domingo, 27 de novembro de 2011

502 - THE BEST




Em Várzea Alegre, especialmente nas tardes dos finais de semana, a agradável calçada do sítio Lagoa das Panelas recebe amigos e testemunha descontraídas conversas. Ali, regado a café, farta comida e boa prosa, sempre se reunem Luiz Fernando, Dirceu Costa, Antônio Costa, Carlin de Dalva, Cesar Gregório, Luciano Brasil, Roni Bezerra e outros amigos.

No último fim de semana, Carlin de Dalva se superou contando as suas histórias. Segundo o irreverente mestre em carpintaria, no refeitório de uma fábrica em São Paulo, quatro colegas de trabalho discutiam sobre qual seria o melhor homem do mundo.

A primeira disse que o melhor era o árabe, pois acumulou muita riqueza com os petrodólares. A segunda, por sua vez, sustentou que o japonês era melhor, já que, com carinho, se superava na cama, aplicando seus milenares conhecimentos. A terceira, afirmou que o melhor era o alemão, conhecido por sua seriedade e virilidade.

         A quarta, uma baixinha cearense, com seu sotaque carregado, disse timidamente:

         - O melhor homem do mundo é meu marido.

         A outras três, sem nada entender, perguntaram:

         - Quem ? Como? Por quê?  Qual é o nome dele?

         Sob o olhar atento e curioso das colegas, a operária cearense completou:

         - É que eu casei com o conterrâneo Muhammad Tanaka Müller...


(imagem Google)

sábado, 26 de novembro de 2011

501 - PROGRAMA DE VIOLA




Os violeiros representam uma das figuras mais fortes e populares  da rica cultura nordestina. Com seus inteligentes versos, rimas poéticas, humor e romantismo, contam as histórias e traduzem a realidade das terras secas do sertão.  Mas, infelizmente, nem sempre esses artistas possuem o talento de repentistas como  Moacir Laurentino, Ivanildo Vilanova e muitos outros. 

Na década de oitenta, em uma pequena cidade do nordeste brasileiro, após muita insistência,  um limitado e pouco inspirado violeiro conseguiu espaço de meia hora para um programa na rádio local. Passado cerca de um mês da estréia, o artista procurou o proprietário da estação radiofônica e, supervalorizando seu ibope,  falou:

- Dotô, o programa de cantoria tá com muita audiência. Eu recebi umas quinhenta carta pedindo pro programa esticar pra uma hora.

O proprietário falou:

- Pois eu recebi foi mil...

- Eita que bom! – exclamou o animado artista popular.

O experiente empresário, ciente que as pesquisas indicavam poucos ouvintes para o programa matinal e conhecendo as poucas qualidades artísticas do esforçado violeiro, emendou:

- Mas foi mil carta pedindo pra eu acabar com seu programa.


Colaboração: Vicente Lima Filho
(imagem Google)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

500 - FLAMENGUISTA "COXA BRANCA"





     No fim da década de setenta, em Várzea Alegre, no à época isolado sertão cearense, eu acompanhava o futebol pelas ondas da Rádio Globo. Ouvindo a narração dos consagrados locutores Waldir Amaral e Jorge Cury, vibrava com os inúmeros gols de Zico e companhia, tornando-me facilmente um dos milhões de seguidores do Flamengo.

     Mas se na infância ouvia a partida pelo rádio e imaginava as jogadas no campo, quando adulto pude assistir aos jogos do meu time preferido diretamente no estádio. Viagens recentes me possibilitaram ver mais algumas partidas do clube carioca pelo campeonato brasileiro. No Rio de Janeiro, meses atrás, no meio da massa rubro-negra, no moderno estádio Engenhão, acompanhei duas partidas, entre as quais um histórico e emocionante FLA-FLU.

      Nos últimos dias visitei a capital paranaense e logo que cheguei à bela e organizada cidade me dirigi à lotérica em busca de ingressos para o jogo entre Coritiba e Flamengo. No local de vendas soube que não mais havia bilhetes para a torcida visitante, só na mão de cambistas e bem mais caros que no melhor local da torcida do Coritiba. Assim, como bom e econômico cearense, decidi economizar e ver o jogo no mesmo setor dos fanáticos torcedores adversários.

     Para não apanhar no estádio, ensaiei no hotel como agiria após os aguardados gols do Flamengo. Fecharia as mãos e, fingindo desgosto, bateria na cabeça. Para completar o disfarce, na impura linguagem dos campos, gritaria:

     - Putaquepariu, esse Ronaldentuço é um feladaputa...

     Começou a partida e lá estava eu e minha esposa no grandioso estádio Couto Pereira em meio à alegre e animada torcida coxa  branca*. Porém, para minha tristeza e decepção, o Flamengo de Ronaldinho apresentou péssimo desempenho em campo. Por outro lado o forte time da casa fez dois gols e com justiça venceu o jogo.

