domingo, 30 de junho de 2013

768 - PULANDO A FOGUEIRA (Pedra de Clarianã há dois anos)




          Logo que me mudei para Macapá, em meio a tantas pessoas que me acolheram, também me aproximei da família de um colega de trabalho e me afeiçoei aos seus interessantes filhos gêmeos de cerca de sete anos. Comumente eu passava pela residência do amigo e convidava os seus dois garotos para brincar pela orla e praças da cidade. Em todo lugar os gêmeos chamavam atenção por sua simpatia, expansividade e travessuras.

            Naquele rico período, no mês de junho, recebi o convite de uma bela jovem amapaense para participar da festa junina da sua rua. O trânsito seria fechado para veículos. Durante a noite ocorreria a apresentação de quadrilhas e os moradores distribuiriam comidas típicas. Oportunidade para me aproximar e conhecer a família da moça com quem eu desejava iniciar um relacionamento.

           Mas na noite marcada, antes de ir ao encontro da jovem, parei na casa dos meus dois amiguinhos, pois seu pai também promovia uma festa junina. Ali, depois de muita insistência dos meus dois pequenos amigos, aceitei levá-los para assistirem à apresentação dos folguedos juninos na rua da minha paquera. Antes, porém, colhi dos pequenos o compromisso de que se comportariam e não praticariam nenhuma das suas costumeiras traquinagens. 

          Segui, então, com os dois garotos para a rua onde aconteceriam atividades comuns ao mês de junho. Durante o percurso, mais uma vez alertei para o comportamento adequado que os dois deveriam cumprir. Chegando ao animado arraial fui apresentado aos educados e corteses pais da jovem e passamos a conversar. Os meninos logo se entrosaram com as outras crianças, brincaram, soltaram bombinhas e comeram. Surpreendentemente, mantiveram uma conduta exemplar.

          Por volta das dez da noite, avisei à minha paquera e aos seus pais que levaria os pequenos amigos para casa deles, mas logo retornaria para o animado arraial. Os dois meninos acenaram para a bonita anfitriã e seus educados pais e entraram no veículo. No entanto, mal engatei a primeira marcha os capetinhas colocaram a cabeça fora da janela do carro e começaram a gritar para a jovem:

          - Tchau, gostosa. Até mais, boazuda. Um beijo, saborosa...



(imagem Google)

segunda-feira, 24 de junho de 2013

767 - TORCIDA ORGANIZADA





Nesses tempos de Copa das Confederações, de protestos e manifestações públicas, os brasileiros demonstram sentimentos aparentemente contraditórios. Emitem suas opiniões contrárias aos exagerados gastos com a Copa do Mundo mas demonstram apego e carinho com a seleção de futebol.

Em Várzea Alegre, como em muitos lares brasileiros, parte da família se reuniu neste fim de semana para assistir ao jogo da “canarinho” contra a forte e tradicional equipe italiana. Enquanto um grupo de concentrados torcedores buscava ver os lances, outro aproveitava para festejar o momento, pouco se preocupando com o andamento do jogo.

Bastava o narrador gritar gol, as eufóricas torcedoras vibravam incontrolavelmente. No segundo tempo da disputada partida contra os italianos, um grito de gol vindo da TV despertou a alegria da entusiasmada claquete. Minha incansável tia Rosamélia se levantou da cadeira e vibrou com os braços para cima e as mãos cerradas. Nesse momento, um sobrinho alertou:

- Titia, foi gol da Itália…

Mas a alegre torcedora não desanimou:

- É assim mesmo. O importante é festejar...


(imagem Google)

quarta-feira, 19 de junho de 2013

766 - VOVÓ E SUAS MIL UTILIDADES (Pedra de Clarianã há dois anos)



      Com os seus parcos proventos de professora aposentada, minha avó materna Maria Amélia alcançava o milagre de manter o seu movimentado apartamento em Fortaleza. Sua receptiva morada vivia repleta de parentes que saíam de Várzea Alegre para estudar e trabalhar na capital cearense.

