segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

818 - XEXÉU




Mesmo em tempo de veículos automotores, com carros e motocicletas invadindo as vias urbanas e rurais, alguns ainda preferem uma boa montaria à cavalo para circular pelo sítios e fazendas do sertão cearense.

Pensando assim, o bacharel em direito Antônio Alves da Costa Neto, após se mudar para a distante localidade chamada Serra dos Cavalos, resolveu comprar um animal. No sítio Caiana, na propriedade de Galego de Chico Corote, encontrou um cavalo do seu agrado, de nome Xexéu.

Para fechar o negócio, Antônio Costa apresentou uma proposta irrecusável: duzentos e cinquenta reais em cinco parcelas mensais de cinquenta reais, a primeira com trinta dias após a compra. O proprietário do equino aceitou imediatamente a oferta e o comprador levou o velho e magro animal.

Passados bem mais de trinta dias, em Várzea Alegre, no bairro Riachinhoo vendedor encontrou Antônio Costa e cobrou a primeira parcela da venda do animal. O comprador justificou o atraso no pagamento e apresentou uma proposta de renegociação da dívida que foi aceita pelo paciente vendedor:

-  Me ajude a ficar com Xexéu. Divida a entrada em cinco parcelas de dez reais. No mês que vem eu pago a primeira. Ligeirin a gente fecha essa conta...

Colaboração: Antônio Alves da Costa Neto
(imagem Google)

sábado, 28 de dezembro de 2013

817 - DO RIO AMAZONAS AO RIACHO DO MACHADO




Ao chegar a Várzea Alegre um dos primeiros lugares que visito é a Sapataria Cavalcante, do meu querido tio José Cavalcante Cassundé, conhecido como do Norte.

Mesmo estabelecido há várias décadas no ramo de calçados, como todo habitante do sertão meu tio é impressionado com chuvas. Mais precisamente com a falta delas na árida região cearense. Por essa razão os rios são intermitentes, passando a maior parte do ano com os leitos completamente secos, como o Riacho do Machado que cruza grande parte do território varzealegrense.

Mal surgi na entrada da sapataria, com sua potente voz, meu velho tio me recebeu gritando do balcão:

- Se aproxegue meu sobrin. Quer trocá as corrêa* da chinela japonesa? Como lá pelas Amazônia? O riacho já desceno com água?


* tiras de borracha de tradicional chinelo
(imagem Google)

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

816 - NATAL INESQUECÍVEL (Republicado a pedido)




         Em 1993, meu querido primo Hudson Batista Rolim recebeu um irrecusável convite para passar a noite de Natal na casa da nova namorada, no Bairro Cidade dos Funcionários, em Fortaleza. Cedo da noite , o apaixonado estudante vestiu a melhor roupa e apanhou o ônibus para cear na casa dos sogros.

       Depois de cruzar toda cidade, Hudson se impressionou ao chegar à bela e enfeitada casa da namorada. Semana antes, após um animado forró, na madrugada que a deixara ali em frente, não observara quão bonita era casa da sua amada.

        Mas naquela noite natalina esperava conhecer muito mais da sua futura família. No portão, Hudson foi recebido friamente pelo dono da residência, seu futuro sogro. Mesmo assim foi conduzido a uma mesa onde, sozinho, recebeu completa atenção dos bem vestidos garçons. Não sabia que a família de sua namorada vivia em tão boas condições. Consumindo uísque 12 anos e provando saborosos petiscos, o filho de varzealegrenses pensou: “dessa vez eu amarrei o meu burrin na sombra”.

         Mas já se aproximava da meia-noite e nada da namorada aparecer na festa. Até que finalmente ela ingressou pelo portão da garagem e passou a cumprimentar e desejar feliz natal a todos. Ao ver o namorado, a jovem se surpreendeu e falou:

         - Credo, tu tá é aqui Hudson? E eu esperando você lá em casa. Num sabia que tu conhecia doutor João, nosso vizinho.

        Assim, os namorados se despediram, atravessaram a rua e entraram na modesta casa, onde um casal de velhos cochilava na poltrona assistindo na TV ao especial de Roberto Carlos. Dali, o resto da noite, tomando coca-cola e comendo pedaços de um duro e frio peru,  Hudson, tentando esconder a decepção, observou pela janela o movimento e as luzes do animado castelo em frente que por poucas horas foi seu.



