A bicicleta é capaz de
nos levar a lugares inimagináveis e de nos proporcionar fortes
emoções. De
23 a 26 de junho de 2017, esses veículos de duas rodas nos
transportaram por grande parte do território amapaense. Eu e um grupo de amigos
enfrentamos o desafio de percorrer cerca de seiscentos quilômetros pedalando de
Macapá ao Oiapoque.
Desde criança curti
andar de bicicleta. Assim, prestes a completar cinquenta anos de idade, decidi
comemorar
meio século de vida de maneira lúdica:
pedalando com amigos.
Sobre duas rodas cruzamos imensas áreas
de campos, florestas e cerrados do Amapá. Subimos e descemos íngremes ladeiras.
Não bastasse, também enfrentamos extensos e quase intransponíveis atoleiros,
formados no trecho não pavimentado da Br 156. Na parte final, percorremos áreas
indígenas do Uaça, circundando as aldeias Piquiá, Curipi e Estrela.
Como trabalhei em todos os municípios
do Amapá, por inúmeras vezes, de carro, trilhei esses caminhos. Dessa última vez,
de bicicleta, tornou-se mais fácil observar os lugares e manter contatos com as
pessoas. Na comunidade do Carnot, município de Calçoene, conhecemos o senhor
Manoel Souza, experiente carpinteiro, nascido na localidade de Cunani, que,
enquanto concluía a construção de uma canoa em madeira, nos
contou, com orgulho, histórias dos habitantes da região.
No início da noite do dia 26,
esquecemos as dificuldades do percurso ao alcançar o famoso marco ficado às
margens do Rio Oiapoque, na cidade do mesmo nome. No ponto onde se cunhou a
frase "aqui começa o Brasil" terminou o pedal para o nosso grupo.
Findou para a maioria, pois os incansáveis Coutinho e Washington, cedo do dia
seguinte, voltaram de bicicleta para Macapá, realizando, em
sete dias, uma pedalada de mil e duzentos quilômetros.
Esses momentos marcarão para sempre as
nossas vidas. Não esqueceremos jamais os sons vindos das matas, os refrescantes
banhos nos igarapés e cachoeiras, as expressões de espanto dos poucos moradores ao longo da rodovia ao saber
que rumávamos de bicicleta ao extremo norte do Brasil.
A cada dia creio mais intensamente que todo
ciclista possui um parafuso solto, cultiva um pouco de loucura. E isso é bom. Pois
a ditadura da sanidade nos impediria de enfrentar desafios, de provocar emoções e de viver
dias inesquecíveis como os saboreados no maravilhoso “Pedal dos
50”.
(imagem Google)