sábado, 29 de agosto de 2009

79 - REVELADO EM SONHO


          Para custear parte das despesas com a educação de seus vários filhos, o agricultor varzealegrense Raimundo Bitu, conhecido como Padim, durante algum tempo cultivou tabaco para produção de fumo nas terras baixas e férteis do sítio Sanharol. De afiado senso de humor e incontida irreverência, suas histórias representam o jeito simples e inteligente do homem do sertão.

          Certo dia, impedido de umas tragadas por conta da falta de dinheiro, Mané de Vó, nascido Manoel Inácio, morador do mesmo sítio, apelando para o sentimentalismo e saudosismo de Padin, disse:

         - Cumpade Raimundo, sabe com quem sonhei essa madrugadinha? Com tua mãe e ela mandou dizer que você me arrumasse uma rola de fumo.

        - Eita, cumpade, que coisa! Essa boca da noite dei um cochilo e sonhei com sua mãe também. Ela foi logo me dizendo, Raimundo peça pra Mané parar de fumar.

Colaboração: Francisco de Assis, conhecido como Tico de Mané de Vó.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

78 - RESERVA DE LUXO





         Por muitos anos o Estado do Ceará dominou o futebol de salão, sobretudo através do SUMOV, equipe que conquistou por seis vezes a Taça Brasil. A existência de inúmeras quadras para a prática do esporte certamente contribuiu para o aprimoramento dessa modalidade esportiva entres os cearenses.

         No início da década de 80 meu estimado primo Aeldo Costa Campos Júnior foi goleiro reserva da equipe de futsal do colégio em que estudava em Fortaleza. Embora bastante esforçado, sempre usando impecável material esportivo, o galego nunca conseguia atuar nos jogos, apenas esquentava o banco de suplentes.

        Porém, certo dia, em uma acirrada competição intercolegial, surgiu a tão esperada oportunidade de mostrar o seu potencial de arqueiro. Por conta de uma forte dividida com um jogador da equipe adversária, o goleiro titular sofreu uma grave lesão, torcendo o tornozelo. Enquanto o titular era atendido e se contorcia em dores, Aeldo Júnior começou a se alongar e iniciar o aquecimento. Os demais alunos do colégio, na torcida, pressentindo que finalmente veriam o enfeitado goleiro entrar na quadra, passaram a gritar pelo apelido do loiro goleiro reserva:

        - Arara, Arara, Arara...

         Entretanto, o técnico da equipe preferiu retornar com o goleiro titular, que não conseguia sequer firmar direito o pé inchado no chão e nem disfarçava seus gemidos e expressões de dor. Preterido por um atleta de um só pé, a decepção tomou conta de Aeldo Júnior. Não bastasse, em evidente zombaria, a torcida continuou a gritar:

       - Arara, Arara, Arara...


(imagem Google)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

77 - OURO BRANCO

           Nos últimos dias do mês de agosto Várzea Alegre vive uma grande festa. Na homenagem ao padroeiro São Raimundo Nonato, a cidade do sertão cearense recebe inúmeros visitantes e se emociona com a volta de milhares de varzealegrenses que migraram para diversos lugares do mundo. Além das intensas atividades religiosas, com salvas de fogos, novenas e procissão, o clima festivo toma conta da receptiva cidade, especialmente no parque de diversões e nas barracas instaladas nas ruas centrais.

           Ainda no auge da produção do algodão arbóreo, início da década de oitenta, antes da arrasadora praga do bicudo*, o agricultor Gilson Primo procurou o seu amigo Antônio Ulisses para vender várias sacas do “ouro branco”. Na verdade, se tratava de antecipação da safra, pois se aproximava o marco inicial das comemorações - dia do levantamento da bandeira - e Gilson buscava dinheiro para investir na ansiada festa de agosto. Sentado em sua cadeira de balanço na calçada alta do escritório de compra e venda de algodão e oiticica, localizado no início da “Rua dos Perus”, o corretor Antônio Ulisses perguntou:

          - Gilson, você vai querer quanto?

