabeirense José Tomaz Lemos, conhecido como Zuza Lemos, adquiriu na feira uma grande melancia. Ao chegar em casa, pôs a fruta sobre a mesa da cozinha e falou para a jovem e faceira empregada:

       - Bota essa melancia na geladeira.

       Quando a formosa mulher apanhou a melancia e saiu requebrando as belas ancas, o agricultou veio por trás e a agarrou. No mesmo momento, surgiu repentinamente Dona Zefinha e falou:

       - Zuza, que é isso?

       Imediatamente, o esperto agricultou, reconhecendo a voz de sua esposa Zefinha, apertou ainda mais a mulher e comentou:

       - Eu num disse que tu pesava mais que essa melancia? Ou muié teimosa!



Colaboração: Luís Onofre Gomes Cruz

domingo, 28 de fevereiro de 2010

125 - OVO COZIDO





           Após permanecer várias décadas na árdua atividade agropecuária, José Tomaz Lemos, de apelido Zuza, resolveu estabelecer uma pequena bodega em sua casa, na sede da sossegada vila de Mangabeira.

          Na trabalhosa atividade comercial, Zuza Lemos manteve a mesma desenvoltura, bom humor e espontaneidade que marcaram sua vida.

         Certa manhã, uma mulher chegou ao seu estabelecimento e pediu um quilo de “feijão de corda*”. Quando o comerciante terminava de embrulhar o pedido, a desconfiada cliente perguntou:

           - Seu Zuza, esse feijão é bom mesmo?

           - Bom demais! Cozinha que só ovo. – Respondeu o velho bodegueiro.

           No dia seguinte, logo cedo, a cliente, “soltando fogo pelas ventas”, voltou ao estabelecimento:

           - Seu Zuza, o senhor me engabelou. Disse que o feijão era bom, que cozinhava igual ovo. Esse feijão num presta não. Passou duas horas no fogo e continuou duro que nem pedra.

           O comerciante, pendurando uma corda de cebolas, de imediato replicou:

            - Oxe, e ovo não é assim não? Quanto mais cozinha mais fica duro.



* nome popular do Vigna unguiculata, feijão predominante no interior nordestino

Colaboradora: Eliomar Gonçalves de Lemos Gomes.

(imagem Google)

sábado, 27 de fevereiro de 2010

124 - ZUZA LEMOS





            O distrito de São José pertence ao Município de Lavras da Mangabeira, mas em razão da proximidade também possui estreitas relações com a vizinha cidade de Várzea Alegre.

           Naquele pacato e acolhedor distrito lavrense o agricultor José Tomaz de Lemos viveu por mais de noventa anos. Zuza Lemos, como popularmente conhecido, homem honesto e trabalhador do sertão cearense, marcou especialmente pelo seu humor refinado e sua imediata e inteligente capacidade de reagir a uma situação inesperada.

           Certa manhã, logo ao acordar, Zuza Lemos abria a porta da sua casa quando “deu de cara” com uma jovem e saudável mulher com a mão direita estendida:

          - Seu Zuza, me dê uma esmola. Hoje ainda não comi nadia.

          O agricultor, ainda abrindo a porta, respondeu:

          - Também não deu tempo. O dia começou agoria.



Colaboradoras: Luiza Gonçalves de Lemos Galindo (Luzinete) e Eliomar Gonçalves de Lemos Gomes.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

123 - A ARTE DA GUERRA





           Há mais de dois mil e quatrocentos anos o chinês Sun Tzu escreveu A Arte da Guerra. Em várias épocas, seus ensinamentos de estratégias bélicas serviram para orientar batalhas históricas, como as lideradas por Napoleão, Hitler e Mao Tsé Tung. Mas hoje, outras áreas do conhecimento, inclusive a economia e a administração de empresas, utilizam os ensinamentos da obra milenar.

            Em Várzea Alegre, na região centro-sul cearense, na década de sessenta, Antônio DuVirgem se tornou conhecido por sua perigosa mania de atear fogo em tudo que aparecia a sua frente. Certo dia, no sítio Sanharol, um grande cachorro atacou ferozmente e mordeu a perna do incendiário.

           Decorridas algumas semanas, Antônio DuVirgem se deparou novamente com o feroz animal. Mas dessa vez o cão descansava de barriga para cima na sombra de um pé de cajarana. Antônio não se utilizou do fogo. Pisando macio, apanhou uma “banda de tijolo” e atirou com força contra seu desafeto. O animal saiu em desabalada carreira, mancando e latindo: cain, cain, cain...