          Para conseguir o equilíbrio do apertado orçamento doméstico e ainda manter uma inacreditável reserva financeira, minha avó exercia intenso controle sobre os produtos adquiridos para a manutenção da residência.

         Certa manhã do início da década de oitenta, logo que me mudei para Fortaleza, me deparei com minha gordinha avó, toda ensaboada, andando do banheiro do quarto dela para o banheiro social do apartamento.

          Diante da cena, após controlar o riso, temi que minha querida vozinha, que já andava normalmente com dificuldades, agora molhada, nua e ensaboada, escorregasse no piso do apartamento.

         Imediatamente chamei a antiga funcionária da casa e indaguei:

         - Gilsa, vovó passou de um banheiro pra outro toda ensaboada. faltando água?

        A fiel e paciente empregada, com um sorriso no canto da boca, respondeu:

        - não, Flavin. É que dona Maria não quer gastar o sabão em pó. Quando ela vai tomá banho aproveita a espuma de sabonete do corpo dela e passa nas paredes dos banheiro pra mode eu esfergar depois...



(imagem Google)

sábado, 15 de junho de 2013

765 - VENDEDOR DA PRAIA





Em Fortaleza, os banhistas disputam o espaço das praias com vendedores ambulantes, que oferecem os mais variados produtos. Sobram ofertas de piaba torrada, camarão, queijo coalho, castanha, amendoim e vários outros petiscos.

Certa manhã de domingo, minha Tia Rosamélia, filhas, genros, sobrinhos e netos ocupavam uma grande mesa na areia branca da Praia do Futuro. Aquele enorme grupo atraiu a especial atenção dos ambulantes, que enxergaram uma grande oportunidade para venda dos seus produtos.

       Entre os ambulantes destacou-se o insistente vendedor de amendoim, que toda hora passava e, com uma colher, distribuía amostras grátis do seu produto para os banhistas. Após algumas horas, finalmente tia Rosamélia decidiu fazer seu pedido ao vendedor:

- Moço, bote cem grama pra mim...

O ambulante pôs o balde cheio de amendoim sobre a mesa e reclamou:

- Minha senhora. Só de prova a senhora já comeu pra lá de mei quilo...

Colaboração: Rosiana de Carvalho Costa
(imagem Google)

quinta-feira, 13 de junho de 2013

764 - CIÚMES (Pedra de Clarianá há dois anos)




         Os especialistas em relacionamentos sustentam que o ciúme pode até estimular o casal pois mantém um parceiro mais atento ao outro. Porém, se obsessivo, atrapalhando ou causando sofrimento, sinaliza que é chegada a hora do ciumento buscar ajuda.

           O funcionário público João Gonçalves Costa e sua esposa Vilani Batista Costa, nascidos em Várzea Alegre, tiveram cinco filhas em um casamento duradouro. Porém, qualquer situação provocava uma intensa crise de ciúme do marido.

         Certa manhã, na década de setenta, em Fortaleza, o casal voltava para a casa, no bairro Itaoca, quando, ao passar ao lado de um quintal cheio de plantas, Vilani, lembrando das roças do sertão, falou:

           - João, espia que pé de feijão mais bunito!!!

        O nervoso marido, conhecido como João Fosquin, em mais uma incontrolável crise de ciúmes, de cara fechada, verberou:

          - Pois se case com ele...



(imagem Google)

segunda-feira, 10 de junho de 2013

763 - CASAMENTO




O casamento é uma celebração comum a diversas culturas. E cada povo segue à risca algumas tradições. Entre os hindus, a chuva no dia do casamento é considerada um sinal de sorte. Na Alemanha, a noiva transporta sal e pão no seu bolso para assegurar recompensa; o noivo traz grãos de cereais para dar saúde e sorte. No Egito, também para atrair a sorte, as mulheres beliscam a noiva no dia do casamento. 