          O repentista e divertido agricultor, já imaginado onde e como gastaria o dinheiro, com sua forma pausada de articular as palavras, disse:

          - Antônio Ulisses, bote o que der, mas note aí na ficha de São Raimundo, pois vamo nas barracas trocar tudo por bagos de garrafa.



* Bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) besouro responsável por importante praga agrícola nos E.U.A., introduzido no Brasil em 1983 e causador de enormes prejuízos nas plantações de algodão do sertão nordestino.(fonte: Wikipedia)

Colaboração: Antônio Alves da Costa Neto

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

76 - TURISTA




       Minha tia Rosa Amélia aceitou meu convite e dias atrás veio conhecer o Estado que me acolheu. Em apenas uma semana de passeio, com sua simpatia e contagiante disposição, saboreou da deliciosa vida no Amapá.

        Comeu várias doses de camarão no bafo na praia do bucólico distrito de Fazendinha. Ao lado da histórica igreja de São José, provou uma cuia do tradicional tacacá, servido na calçada da central e movimentada Rua São José. No Igarapé da Fortaleza tomou açaí "do grosso" misturado com farinha de tapioca. Foi à feira do produtor rural comprar castanha-do-pará, cupuaçu e molho de tucupi. Depois de visitar a Casa do Artesão, bebeu latas de cerveja com sal e limão preparada por Lourival. Em passeios pela orla, especialmente no “lugar bonito”, contando com a proteção das centenárias muralhas da bem conservada Fortaleza de São José de Macapá, se refrescou com a brisa soprada nas margens do gigantesco Rio Amazonas.

       No interior, no aprazível Município de Ferreira Gomes, antes de se deliciar com uma bem servida caldeirada de peixe, minha tia banhou-se feito criança nas águas límpidas do Rio Araguari, bem longe de sua foz e de onde acontece o famoso fenômeno da pororoca.

        É bem verdade que faz muito bem viajar, conhecer novos lugares, contatar pessoas e culturas diferentes. Mas para tia Rosa Amélia sua vinda ao Amapá trouxe ainda mais benefícios. Ao voltar para Várzea Alegre, fez o seguinte comentário:

        - Gostei tanto do passeio que cheguei me sentindo mais jovem e mais bonita. Só quando me vi no espelho do meu quarto notei que ainda continuava com as marcas dos meus setenta e cinco anos de idade.


(imagem Google)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

75 - O PEDIDOR DE ESMOLAS

          Com cerca de dez anos de idade, Antônio Ulisses viajou pela primeira vez à Capital do Estado. Foi passar férias na casa do seu irmão mais velho, o também saudoso João Costa, conhecido carinhosamente por João Fosquin, em razão do seu corpo esbelto.

          Já em Fortaleza, após percorrer os mais de 400km da longa viagem, o menino Antônio Ulisses, depois de descer do caminhão-misto, trazia debaixo do braço a rede onde dormiria naqueles dias de passeio pela capital alencarina. Desde criança, Antônio Ulisses foi desajeitado, descuidado e, naquela manhã, não percebeu que a rede havia desenrolado e os cordões do punho se arrastavam pelo chão.

           Ele seguia logo atrás do seu irmão e, em determinado momento da caminhada, em frente ao famoso Cine São Luiz, João se encontrou com um colega de trabalho. Também muito espirituoso, não quis apresentar aquele garoto esquisito como seu irmão e se dirigiu ao pequeno dizendo:

         — Eu já disse “perdoe” a este menino não sei quantas vezes e ele não larga do meu pé.


*Do livro Conte Essa, Conte Aquela - Hisotórias de Anônio Ulisses"

sábado, 15 de agosto de 2009

74 - CAIXOTE MÁGICO






        Fundada em setembro de 1950 por Assis Chateaubriand, a TV Tupi de São Paulo foi a primeira emissora de televisão do Brasil. Porém, a revolucionária invenção do escocês John Baird demorou a se espalhar pelo restante do país, especialmente pelas pobres regiões do nordeste.