          Antônio DuVirgem, com sua distorcida lucidez, encarnando uma das estratégias de guerra do grande militar chinês Sun Tzu, resmungou:

           - “Bandala Fomenga”!!!! Quem tem inimigo não dorme.





Colaboradores: César Júnior e Francisco de Assis(Tico de Mané de Vó).

domingo, 21 de fevereiro de 2010

122 - BLOG DE ANIVERSÁRIO


          
           É momento de soprar velinha e dividir o bolo com todos os inúmeros leitores, colaboradores e comentaristas.

           Hoje, 21 de fevereiro, Pedra de Clarianã completa um ano de existência. Nesses 365 dias apresentou 121 postagens, foi visitado 11568 vezes e recebeu 247 comentários. Criado para contar histórias leves e descontraídas, o blog mantém o compromisso e reafirma o desejo de continuar divertindo os leitores com histórias pitorescas do nosso povo.


sábado, 20 de fevereiro de 2010

121 - OVERDOSE DE CAMISINHA




          Muito embora as doenças sexualmente transmissíveis existam desde o início dos tempos, o uso dos preservativos só se disseminou no fim do século passado. Com a morte de milhares de pessoas provocada pela “Aids”, o mundo despertou para a necessidade do uso da “camisinha”.

         Os governos mantêm campanhas permanentes de conscientização sobre a importância do uso dos preservativos. E durante os festejos do carnaval ocorre um incremento na distribuição gratuita.

          Em Várzea Alegre, na década de 90, a folia se concentrava principalmente no Calçadão Antônio Costa. O próprio secretário de saúde municipal, doutor José Iran Costa, bebendo cerveja no bar de Dinha e Saraiva, se encarregava de distribuir os preservativos aos empolgados foliões.

          Já na madrugada da quarta-feira de cinzas, doutor Iran ofereceu uma tira de camisinhas a Darlan Fiúza. O empolgado carnavalesco, “pra lá de Bagdá”, reclamou:

           - Doutor Iran, não dá para o senhor começar a distribuir muié, não? Já tou com os bolsos cheios de camisinha e ainda não comi ninguém.


Colaboração: Klébia Fiúza

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

120 - RETIRO MOMINO





          Na década de oitenta, o Clube Recreativo de Várzea Alegre – CREVA – promovia quatro bailes de carnavais. A folia, iniciada nos desfiles matutinos de irreverentes blocos e organizadas escolas de samba, culminava com os concorridos eventos noturnos do tradicional clube da cidade cearense.

         Contudo, no ano de 1987, o jovem bancário Júlio Bastos, após certa resistência, aceitou o convite de Dalva e foi passar os feriados mominos em Fortaleza. Na verdade, Dalva pretendia afastar seu querido irmão dos ambientes festivos. Júlio andava exagerando no consumo de bebida alcoólica, preocupando bastante sua família.

          Desse modo, para tranqüilidade dos seus pais, naquele ano, o bancário fugiu da agitação, curtindo programas alternativos e saudáveis na capital alencarina. Porém, como trabalharia a partir do meio-dia da quarta-feira de cinzas, na noite de terça viajou de volta.

          Às quatro horas da madrugada chegou a Várzea Alegre. Já em casa, se preparando para dormir, Júlio escutou os acordes dos Originais do Frevo vindos do CREVA: taran, taran, taran, taranranranran. Foi o suficiente para despertar a vontade de ver os últimos momentos do baile final daquele ano. Contra a vontade da cuidadosa Delmir, Júlio falou:

         - Mãe, se preocupe não, tá no finzin. Vou só dar uma espiadinha.

         Na entrada do clube se deparou com sua namorada agarrada a outro rapaz. A cena aguçou ainda mais a vontade de tomar um gole. Não bastasse, a orquestra tocava “oh, quarta-feira ingrata, chegou tão depressa...” O folião retardatário rumou direto para o bar e pediu:

        - Zé de Zuza, uma dose dupla pra mim.

        Após o primeiro gole seguiram muitos outros. Acabou o baile, findou o carnaval, e Júlio não retornou para casa. Raiou o dia pelos bares da cidade. Às onze da manhã, foi visto descalço e sem camisa pulando em cima do caput de uma velha rural. Naquela quarta-feira de cinzas não foi trabalhar.

        Depois de alguns anos Júlio felizmente conseguiu vencer as armadilhas do álcool. Neste Carnaval, em uma mesa de animado botequim, o bancário, com brilho nos olhos, falou para os amigos:

          - Faz dezoito festas de agosto* que eu não bebo.




* período festivo do mês de agosto em homenagem ao padroeiro de Várzea Alegre, São Raimundo Nonato.



Colaboração: Júlio Bastos