sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

886 - "THE VOICE" VÁRZEA ALEGRE



Os reality show como The Voice Brasil  cairam no gosto do brasileiro. Na verdade, desde os tempos áureos do rádio, o público aprecia programas que apresentam disputas entre músicos e buscam escolher o “melhor cantor”.

No final da década de 1970, o ônibus do Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL – visitava as localidades mais distantes e permitia o acesso do povo interiorano a diversos produtos culturais, entre os quais os empolgantes shows de calouros.

         Certa vez, em Várzea Alegre, sertão cearense, o pré-adolescente Ropson Leandro resolveu se inscrever na disputa e subiu ao palco da MOBRALTECA para interpetrar uma música que ouvira tocar bastante no serviço de som do parque de diversões Maia na última festa do padroeiro São Raimundo Nonato.

         As apresentações mal comecaram e o pequeno varzealegrense voltou para a casa decepcionado e reclamando da sua desclassificação ainda na primeira eliminatória. Júlio, ganhador da disputa anterior interpretando um sucesso de José Augusto, buscou conformar o desafinado irmão, dizendo:

         - Ropin, vai ver é que esses jurado véi besta que vieram de fora  nem conhecem a música que você cantou. todo mundo que aprecia Meu Cofrinho de Amor, de Elino Julião, não…

colaboração: Júlio Bastos Leandro

(imagem Google)

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

885 - A FOTO DA FOZ



Em 2014 muitos fatos marcaram a minha vida, entre os quais a importante notícia da chegada da nossa terceira menina, Ana Flávia.

Um ano muito produtivo na família, no trabalho e no lazer. Com certeza, as corridas de rua e os passeios de bicicleta contribuiram enormemente para esse crescimento. Corremos e pedalamos bastante, renovando amizades e construindo outras.

Nessas atividades físicas busquei a resistência e o equilíbrio necessários para navegar com tranquilidade pelos caminhos do dia-a-dia.

Com poucas pessoas convivi tanto quanto com os amigos do Grupo de Corrida Foz do Amazonas, com quem iniciamos inúmeros dias praticando saúde, bom humor e fraternidade.

As redes sociais trazem provas incontestáveis dessa convivência diária. Muitas fotos foram compatilhadas. E é apenas nesse momento do registro que o grupo mostra um pouco de rebeldia e transgresão. Os subgrupos de conversas e resenhas que se formam após o treino dificultam a juntada dos componentes para captar a tradicional imagem de todos.

Mas recentemente aprendemos com a disciplina dos militares do Exército um comando que vamos experimentar em 2015. Na dificil  hora de juntar o grupo e posar para a foto conjunta, lembraremos, com voz firme, a ordem comum na caserna:

-       Foz do Amazonas, em formação!!!!


(imagem Google)

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

884 - NATAL INESQUECÍVEL (republicado)



         Em 1993, meu querido primo Hudson Batista Rolim recebeu um irrecusável convite para passar a noite de Natal na casa da nova namorada, no Bairro Cidade dos Funcionários, em Fortaleza. Cedo da noite , o apaixonado estudante vestiu a melhor roupa e apanhou o ônibus para cear na casa dos sogros.

       Depois de cruzar toda cidade, Hudson se impressionou ao chegar à bela e enfeitada casa da namorada. Semana antes, após um animado forró, na madrugada que a deixara ali em frente, não observara quão bonita era casa da sua amada.

        Mas naquela noite natalina esperava conhecer muito mais da sua futura família. No portão, Hudson foi recebido friamente pelo dono da residência, seu futuro sogro. Mesmo assim foi conduzido a uma mesa onde, sozinho, recebeu completa atenção dos bem vestidos garçons. Não sabia que a família de sua namorada vivia em tão boas condições. Consumindo uísque 12 anos e provando saborosos petiscos, o filho de varzealegrenses pensou: “dessa vez eu amarrei o meu burrin na sombra”.

         Mas já se aproximava da meia-noite e nada da namorada aparecer na festa. Até que finalmente ela ingressou pelo portão da garagem e passou a cumprimentar e desejar feliz natal a todos. Ao ver o namorado, a jovem se surpreendeu e falou:

         - Credo, tu tá é aqui Hudson? E eu esperando você lá em casa. Num sabia que tu conhecia doutor João, nosso vizinho.

        Assim, os namorados se despediram, atravessaram a rua e entraram na modesta casa, onde um casal de velhos cochilava na poltrona assistindo na TV ao especial de Roberto Carlos. Dali, o resto da noite, tomando coca-cola e comendo pedaços de um duro e frio peru,  Hudson, tentando esconder a decepção, observou pela janela o movimento e as luzes do animado castelo em frente que por poucas horas foi seu.