        Fugindo das intempéries do sertão cearense, o ferreiro Chico Basil viajou para São Paulo logo no início da metade do século passado. Na progressista região teve a oportunidade de conhecer o impressionante invento.

        Depois de um bom tempo trabalhando na terra da garoa, na volta para o Ceará Chico logo explicou para o seu velho pai, Antônio Basil de Oliveira, a novidade do sul:

        - Papai, o sinhô carece vê uma coisa que tem no São Paulo. É uma caixa de madeira que daqui de Várzea Alegre nós enxerga e ouve uma pessoa que tá conversando lá nas bandas das Lavras da Mangabeira.

        O cético sertanejo Antônio Basil logo retrucou:

        - Chico, meu fi, deixa de leriado*. Eu ainda tou custando** a acreditar na caixa que só fala e já vem com outra que enxerga o povo que noutras paragens.

 
* vocábulo cearense que significa “conversa fiada”
** flexão do verbo custar, que, no ceará, é sinônimo de demorar
(imagem Google)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

73 - GRAVIDEZ INDESEJADA



         Nesta época de rígidas imposições estéticas, a busca pelo corpo perfeito virou obsessão para inúmeras pessoas. Os homens anseiam possuir formas de Deus grego; as mulheres, silhuetas de atrizes e modelos famosas. Embora o excesso de peso se torne cada vez mais comum, ser gordo está completamente fora de moda.

          Não bastasse, os obesos são alvos preferidos de maliciosas piadas e tratados por ridículos apelidos. Ninguém consegue escapar ileso, nem mesmo o famoso jogador de futebol “Ronaldo Fenômeno”, costumeiramente tratado por gorducho.

         O varzealegrense Alberto, proprietário da Casa Zé Augusto, por conta do seu aguçado apetite, sempre cultivou uma barriga protuberante.

         Certo dia, em seu concorrido bar, escutou o comentário e a maliciosa pergunta de um gaiato freguês:

        - Eita que barriga grande, Alberto! Quando a criança vai nascer?

        A resposta do espirituoso comerciante foi imediata:

       - Tá nascendo. O braço já tá no lado de fora. Puxe aqui.


(imagem Google)

sábado, 8 de agosto de 2009

72 - ROMEIRO EM SALVADOR




         Todo turista costuma trazer lembranças de suas viagens, especialmente miniaturas dos pontos turísticos que visita. Assim, quem vai a Paris compra miniaturas da famosa torre construída por Gustave Eiffel para Exibição Universal de 1889. Indo ao Rio de Janeiro é de praxe adquirir pequenas cópias do belo monumento Cristo Redentor, inaugurado em 1931. Aqueles que vêm à Macapá não deixam de buscar pequenas réplicas da imponente Fortaleza de São José, encravada na margem do Rio Amazonas desde a segunda metade do século XVIII.

         Meu querido primo Sérgio Ricardo, no início da década de 70, ainda criança, acompanhou seu pai Sérgio Carvalho em uma viagem para a distante cidade de Salvador. Logo na visita ao centro histórico do Pelourinho, Sergin não esqueceu de pedir dinheiro ao pai a fim de comprar lembranças para suas irmãs Romélia, Rosélia, Rosânia, Rosiana, Rogéria e Romênia.

         No retorno para a pequena Várzea Alegre, o garoto imediatamente entregou as recordações da viagem. Para surpresa das seis irmãs, em vez de réplica do conhecido Elevador Lacerda ou de outros belos monumentos da capital baiana, Sergin trouxe para cada uma das Ro’s uma caneta bastante fabricada e vendida na vizinha Juazeiro do Norte. No singelo presente continha a frase "lembrança de Padre Cícero Romão Batista".


(imagem Google)

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

71 - LÍQUIDO PRECIOSO




           Desde que D Pedro II deu a ordem para construção do açude do Cedro em Quixadá, o Estado do Ceará recebe a passos lentos alguns investimentos na busca de armazenamento de água e luta contra a temível seca.

