segunda-feira, 30 de setembro de 2013

800 - BORRACHUDO (Pedra de Clarianã há dois anos)




Segundo dados fornecidos recentemente pelo Banco Central, nos últimos quinze anos o número de cheques emitidos no Brasil diminuiu quase oitenta por cento.  O surgimento e popularização dos cartões de crédito e de débito são apontados como as principais causas dessa significativa  redução.

Em Várzea Alegre, sertão cearense, na década de noventa, após consumir várias cervejas em um conhecido bar e restaurante da cidade, um cliente pediu a conta, se aproximou do balcão e retirou uma folha de cheque da carteira. Imediatamente a dona do estabelecimento avisou:

- Eu num recebo cheque não.

- Mas o cheque é da senhora – insistiu o surpreso cliente.

-  Por isso mesmo que num recebo – finalizou a dona do bar.


Colaboração: Carlos Leandro da Silva (Carlin de Dalva)

(imagem Google)

sábado, 28 de setembro de 2013

799 - O PESO DA CARNE


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O agricultor mangabeirense José Tomaz Lemos, conhecido como Zuza Lemos, marcou pela sua espirituosidade. Era capaz de respostas rápidas e originais que, até hoje, quando lembradas, divertem os moradores do pequeno distrito cearense de Lavras da Mangabeira.

Certa manhã, Zuza Lemos foi ao mercado comprar o tempêro para o almoço. No momento em que o marchante* separava e pesava o pedido do agricultor, um jovem cliente comentou:

- Seu Zuza, com essa idade, o sinhô vai comer três quilo de carne duma vez?

O velho agricultor olhou para o rapaz e, mexendo a mão próximo à boca, tranquilamente respondeu:

- Ôxe, minha muié Zefinha tem mais de sessenta quilo e eu todo dia...


(imagem Google)
Colaboração: Ronaldo Lima.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

798 - A ROÇA DE ZAQUEU




Em uma manhã da década de 1980, o agricultor Zaqueu Guedes se dirigiu a uma casa bancária de Várzea Alegre em busca de uma linha de crédito para financiamento de sua plantação de milho no sítio Timbaúba.

O gerente, após verificar a documentação apresentada e analisar o pedido de empréstimo, olhou para o agricultor e disse:

- Seu Zaqueu, o senhor esta propondo o empréstimo de uma quantia muito grande, com uma enorme expectativa de colheita. O senhor acha que seu plantio irá produzir tanto milho assim?

O experiente agricultor, com sua eloquência e sabedoria de matuto, justificou:

- Seu Dotô, as roça da Timbaúba é boa de mii . "Zé Meu" já fez as conta. Esse ano, se dismanchá o mii de lá em canjica vai dá pra osfaltar as cinco légua* da rodage** de Vazalegre inté o Grangêro...

* légua é uma medida de distância equivalente a seis quilômetros
** rodagem é um vocábulo usado no sertão cearense como sinônimo de estrada, rodovia...
(imagem Google)
Colaboração: Paulo Roberto Bezerra Bitu

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

797 - VENDA DE MACAÚBA




A macaúba, palmeira espinhosa que produz um pequeno fruto bastante apreciado no sertão nordestino, nos últimos anos tem se apresentado como uma alternativa para a produção de biocombustível.

Mas nem sempre o delicioso fruto recebeu o merecido valor. Em Várzea Alegre, na segunda metade do século passado, nos sábado à tarde, o caminhão da macaúba, ao deixar a cidade cearense, fazia a alegria da meninada, distribuindo gratuitamente os frutos que sobravam da feira.

Nesse mesmo período, no distrito cearense de Mangabeira, Mané João resolveu vender macaúba na calçada do mercado. Um amigo, observando a negociação, alertou:

- Desse jeito num vai pra frente não. Você comprano a  dúzia de macaúba por dez e vendeno por cinco...

O insistente feirante, enquanto atendia um freguês, respondeu:

- Tem nada não. Eu quero sabê se tou no comerço...


