Sou o pior contador de histórias e o menos espirituoso da família. Por isso decidi apenas registrar passagens que escuto. Assim, me escondo por trás das palavras. Já meus tios maternos sempre possuíram uma apurada veia para o humor. Como bons cearenses, nunca escolheram ocasião para fazer graça nem lugar para descontrair o ambiente.
Certo dia, após a perda de um ente querido, minha avó Maria Amélia, com sua fortaleza interior, reuniu os familiares em sua casa para oração a Deus e palavras de conforto. Com sabedoria, lembrou do caráter passageiro da vida terrena, ressaltando que após a morte temos a certeza da paz eterna.
Meu tio Francisco da Chagas, o Chico Neném, encostado em um canto da sala, ouviu atentamente as sábias e confortadoras palavras. Mas, na saída, ainda abalado, tirou o polegar direito da boca e, com sua voz grave, retrucou:
- Mãe, me perdoe, eu não sei se tem paz eterna depois da morte, mas pá e terra eu garanto que tem.
Colaboração: Rosa Amélia Costa Macedo
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