         Mesmo demorando quase cem anos para sua concretização, o açude Olho D’Água, inaugurado em 1998, significou enorme avanço para o progresso de Várzea Alegre. Antes da barragem sobre o riacho do Machado, o sofrível abastecimento de água era complementado por carroças pipas que circulavam diariamente pelas ruas vendendo o precioso produto.

         Como a água encanada só chegava às torneiras por poucas horas da noite, meu querido pai, Luiz Cavalcante, providenciou a construção de uma grande cisterna em nossa casa.    Porém, o motor que adquiriu sempre apresentava defeito, não conseguindo bombear o líquido da cisterna até a caixa d’água. Vários técnicos foram levados para ver o equipamento, mas o problema continuava. Até que um dia o positivo e irreverente Carlin de Dalva, chamado para consertar o defeito, foi logo condenando a máquina:

         - Seu Luiz, essa bomba não tem jeito não, é fraca demais pra levar a água até a caixa.

         Meu pai, temendo o novo gasto, apontando para o alto coqueiro do quintal, respondeu:

        - Carlin, esse pé nunca teve bomba e chega água nos cocos lá nas alturas.


Colaboração: André Costa Tanaka
(imagem Google)

terça-feira, 4 de agosto de 2009

70 - MACARRONADA DE FERREIRO




        Por muito tempo a simplicidade do cearense de Várzea Alegre também se revelou nos seus hábitos alimentares. O cardápio pouco variava, não ia muito além dos tradicionais e apetitosos mungunzá, baião de dois, feijão com pão de milho e pão de arroz.

         Na seca de setenta, depois de arrumar um serviço nas frentes de emergência do governo e por a mão em um raro dinheiro extra, o ferreiro Chico Basil resolveu fazer umas compras na budega de Zé Manga Mucha. Entre os produtos adquiridos levou para casa um pacote de macarrão da marca Pilar para sofisticar e variar um pouco suas refeições.

         Ao chegar, ansioso por saborear a novidade, pediu logo a sua velha e magra mãe, de nome Senhora, que preparasse o macarrão para o almoço. Sem nenhum costume com a massa, dona Senhora, em vez de cozinhar, fritou a novidade com banha de porco em uma panela de barro na trempe* do fogo a lenha.

        Quando Chico recebeu o prato contendo o macarrão, decepcionado, reclamou:

        - Mamãe, eu pidi pra mode fazer foi macarrão, num foi fazer palito de gaiola de passarin não, mamãe. Ta duro que só pedra de calçamento!


*As três pedras sobre as quais se apóia a panela quando levada ao fogo.
Colaboração: Jonas Morais
(imagem Google)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

69 - XÔ STRESS




         Não há como evitar os aborrecimentos naturais do dia-a-dia. No curso natural da vida o homem vive inúmeros momentos de stress, quando acontece uma reação do corpo a fatores externos desfavoráveis.

         O mal já existia antes mesmo do termo stress ser usado pela primeira vez na primeira metade do século passado. Contudo, encontrou ambiente ainda mais favorável a sua disseminação no apressado, agitado e competitivo mundo dos dias atuais.

        Os profissionais da área de psicologia recomendam várias maneiras de combater o problema, que vão desde a busca de uma alimentação saudável, a prática de exercícios físicos regulares, até a ingestão de medicamentos.

        Porém, o honesto e trabalhador Joaquim Bitu, agricultor que se tornou um próspero comerciante em Várzea Alegre, na sua simples sabedoria de matuto, há décadas desenvolveu uma técnica especial para combater os momentos de turbulência do cotidiano.

        Diante de um aborrecimento ou chateação provocado por qualquer pessoa, o saudoso Joaquim Bitu não deixava transparecer o seu sentimento de indignação. No mesmo instante praticava um gesto que aliviava suas tensões. Com discrição, montava com o dedão da mão direita um obsceno cotoco, escondendo-o no bolso da frente de sua folgada calça de brim bege.