Colaboração: Hudson Batista Rolim

(imagem Google)

domingo, 22 de dezembro de 2013

815 - REI DO BREGA




Em 1994, segui em uma grande caravana que deixou Várzea Alegre para participar do Forricó. Várias pessoas queridas compunham o animado grupo que invadiu a cidade de Icó, entre os quais José Macedo de Santana, Maria Zélia, Paulo Danúbio, Tânia Rodrigues, Aparecida Feitosa, Rosânia Carvalho, Flaviana Costa, Vitorino, Daniele Carvalho, Arthur Costa, Rosa Amélia Macedo, Daniel Piau, Dirceu e Antônio Costa.

Naquela noite, requisitadas bandas de forró se apresentaram em praça pública na conhecida festa do Icó, município cearense do Vale do Jaguaribe. Mas o auge do evento se deu com o ansiado show de Reginaldo Rossi. Logo que iniciou a apresentação, alguns componentes do grupo de Várzea Alegre conseguiram atravessar a multidão e se aproximar do palco para a ver de perto o famoso cantor pernambucano.

No meio do show, Reginaldo de Rossi convidou alguém do público para cantar com ele a música Garçom, sucesso absoluto do cancioneiro brega brasileiro. Ao fim do improvisado dueto, o irreverente cantor, apontando para o suado  jovem que subira ao palco, falou ao microfone:

- Palmas para o corno rouco!

Para nossa surpresa e alegria da sua inesquecível  mãe Aparecida, o fã que cantou ao lado do Rei do Brega foi um membro da comitiva varzealegrense, o desinibido adolescente Antônio Costa.

(imagem Google)


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

814 - VIAGRA CEARENSE (Pedra de Clarianã há dois anos)







Ao longo dos anos os homens experimentaram inúmeros chás, garrafadas e outras receitas de estimulantes sexuais. Mas só no final do século passado, com o surgimento do Viagra, surgiu um alento para a temida disfunção erétil. O chamado comprimido azul aumentou a perspectiva de uma vida sexual duradoura e com mais qualidade.

Certa manhã do final da década de noventa, na pequena e especial Várzea Alegre, em um banco da movimentada Praça do Abrigo,  vários aposentados conversavam sobre a novidade. Em certo momento da animada prosa, o ferreiro aposentado Chico Basil se aproximou do grupo. Um dos amigos presentes logo perguntou:

- Chico, tu já expermentou o tal do Viagra? Tão dizeno que aumenta as força...

O velho ferreiro, com um olho fechado e outro aberto, mirou o amigo e falou:

Hômibestera de comprimido. Eu tou tomano é chá...

Os velhos amigos se interessaram e quase ao mesmo tempo indagaram:

- Que chá é esse, Chico? É do bom mermo?

Antes de soltar uma boa gargalhada, o irreverente Chico Basil concluiu:

- É que eu num preciso desse Viagra não. Tomo é chá de cidrera pra acalmar...


(imagem Google)

Colaboração: Luiz Roberto Pedrosa de Castro

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

813 - CASAL CORREDOR




Há poucos anos comecei a praticar o pedestrianismo junto com a minha querida esposa Eliziê. A atividade nos trouxe melhorias físicas e mentais. Além disso, nos aproximou e mudou totalmente a nossa vida.

Na manhã do último domingo, na III Corrida do MP, percorremos sete quilômetros pelas principais vias da cidade de Macapá. Passamos pela frente da instransponível e histórica Fortaleza de São José e margeamos o titânico Rio Amazonas.

Desde a largada eu disparei e mantive a dianteira por quase todo o percurso. Apenas na última reta diminui consideravelmente o ritmo e minha esposa se aproximou e passou por mim. Após a chegada, muito feliz, ela me falou:

- Achei lindo você ter me esperado...

Não fui louco de contrariar essa percepção e acabar com o romantismo do momento. Mas, aqui pra nós, que ela não saiba. Faltou foi força nas canelas para continuar à frente e vencê-la na concorrida disputa.

(imagem Google)

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

812 - O VISITANTE NOTURNO (Pedra de Clarianã há dois anos)








Em uma pacata cidade do sertão cearense, na década de setenta,  sempre que um conhecido morador deixava sua modesta casa para trabalhar como vigia noturno, sua esposa recebia a furtiva visita de um homem. 

Bastava o ingênuo marido sair para o serviço que a assanhada esposa tratava de se preparar para o encontro. Após arrumar os filhos pequenos para dormir, tomava demorado banho e vestia roupas íntimas especiais.

         Em certa noite, quando os vizinhos deixaram a calçada e entraram em suas residências, o visitante, elegante e perfumado, aproximou-se da casa de sua amante e bateu discretamente na velha porta de madeira. Como a mulher não veio recebê-lo com a receptividade de costume, o ansioso ricardão tocou mais fortemente  na porta. Nesse momento, o marido, em dia de folga do  trabalho, gritou:

- Ei, vá simbora, hoje quem tá aqui dento é o dono....


(imagem Google)