(imagem Google)

Colaboração: Ronaldo Lima

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

796 - ALAMBIQUE DE OURO


[Encomenda Bebado para Marcio[6].jpg]

Em recente viagem, visitei um dos pontos mais conhecidos e movimentados de Belo Horizonte, o Mercado Central. Inaugurado em 1929, o  prédio ocupa uma área privilegiada na região central da cidade.

Cerca de 400 lojas vendem hortifrutigranjeiros de ótima qualidade, produtos típicos como queijos e doces mineiros, artesanatos, ervas e raízes.

Mas o que chamou atenção foi o preço da famosa cachaça Havana, fabricada em Salinas, Minas Gerais, desde 1943. A marca detém vários títulos de melhor cachaça do Brasil. O valor da garrafa de aguardente supera o de muitos uísques escoceses pois custa quatrocentos e cinquenta reais.

Naquele momento lembrei das guritas do mercado velho de Várzea Alegre que vendem cachaça por um valor bem mais acessível. Tanto que, na cidade cearense, quando passava um pinguço pela antiga Rua dos Perus, o saudoso ferreiro Chico Basil reconhecia:

- Oia. Aquele ali num tem mais nem um tostão pra bebê. Tá só na fubuia do mercado.

- E como tu sabe, Chico? – indagava um amigo.

- Só espiá no couro dele. Pode repará que soltano que nem pele de cobra...

(imagem Google)

*Fubuia' é um regionalismo do nordeste brasileiro, que significa cachaça e que em Várzea Alegre também tomou o significado de bebida de má qualidade.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

795 - FEIRA LIVRE (Pedra de Clarianã há dois anos)



Encontradas desde Roma e Grécia antigas, as feiras livres sobreviveram bravamente até os tempos atuais. Diariamente, nas ruas de todas as cidades, vendedores e compradores exercitam a milenar arte de negociar, discutindo diretamente o preço dos produtos expostos em barracas.

Por vários anos da década de setenta e oitenta, em Fortaleza, minha querida avó Maria Amélia frequentou a movimentada feira do bairro Jardim América. Ali se tornou conhecida pelos barraqueiros e demais clientes por sua simpatia, cordialidade e  economia.

Certa manhã, após pedir e não conseguir desconto em um quilo de batata doce, minha avô, usando um meio  alternativo de pechinchar, pôs a mao dentro do saco da batata e falou:

- Meu filho, então me dê mais essa de agrado...

O experiente barraqueiro, acostumado com o espírito regateador da cliente, relutou:

- Mas dona Maria, essa batata aí pesa quilo e mei...


Colaboração: Paulo Danúbio Carvalho Costa
(imagem Google)

terça-feira, 10 de setembro de 2013

794 - A BANCA DO GERENTE (Pedra de Clarianã há dois anos)





Em 7 de  dezembro de 1977, o varzealegrense Amadeu Siebra Neto foi a  vizinha Farias Brito para participar das festividades de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade.

No decorrer da animada festa, Amadeu se interessou por uma jovem  fariasbritense. Para encantar e impressionar a bela pretendente, apresentou-se como gerente da agência do Banco do Estado do Ceará – BEC – de Várzea Alegre.

Dias depois, cedo da manhã, na antiga Rua Major Joaquim Alves, no prédio onde hoje funciona o Depósito Meneses, Amadeu cumpria sua função de faxineiro do BEC de Várzea Alegre, quando foi avisado pelo vigilante da agência de que havia uma moça na calçada à sua espera. Ao abir a porta, segurando a vassoura, Amadeu se deparou com a jovem que conhecera em Farias Brito, e foi logo questionado:

- Amadeu, você me disse que era gerente e tá é limpando o banco?

 Mesmo surpreendido com a inesperada visita, o auxiliar de limpeza respondeu:

- Minha querida, aqui quem chega primeiro é quem varre o banco...


Colaboração: Amadeu Siebra Neto

(imagem Google)