Colaboração: Hudson Batista Rolim

(imagem Google)

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

883 - OS OVOS DE "KELÉ"




Todos os meses, em uma noite de lua cheia, um grupo de cerca de cem ciclistas deixam suas casas para pedalar por dezenas de quilômetros na rodovia que acessa o aprazível município de Mazagão.

Trata-se de um dos passeios mais concorridos do Amapá, especialmente por aqueles que usam suas bicicletas como instrumento para curtir a natureza, aliviar o estresse das atividades diárias e fazer novas amizades.

Ontem debutou nesse pedal, o amigo Everaldo Romano Palheta, popularmente conhecido como Kelé. Praticante do atletismo, do futebol e de outras modalidades esportivas, o amapaense de 64 anos possui uma energia inesgotável e uma irreverente simpatia.

Extremamente competitivo, bastou a balsa atravessar o Rio Matapi, para Kelé sair em disparada rumo a Mazagão. Sequer esperou para apreciar a beleza da lua e posar para a tradicional foto na ponte sobre o Rio Vila Nova.

Só voltei a encontrar o atleta sexagenário na padaria da sede de Mazagão, onde os ciclistas se reunem para repor as energias gastas no percurso. Observando sua cara tristonha e acabrunhada, logo perguntei:

- O que houve, Kelé? Que cara é essa?

Desconfiado, em pé, sozinho em um canto, o amigo me confidenciou, em voz baixa:

- Mano, negócio tá feio. Amassei um dos meus ovo...

A resposta me causou extrema preocupação. Mesmo acostumado a pedalar em sua barraforte, certamente Kelé estranhara o duro celim de sua nova bicicleta estilo mountain bike.
 
Eu buscava informações acerca da unidade de saúde local para cuidar dos testículos avariados do amigo, quando Kelé esclareceu:

-Trouxe dois ovo para tomar cru aqui em Mazagão, mas um dos ovo se espatifou todo dentro da mochila...

(imagem Google)

terça-feira, 30 de setembro de 2014

882 - COMUNISMO NO SERTÃO





Adélia, filha do farmacêutico e proprietário de terras Coronel Pimpim, foi uma mulher marcante na época em que viveu em Várzea Alegre. Dona de casa dedicada, caridosa e protetora da família, Dedé, como chamada, enfrentou as dificuldades da vida com coragem e decisão.

No início da década de 1960, em pleno sertão nordestino, poucas coisas despertavam mais temor entre o povo do que o mal falado e desconhecido comunismo. Essa ideologia, baseada na propriedade comum e no controle estatal dos meios de produção, sofria com uma forte e eficiente propaganda.


Certa manhã, Dedé caminhava pela antiga Major Joaquim Alves, tradicional rua de Várzea Alegre, quando foi abordada por uma amiga assustada com a chegada do tal comunismo, especialmente com o racionamento dos produtos:   


- Dedé, tão dizendo que esses cumunista tomam tudo da gente. Depois tudo é distribuído ao povo em ração pelo governo. Tudo de poquin.


Citando a costureira da família, a baixinha Dedé continuou caminhando e, pronta e decididamente, emendou:


- Sendo assim vou logo é encomendar dez vestidos com Laura Cassundé. Com dez vestidos dá pra eu chegar no fim da vida...

Colaboração: Terezinha Costa Cavalcante

(imagem Google)

domingo, 31 de agosto de 2014

881 - NÃO DÁ PIZZA



Vindo do interior do Estado, o modesto migrante ainda não conseguira se ambientar na moderna e movimentada capital. Sua timidez dificultava a aproximação com novas pessoas.
Para permitir uma maior aproximação e melhor conhecer os colegas de trabalho, o novato decidiu convidá-los para sair após o expediente. Certamente, uma boa conversa na mesa de bar serviria para estreitar a relação com os novos companheiros de batente. Faltava avisar apenas à recatada secretária.
Assim, na hora do almoço, o novo empregado, sem maiores ou melhores pretensões,  se aproximou da secretária e falou:
- Colega, nós combinamos uma saidinha no final da tarde para comer um pizza e tomar uma cerveja. Vamos com a gente?
A secretária tirou os óculos da face, olhou para o novo colega de trabalho e, com um sorriso amarelo no rosto, surpreendeu:
- Queria tanto ir, mas dessa vez não dá.  Na próxima eu vou.  É que tou menstruada…
(imagem Google)