terça-feira, 25 de julho de 2017

969 - 47ª MISSA DO VAQUEIRO



No último domingo, com meu pai Luiz Cavalcante, meus irmãos André e Luiz Fernando, meus primos Antônio Costa e Dirceu e o vaqueiro Cícero, saímos de Várzea Alegre, centrosul cearense, para assistir a uma manifestação popular, cultural e religiosa do sertão pernambucano.

Ainda pela madrugada, seguimos no rumo de Serrita, onde há 47 anos, criada pelo padre João Câncio e apoiada pelo cantor Luiz Gonzaga e pelo poeta popular Pedro Bandeira, ocorre a tradicional Missa do Vaqueiro.

O evento religioso se originou do assassinato do vaqueiro Raimundo Jacó, traiçoeiramente morto em 1954 nas terras secas no Sítio Lages, no município pernambucano de Serrita, do outro lado da Chapada do Araripe.

A missa campal, em homenagem a Raimundo Jacó e aos vaqueiros, heróis do sertão, tocou profundamente o nosso pequeno grupo e as milhares de pessoas que se aglomeram na gigantesca estrutura do parque, especialmente construído para o evento.

Ao som de grupos regionais, a celebração contou com a participação do Coral Aboios, cantores Flávio Leandro e Josildo Sá, repentista Pedro Bandeira e pelos aboiadores Chico Justinho e Fernando.

A expressão forte, séria e sofrida dos milhares de vaqueiros, suas típicas vestimentas em couro e seus possantes cavalos  predominaram na festa religiosa.

As falas e o sermão, com temas críticos e atuais, vieram ao encontro das manifestações dos vaqueiros, pois muitos cavaleiros traziam em suas montarias a frase “um país sem corrupção depende da honestidade do seu povo”.

Para reconhecer a iniciativa dos pioneiros, o heroismo de Raimundo Jacó, a bravura dos vaqueiros, a fé do povo, a grandeza dos valores do sertão, deixo um aplauso tipicamente sertanejo, uma chocalhada, tão bem cantada por Luiz Gonzaga na música A Morte do Vaqueiro:

- Tengo, Lengo, Tengo, Lengo, Tengo...

(imagem Google)

sexta-feira, 21 de julho de 2017

968 - NÓ INFIEL



O nó segue a humanidade em sua história, facilitando a vida e provocando mudanças de comportamento. Há nó adequado para cada situação, desde os mais simples, de fácil execução, aos mais elaborados. 

Usados no alpinismo, escoteirismo, salvamento, navegação, no trato com os animais e em muitos outros momentos do nosso cotidiano, são diversos os tipos de nó: de pescador, lais de guia, em oito, de gancho, corrediço, fiel e etc.

Em Várzea Alegre, sertão cearense, em meados do século passado, no fim da tarde, uma agricultora voltou da mata e chegou em casa com um feixe de lenha amarrado por uma corda.

O desconfiado marido, apontando para o feixe jogado ao chão, perguntou:

- Muié, cum quem você tava na roça ? Quem fez esse nó de poico? Isso é nó de homi...

A jovem mulher, agoniada, respondeu:

- foi eu, foi eu...

Intrigado com a resposta, o inseguro marido desatou o difícil nó de porco, também conhecido como nó de barqueiro, e desafiou:

- Apois faça o nó de novo que eu quero ...

Colaboração: Antônio Alves da Costa Neto
(imagem Google)

quarta-feira, 19 de julho de 2017

967 - A ANTIGA SUBIDA DA SERRA



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Por muito tempo a simpática comunidade da Serra dos Cavalos, também conhecida como Serra das Flores, permaneceu isolada da sede do município de Várzea Alegre. O acesso com automóveis, por uma tortuosa estrada, era muito distante, razão pela qual os moradores desciam e subiam a serra por um estreito e sinuoso caminho,  à pé ou em lombo de animais. Os agricultores traziam para negociar na feira da cidade rosário de coco catolé, coco babão, pitomba, araçá, gaiola de palito de carnaúba e puçá, fruta nativa do lugar.

Dias atrás, acompanhei um grupo de queridos caminhantes de Várzea Alegre, sertão cearense, refazendo o íngreme percurso. Do Sítio Coité, em um penoso caminho, subimos por cerca de três quilômetros em direção ao alto da chapada.

Entre uma parada e outra, guiados pelo agricultor Pedro de Nascimento, conhecemos a falada casa do meio, tradicional construção em taipa, na metade do caminho, onde os antigos moradores descansavam na difícil jornada de descer e subir a serra.

No trajeto, na busca do lendário rastro de mãe velha, pegada gravada em pedra, encontramos a áspera folha da caroba, usada antigamente pelas mulheres da região para lixar a unha.

No alto da serra, após pouco mais de uma hora e meia de caminhada, o grupo se deparou com um velho forno usado pelas louceiras para queimar a artesanal panela de barro, dando-lhe a consistência final.

Não bastassem as lindas paisagens do percurso, logo ao chegar à comunidade, como recompensa, fomos gentilmente recebidos pela família de Zé de Ademir Mulato, morador nativo da região, que nos brindou com um delicioso café e saborosas capas(favos) de mel de abelha italiana retiradas há poucas horas da mata.

O pouco fastiento grupo de caminhantes, como de hábito, finalizou o passeio em um jantar, dessa vez na casa de Josa de Jaime Quelé. No farto cardápio, um apetitoso baião de dois com fava, galinha caipira e pão de milho. 

(imagem Google)

sábado, 15 de julho de 2017

966 - TORNOZELEIRA DE COURO

Em tempos de operações policiais, prisões e liberdades provisórias, um instrumento chegou ao conhecimento popular: a tornozeleira eletrônica. O moderno equipamento, empregado para monitorar a prisão domiciliar, usa sinal de gps para localizar o usuário via satélite.

Mas no sertão brasileiro há muito tempo se usa um apetrecho para limitar a capacidade de locomoção dos animais.  A peia, laço em couro que liga dois pés de jumentos, burros e outros animais ariscos, amansam, reduzem seus movimentos e impedem que transponham cercas e outros obstáculos.

Na segunda metade do século passado, o agricultor Zé Severino comprou uma peia para uso em seus animais do sítio São Cosme. Porém, logo no dia seguinte à aquisição, a peça nova desapareceu.

Bastou um rápido levantamento, e Zé Severino descobriu o contumaz autor da subtração. Ao encontrá-lo, o experiente agricultor, trazendo uma antiga e surrada peça em couro, propôs:

- Hômi, fique pelo meno com a véa, que essa pêa aí que você levou eu comprei onte...

Colaboração: Antônio Alves da Costa Neto
(imagem Google)