     Não bastasse a humilhante derrota, o pior foi ser obrigado a vibrar e fingir alegria nos momentos dos gols do Coritiba. E, com os braços levantados, se juntar ao coro de milhares de torcedores, gritando:

      - Coooxa, Coooxa, Coooxa...

 
* apelido dos torcedores do Coritiba Foot Ball Club
(imagem Google)

domingo, 20 de novembro de 2011

499 - TINTA DE CABELO




Há alguns anos, em uma tranquila manhã, na agradável Várzea Alegre, sertão cearense, após sacar  a pequena aposentadoria na agência bancária, o ferreiro Chico Basil foi quitar a conta na Bodega de Luiz Silvino. Enquanto o calado comerciante procurava o vale, o aposentado falou:

- Luiz, tem aí tinta pra cabelo de véi?

Sem levantar a vista, passando as folhas do amarelado caderno de fiados, o bodegueiro respondeu:

- Chico Basil, tem a Loção Francisco Alves. É da boa. Traz de volta a cor antiga do cabelo.

O simpático ferreiro imediatamente comentou:

- Eita que esse Chico Alves tem a cabeça boa!

O experiente comerciante, somando a conta do mês do fiel cliente, indagou:

- Por que você diz isso, Basil?

O velho ferreiro deu um passo para trás, soltou sua ridadinha clássica, bateu as palmas da mão e completou:

- É que ele inda lembra cuma era a cor do meus cabelo...


Colaboração: Klébia Fiuza
(imagem Google)

sábado, 19 de novembro de 2011

498 - DEBULHANDO HISTÓRIAS




As animadas debulhas de feijão reuniam com frequência os pequenos agricultores do sertão  nordestino. No começo da noite, moradores da vizinhança, sentados no chão da calçada da casa, formavam um mutirão para debulhar o feijão colhido na pequena propriedade. Nesses encontros também iniciavam-se namoros, surgiam casamentos e se ouviam muitas histórias.

Na década de sessenta, no município cearense de Várzea Alegre, na boca da noite, várias famílias de lavradores se reuniram em uma modesta casa do sítio Mari. Era tempo da esperada debulha de feijão e de boa e agradável prosa.

O dono da casa  recebeu todos com simpatia e logo mandou  servir  café, bolo de caco e outras deliciosas comidas típicas da região. Não deixou de contar suas exageradas e pouco críveis histórias. Assim que relatava suas vantagens aos presentes, o agricultor se virava para esposa e perguntava:

- Num foi, muié?

A pobre senhora, ocupada na debulha e na distribuição das merendas, respondia:

- Hômi, eu num sei disso não...

Lá pelas nove da noite, quando todos saíram com a promessa de continuar a tarefa no dia seguinte, o lavrador, fechando as janelas da casa, advertiu a esposa:

- No dia que eu contar uma história e você num confirmar, você me paga, muié...

Na noite seguinte, novamente a calçada encheu de visitantes e continuou a debulha de feijão. O dono da casa logo começou a narrar uma nova aventura:

- Eu nunca temi animal brabo. Outo dia botei cela num burro pela primeira vez. Muntado no bicho saí em disparada e  saltei uma cerca de doze fii de arame.

Enquanto as visitas admiraravam mais essa  história, o agricultor, sem tirar o cigarro de fumo da boca, perguntou:

- Num foi, muié?

Mal o marido fechou a boca, a mulher, com o bule de café na mão, confirmou:

- Ah se foi! Eu tava era na garupa...


Colaboração: Antônio Alves da Costa Neto
(imagem Google)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

497 - BULLYING NO SERTÃO




Alguns especialistas sustentam que há um certo exagero quando o assunto é bullying. Por ser tema da moda, tornou-se explicação para todo tipo de abuso. E nem toda brincadeira de mau gosto, como apelido atribuido à criança na escola ou na rua, caracteriza a grave violência psicológica.

Em Várzea Alegre, sertão cearense, na década de setenta, um grupo de meninos brincava alegremente nas calçadas da Rua do Juazeiro, em frente às suas casas. Como durante a diversão um dos garotos se mostrou muito distraído e desatento, os demais passaram a chamá-lo de lesado*.

O menino não gostou de ser apelidado e correu em direção a uma casa. Antes de cruzar a porta, já foi gritando:

- Mãe, os minino tão chamano eu de lesado.

Nesse instante, um dos garotos da rua advertiu:

- Ei lesado, deixa de ser abestado. Tua casa é a outa...


*Lesado – No Ceará também significa distraído, desatento.
Colaboração: Antônio Gerson Morais (Piroxa)
(imagem Google)