sábado, 21 de novembro de 2009

101 - FECHANDO O GOL



           Grande parte do povo brasileiro acredita e faz uso de simpatias, feitiços, magias, mandingas, encantamentos, orações, amuletos, talismãs, feitiçarias, benzimentos e tudo mais relacionado com as ciências ocultas.

           No popular ambiente futebolístico as crenças estão ainda mais presentes. Os torcedores e os próprios atletas mantêm comportamentos supersticiosos buscando elevar o rendimento, pois acreditam que ajudam a equipe no alcance de suas metas. Há jogadores que não trocam a chuteira ou a cueca porque na primeira vez que as usou fez gols ou jogou bem.

          Eu não acreditava muito nessas coisas, mas recentemente minha amiga e conterrânea Klébia Fiúza me ensinou uma mandinga infalível. A simpatia cita um popular e irreverente varzealegrense, conhecido por suas histórias engraçadas. Consiste simplesmente em repetir umas palavras no momento em que o time adversário ataca. A frase, repetida com fé, fecha a nossa meta, impedindo o gol da equipe contrária.

         Neste final de semana, quando meu Fortaleza joga suas últimas chances de permanecer na série B e o querido Flamengo tem jogo decisivo na disputa pelo título do Brasileirão, usarei mais uma vez a frase mágica. No momento em que a bola chegar ao campo de defesa dos meus times eu repetirei insistentemente:

       - Cu de Zé de Lula. Cu de Zé de Lula. Cu de Zé de Lula...


(imagem Google)

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

100 - KARIRIS E TUCUJUS






        Por sua grandiosidade e beleza o Rio Amazonas chama a atenção de todos que visitam Macapá, sobretudo aqueles oriundos das terras secas do nordeste brasileiro. Há alguns dias, com enorme prazer, recebi em solo tucujus o meu tio Paulo Danúbio, o meu irmão Luiz Fernando e o meu primo Antônio Costa. Como eu, todos nascidos na também acolhedora Várzea Alegre, município cearense encravado no sertão do cariri.

        Para o primeiro dia da viagem programei um passeio com os visitantes por um inesquecível “roteiro de águas”. Antes, porém, para satisfação do aguçado apetite dos turistas, saboreamos deliciosas porções de peixe grelhado e doses de camarão no bafo no restaurante Flora, instalado em palafitas sobre o Igarapé da Fortaleza. Logo após o farto almoço iniciamos o esperado passeio de lancha em direção ao rio Matapi*, onde observamos parte da riqueza natural amazônica. Para nosso deleite e encantamento, em uma sinuosa curva, fomos recebidos por vários botos, lendários mamíferos que habitam rios do norte brasileiro.

        No fim do passeio, paramos para sentir a refrescante brisa do majestoso Amazonas, que batia suas águas contra o muro de arrimo da Avenida Beira-Rio, próximo à exuberante Fortaleza de São José de Macapá. Em dado momento, quando olhava para o leito do infindável rio, tio Paulo recebeu um telefonema do primo, amigo e conterrâneo Irapuan Costa. Certamente lembrando-se das secas do nordeste e da intermitência dos pequenos rios do Ceará, o bem humorado professor foi logo dizendo:
 
        - Puan, quando tiver um bom inverno no Ceará não vá me ligar dizendo “Paulo, o Machado** desceu suberbando numa cheia danada”.



* afluente do Rio Amazonas que banha o Estado do Amapá.

**riacho temporário que cruza grande parte do Município de Várzea Alegre.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

99 - ÚLTIMA MERENDA





         Francisco Basil de Oliveira, ferreiro aposentado, ganhou fama em Várzea Alegre pela maneira cômica de contar histórias simples do cotidiano cearense. Nada escapa da suas narrativas, nem mesmo momentos críticos e delicados da existência humana. Sobre a certeza da morte, o espirituoso e realista Chico Basil costuma dizer:

         - O rim de morrer é não poder espantar as moscas.

        Entre suas várias histórias sobre a viuvez, o ferreiro conta como verdadeira uma acontecida há vários anos no Riacho Verde, progressista Distrito varzealegrense.

        Certa tarde uma velha senhora cuidava de seu moribundo esposo que sofria em uma rede. O pobre enfermo, respirando com dificuldade, disse:

        - Muié, pelo cheiro tu tá fazendo bolo de caco, né? Me dê um pedacin.

        Enxugando a testa do febril esposo, ela argumentou:

       - Mas Zé, que é que eu vou servir na boca da noite, quando o povo começar a chegar pa teu velório?


*colaboração: Antônio Alves da Costa Neto
(imagem Google)