terça-feira, 15 de março de 2016

921 - CAROÇO DE MILHO

-->


     Zé Lins, conhecido vendedor de limão, morou por muitos anos de anos no sítio Baixio de Antônio Primo, em Várzea Alegre. Disposto trabalhador rural, vez ou outra apresentava problemas psiquiátricos.


      Certa vez, na década de 1970, Zé Lins surtou e pôs na cabeça que era um caroço de milho. Preocupados, amigos e familiares levaram o agricultor para uma consulta na Casa de Saúde São Raimundo Nonato. O experiente médico Pedro Sátiro conversou demoradamente com o agricultor e o convenceu de que não era um grão de milho. O médico insistiu com o paciente:


      - Zé, você tem pernas, tem braços, tem corpo, tem cabeça. Você não é um caroço de milho, você é um homem, Zé. Um homem de bem, trabalhador. Tá convencido, Zé ? O que você é?

      O agricultor cearense, saindo do consultório, falava sem parar:

      - Eu sou um homi, num sou mi não, dotô. Sou é homi, sou homi...


      Passados alguns minutos, a recepcionista do hospital entrou inesperadamente na sala do médico e falou:


      - Doutor Pedro, o paciente que saiu agora há pouco tá em cima do muro do hospital e não tem quem faça sair de lá...


      O médico deixou o estetoscópio sobre a mesa e seguiu rapidamente pra frente da Casa de Saúde. Ali encontrou o agricultor de cócoras em cima do muro e falou:

      - Zé Lins, você não me disse que estava convencido que não era um caroço de milho, homem ?


      Assustado, apontando para o grande quintal de uma  casa vizinha hospital, ponderou:
 
     - Dotô Pedo, eu acho que sou um homi, sou um homi. E aquele galo carijó de seu Totô, será que ele num pensa que sou um caroço de mi, não?


Colaboração: Cicero Lisboa

(imagem Google)

segunda-feira, 14 de março de 2016

920 - O FIM DA TV

-->
     
     Nas entranhas do sertão seu Lunga ganhou notoriedade pela sua impaciência e certa ignorância. Mas essas pitorescas histórias não mantém exclusividade com o Juazeiro do Norte, terra do padre Cícero e do famoso Lunga.


     Em Cajazeiras, na década de 1980, o agricultor Rivaldo Lobo, após breve viagem à progressista cidade paraibana, entrou na loja de eletrodoméstico, Armazém Paraiba, e pediu uma TV colorida de vinte polegadas.

      O vendedor estranhou:


      - Outra TV ? Que sucedeu ? Num faz um mês que o sinhô levou uma na caixa...

       Encabulado e arrependido, o agricultor da vizinha Lavras da Mangabeira, sertão cearense, passou a contar o triste fim do seu moderno aparelho de televisão de vinte polegadas:

       - Desde que a televisão chegou em casa não tivemo mais sossego. As muié direto nas novela e os minino veno desenho e filme de luta...


      Dois dias antes da viagem à Cajazeiras, no final da tarde, Rivaldo chegara da roça e pedira a seus filhos que fossem apanhar os animais no pasto seco da caatinga:


     - Rusvel vá buscar o gado pro curral.


     O filho mais velho, assistindo a um famoso programa do canal SBT, enrolou um pouco, mas, com má vontade, se levantou e foi atender às ordens do pai. Por sua vez, o pequeno Relvis não deu muita atenção ao pai e continuou assistindo ao programa do famoso palhaço. Mesmo o pai insistindo: 


     - Relvi, meu fi, quantas vezes eu vou pedir pra você buscá as oveia?
 
      Seu Rivaldo solicitou três outras vezes e nada do caçula escutar. Passados alguns minutos, Relvis passou correndo na direção da roça dos ovinos, assustado, e aos prantos. Sem parar, gritou para o irmão que tangia o gado:

      - Rusvel, tu ouviu o tiro? Pai pegou um revolve e meteu bala no Bozo, pai matou o Bozo...

Colaboração: Rusvel Lobo
(imagem Google)