segunda-feira, 31 de outubro de 2016

950 - PEDAL DA LUA DE MEL

-->





Neste último final de semana recebi o convite da Equipe Extrema para acompanhar os amigos William Tavares, Raphael Bruno, Washington Magalhães, Odinircio Coutinho e Cleibe Junior em um desafio titânico. Os cinco ciclistas, partindo de Macapá,  resolveram encarar de uma só vez dois radicais percursos: Volta da Nova Colina e Volta do Camaipi.



Como pouquíssimos ciclistas do Amapá já completaram, isoladamente, um desses pedais, seria inimaginável alguém enfrentar as duas difíceis jornadas, de cerca de trezentos e cinquenta quilômetros, em uma só tocada.



Afora poucos mais de cem quilômetros de asfalto, o restante do pouco povoado percurso, singrando campos e florestas, segue em estradas rudimentares, com sucessivas e íngremes subidas. Não bastasse, em várias descidas, quando se aproveitaria para imprimir mais velocidade, os ciclistas se surpreendiam com perigosas pontes em madeira.



O fundamental apoio ao grupo coube aos solícitos Adriano Fioresi, Dilma Barbosa e Luciano Baia. Eu me encarreguei apenas de registrar em fotos e vídeos o esforço dos insanos ciclistas.



Mesmo encarando sol causticante, intensa poeira e inesperada chuva na parte final do trajeto, Washington, Coutinho e Junior, com raras paradas para descanso, conseguiram finalizar a peleja em pouco mais de um dia.



Acompanhei e testemunhei grande parte do roteiro, suficiente para compreender porque essa ciclomaluquice ganhou o apelido de PEDAL DA LUA DE MEL. Afinal, no brutal e desafiante percurso, como nos dias após o casamento, os guerreiros ciclistas encararam uma foda atrás da outra.



(imagem Google)


terça-feira, 18 de outubro de 2016

949 - ARTILHARIA (Blog há 7 anos)


     O menino que nasceu Raimundo se transformou em João Sem Braço logo após passar pelo infortúnio de perder o membro superior esquerdo em um acidente. Mas a falta do braço não impediu o conhecido varzealegrense de atirar de baladeira, jogar sinuca e realizar com habilidade outras atividades que em regra exigiriam a utilização dos dois membros.

     Em um campeonato realizado na quadra de esportes da Escola Presidente Castelo Branco, João Sem Braço foi escalado para jogar futebol de salão, hoje futsal, pelo time de alunos do Colégio São Raimundo Nonato.

     A equipe iniciou bem o campeonato, mas, na última partida, contra o rival Presidente Castelo, sofreu dois gols ainda no primeiro tempo. Descontrolado, João Sem Braço, para surpresa da torcida, passou a chutar contra a baliza defendida pelo goleiro do seu time. Bastava a bola chegar aos seus pés que o descontrolado jogador chutava fortemente contra o próprio patrimônio. Após sofrer uns cinco gols contra, o técnico finalmente pediu um tempo e, com rispidez, se dirigiu ao seu atleta;

     - João Sem Braço, você ficou doido? Por que ta fazendo gol contra?

     Com seu jeito irreverente, o jogador apresentou sua justificativa:

     - Já que vamos perder o campeonato, quero ser pelo menos o artilheiro.



Colaboração: Klébia Fiúza

(imagem Google)

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

948 - CICLOEXPEDIÇÃO DO RIACHO DO MACHADO AO VELHO CHICO



     "Nasci pela Ingazeiras,

     Criado no oco do mundo.

     Meus sonhos descendo ladeiras,

     Varando cancelas,

     Abrindo porteiras..."


     Pedalando por 560km pelos terrenos secos  e acidentados do sertão nordestino, na  CICLOEXPEDIÇÃO DO RIACHO DO MACHADO AO VELHO CHICO, me peguei várias vezes cantarolando esses versos do cearense Ednardo.

     
     Eu, Lanussi, Jorgin, Reginaldo, Carlin, Batista, Thales e Lamark, todos do cariri cearense, neste mês de outubro de 2016, saímos de Várzea Alegre-CE, terra do intermitente Riacho do Machado, e, após setenta e quatro horas queimando pneu de bicicleta pelo semiárido do Ceará, Paraiba, Pernambuco, Bahia, Alagoas e Sergipe, alcançamos as margens do belíssimo Rio São Francisco, na cidade alagoana de Piranhas.

     No difícil percurso, nas noites de descanso, recuperamos as energias em pousadas de Barro-CE, Salgueiro-PE e Petrolândia-PE


     Vivemos dias de hercúleo esforço, intensa emoção e grata superação. Para cumprir a planejada meta contamos com o fundamental apoio de vários colaboradores e com a estrutura disponibilizada por meu irmão Luiz Fernando.


     Ainda vestidos com as armaduras(camisas)  do evento e ao lado de nossas bicicletas, no Centro Histórico da cidade de Piranhas, na Cachaçaria Altemar Dutra, comemoramos o inesquecível feito.


     No fim da noite, extenuados e felizes, nos dirigimos ao hotel para o merecido descanso. Ali, como em todos os lugares que passamos, as pessoas se admiraram e elogiaram a nossa coragem. Um jovem e humilde funcionário do estabelecimento, ao escutar breve relato do nosso longo percurso, falou:


     - Meu avó também já foi duas vez numa barra circular* daqui até o Juazeiro pagar promessa pro Pade Ciço.


     Eu, ainda retirando alguns equipamentos da minha moderna e levíssima bicicleta de carbono, cantando vitória por nosso insuperável feito retruquei:


    - Com certeza seu avô demorou mais duma semana pra chegar daqui de Piranhas no Juazeiro do Norte,  ?


      O jovem rapaz respondeu:


     - fez em três dia e três noite, descansado pouco e dormindo ao relento no mei da estrada...


* modelo simples de bicicleta da marca Monark
(Imagem Google)

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

947 - DESPERTADORA



     Em minha vida, por dádiva de Deus, gozo sempre do privilégio de conviver com pessoas especiais, que me ensinam, me acolhem, me estimam, e, sobretudo, me toleram.

      Por alguns anos, na década de 1980, morei em Fortaleza com minha avó materna Maria Amélia. Ela, professora aposentada, tutora de vários filhos e netos, me tratava com regalia, me mimava, me punha dengo. Porém, como todos nós humanos, desenvolveu algumas manias. Mantinha hábitos como acordar bem cedo e, de certo modo, se incomodar com aqueles que amanheciam o dia dormindo.

     Eu, naquela época, estudante do período noturno, nem todo dia precisava levantar cedo e informava com antecendência à minha querida avó os dias da semana que possuía atividade no início da manhã. Para facilitar a comunicação avó-neto, colava na porta do meu quarto uma agenda escrita em letras garrafais com os horários dos meus compromissos semanais.

     Minha avó, esbajando vitalidade, iniciava sua rotina diária na madrugada. Ainda escuro, rezava o terço, ouvia programas de rádios, arrumava os guarda-roupas, mexia em sacos plásticos e trocava móveis de lugar. E, mal entrava os primeiros raios de sol pela janela do quarto, caso todo esse barulho não bastasse para  despertar o sonolento adolescente, ela ia à minha cama, me sacodia e perguntava:

     - Flavin? Flavin? Hoje é dia de te acordar cedo????

(Imagem Google)