No Brasil não é diferente. Muitas regras são seguidas fielmente, como a proibição do noivo ver a noiva com o vestido do casamento antes da cerimônia.

Certo dia, no sertão cearense, um animado noivo foi convidar um antigo vizinho para o seu ansiado enlace matrimonial. O velho recebeu o jovem com simpatia contudo buscou justificar sua ausência na cerimônia:

- Meu rapaz, eu agradeço muito, mas num gosto de ir em casório não. No último qu’eu fui eu me lasquei todin...

O jovem rapaz, preocupado, perguntou:

- Quando? E de quem foi esse casamento?

O velho vizinho olhou para os lados e falou em voz baixa:

- Faz tempo. Foi no meu...


Colaboração: João Paulo Furlan
(imagem Googgle)

quarta-feira, 5 de junho de 2013

762 - O ARROZ DA TIMBAÚBA (Pedra de Clarianã há dois anos)



        Em Várzea Alegre, na década de oitenta, o agricultor Zaqueu Guedes buscou a agência local do Banco do Brasil para realizar o financiamento da plantação de arroz na sua propriedade rural localizada no Sítio Timbaúba.

         Após uma longa espera, finalmente o gerente do Banco chamou Zaqueu para a mesa de atendimento e perguntou:

         - Seu Zaqueu, quanto o senhor vai precisar para tocar a lavoura de arroz este ano ? Quantas tarefas* o senhor vai plantar?

       - Dotô, lá adonde eu vou prantá é bem pertin de cem – respondeu o experiente agricultor.

        Cumpridas as formalidades, finalmente o banco aprovou e liberou para Zaqueu o empréstimo para a plantação de cem tarefas de arroz.

        Passados dois meses, o agricultor recebeu na sua propriedade a visita do fiscal do Banco do Brasil, responsável pelo acompanhamento da execução dos projetos de financiamento. Após observar e medir com rigor a roça onde fora plantado o arroz, com muita pose, o exigente funcionário do banco contestou:

        - Senhor Zaqueu, no cadastro consta que o senhor obteve um empréstimo para realizar a plantação de cem tarefas de arroz, mas vejo que só tem trinta tarefas plantadas.

        - Pode aí no seu papel, mas eu disse ao seu gerente foi que ia prantá pertin dos cem. – respondeu o agricultor.

        - Mas seus trinta é muito longe de cem, seu Zaqueu. – continuou o fiscal com um sorriso irônico no canto da boca.

       O experiente agricultor, com a sagacidade de sempre, imediatamente retrucou:

      - É nada, meu rapaz. Conte mais eu. Meu vizin Zé Batista prantou trinta tarefa. Meu vizin Ferreira Custodio prantou tombém trinta. Outo vizin Raimundo Cunha prantou mais quarenta. Eu tou ou num tou bem pertin dos cem deles?



* Tarefa é uma medida de área muito usada no interior nordestino

Colaboração: Aldir Cunha

(imagem Google)

domingo, 2 de junho de 2013

761 - NEGÓCIO DA CHINA





Em certa manhã de domingo, vários amigos bebiam e conversavam descontraidamente no animado Bar de Buzuga, no Sanharol, aprazível sítio próximo à sede do Municipio de Várzea Alegre. No meio do divertido papo, o agricultor aposentado Zé de Lula, com ar sério, comentou com o contador Demontiê Batista:

- Tiê, sabe um negócio bom e que num tem pirigo de errado? Num tem como levá xêxo*?

Mesmo conhecendo os espirituosos argumentos do amigo, Demontiê retrucou:

- Zé de Lula, toda atividade tem seu risco. Que negócio é esse que não tem calote?

O cômico agricultor completou:

-  Uma firma de limpa fossa. O cliente tem que pagá direitin.  Num pagou é só devolvê a “mercadoria”…


* comprar um objeto ou serviço e não honrar com o pagamento; calote, logro.
Colaboração: Demontiê Batista
(imagem Google)