(imagem Google)

domingo, 2 de agosto de 2009

68 - MISTURANDO OS SANGUES




        Após se conhecerem em Fortaleza e namorarem por um período, a bela varzealegrense Paula Goretti e o japonês Harumi Tanaka decidiram contrair núpcias. O casal escolheu a cidade da noiva, a pequena Terra do Arroz, para realizar a cerimônia.

        Para o casamento religioso, ocorrido em 1978, vários parentes do nubente japonês vieram à Várzea Alegre. Na época, a pequena cidade sofria com o isolamento e não costumava receber visitas de pessoas de outros paises, muito menos oriundos da distante terra do sol nascente.

         O pai do noivo, Saburo Tanaka, sobrevivente das bombas da 2ª Guerra Mundial, veio de Castanhal, Estado do Pará, onde vivia em uma comunidade isolada, mantendo as tradições e a língua japonesa.

         No dias de confraternização, em que pese a simpatia dos cearenses e a paciência dos japoneses, aconteceram pequenos choques no encontro de culturas e línguas totalmente diferentes. De um lado, a sofrida e extrovertida tradição sertaneja, do outro, a milenar e circunspeta civilização oriental.

         Chamou a atenção a forma dos japoneses se cumprimentarem. Meu pai Luiz Cavalcante, muito hospitaleiro, na chegada da comitiva nipônica foi logo dando a mão, mas ficou sem jeito, com o braço estendido, e sem saber como retribuir o gesto sereno e simples de abaixar a cabeça dos visitantes.

         Os anfitriões estranharam a forma como uma irmã do noivo lia um livro em japonês. Em vez de seguir a frase na horizontal como na escrita ocidental, a leitura da japonesa se dava de cima pra baixo.

         Atualmente ninguém mais se surpreende com a presença de orientais na pequena Várzea Alegre, pois além da globalização e do melhor acesso a informações, a qualquer hora é possível encontrar um descendente do estranho Saburo Tanaka caminhando sobre os paralelepípedos das ruas da cidade.

Colaboração: André e Alan Costa Tanaka

sábado, 1 de agosto de 2009

67 - DÚVIDA





         Em 1970 minha avó materna Maria Amélia se mudou para Fortaleza. No mesmo caminho seguiram seus filhos solteiros Francisco das Chagas, Maria Zélia, Paulo Danúbio e Paula Goretti. Dos não casados, apenas Antônio Ulisses ficou em Várzea Alegre.

        Em dúvida sobre a mudança para Fortaleza, onde já morara cumprindo o serviço militar obrigatório, Antônio Ulisses escolheu o acolhedor comércio de Alberto para curtir a saudade da mãe e dos irmãos e meditar acerca de sua ida ou não para a Capital Alencarina.

         O sagaz Alberto, conhecedor da angústia do amigo, pôs para tocar a música Daqui Pra Lá no volume máximo da radiola do bar:

     Não sei se vou, não sei se fico,
     Se eu fico aqui, se eu fico lá.
     Se estou lá tenho que vir
     Se estou aqui tenho que voltar.

         Sozinho em uma mesa, tomando cerveja e pensando na vida, Antônio Ulisses, apenas com um gesto na mão, toda hora pedia a Alberto para voltar a música. A melancólica cena entrou na madrugada e se repetiu durante todo o final de semana, até porque o dono do bar adorava “dar corda” e aperrear seu amigo Antônio Ulisses.

         Na segunda-feira seguinte, logo pela manhã, Antônio Ulisses foi até o escritório do usineiro Joaquim Diniz para apanhar alguns sacos de estopa para guardar algodão. O simpático empresário, morador da Rua Duque de Caxias, próximo ao Bar de Alberto, surpreendeu com o comentário:

        - Afinal, Antônio Ulisses, você vai ou fica? Se não decidiu pelo menos vire o disco. Eu e Balbina já ouvimos demais aquela música.


(imagem Google)