domingo, 24 de abril de 2016

923 - A "BUDEGA" E OS ROLOS DE FUMO

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A Casa São Raimundo, estabelecimento do ramo de secos e molhados, situada no centro de Várzea Alegre, sertão cearense, completa, neste mês de abril de 2016, setenta anos de funcionamento ininterrupto. Em 1946, foi adquirida pelo comerciante e agricultor Raimundo Cavalcante, popularmente conhecido por Raimundo Silvino.



Em meados do século passado, nas tratativas para compra da budega,  houve um pequeno entrave que quase impediu a concretização do negócio. Mário Cassundé, proprietário, condicionou a venda do ponto comercial à inclusão de uma grande quantidade de fumo em rolos, produzido no sítio Monte Alegre, município vizinho de Farias Brito.



Com a exigência, Raimundo Silvino pensou em desistir, pois suas economias não eram suficientes sequer para comprar a budega, quanto mais com os rolos de fumo incluídos pelo vendedor, o que dobraria a quantia necessária para o negócio, dez contos de reis.



Mesmo assim, acompanhado de seu filho primogênito Luiz Cavalcante, de apenas 10 anos, Raimundo Silvino visitou o depósito repleto de rolos de fumo, localizado no bairro Betânia, na pequena Várzea Alegre. Na ocasião, ao entrar e demorar alguns minutos no recinto, o menino Luiz se embriagou com o forte cheiro exalado pelo fumo.



Mário Cassundé insistiu na venda da budega casada com os rolos de fumo, contudo propôs que Raimundo quitasse inicialmente apenas o valor do ponto comercial, facilitando e parcelando o pagamento da quantia relativa ao fumo:



- Raimundo, você é um homem trabalhador e com crédito. O fumo você me paga na maciota...



Homem corajoso e empreendedor, Raimundo Silvino aceitou as condições e o negócio se concretizou. Em uma sorte comum àqueles que ousam, logo após a compra, o fumo melhorou substancialmente de preço no mercado, permitindo ao novo dono da budega pagar sua dívida com Mario Cassundé bem mais fácil e rapidamente do que esperava.



Atualmente, após 70 anos da compra, Luiz Cavalcante(Silvino), com 80 anos de idade, cheio de energia e disposição, continua a atividade iniciada pelo pai e se orgulha de contar essa história, da qual foi testemunha ainda criança.



Fosse um estudioso, um escritor, o experiente Luiz Silvino poderia lançar um livro de autoajuda para os novos comerciantes e empreendedores, certamente um best-seller, que, entre outras lições adquiridas em várias décadas de balcão, lembraria que não devemos nos apavorar, nem desanimar, quando o fumo entrar no negócio.



(imagem Google)

domingo, 3 de abril de 2016

922 - O MARQUÊS DE BICICLETA

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Buscando voltar no tempo,  usando roupas elegantes, com bicicletas antigas e de estilo mais tradicional, em 2009 surgiu em Londres, na Inglaterra, o movimento que se espalhou pelo mundo e por algumas cidades do Brasil com o nome Bike Chic Retrô

Em Macapá, os amigos Jair Borges e Leandro “Bombeiro” juntaram vários grupos de ciclistas e desde o ano de 2015 realizam o Pedal Chic Retrô. Como na primeira edição, neste ano de 2016, o evento contou com cerca de cem participantes, que cuidaram de detalhes nas vestimentas e nas bikes para lembrar o período em que as bicicletas eram maioria sobre os automóveis nas vias das cidades.

Saindo da Fortaleza de São José de Macapá, ontem, dia 2 de abril, o estiloso passeio percorreu as ruas centrais e da orla do Rio Amazonas e parou em outros prédios históricos e importantes da capital amapaense, como a antiga Intendência – atual Museu Joaquim Caetano, Igreja de São José e sede regional da Ordem dos Advogados do Brasil. No final, todos se confraternizaram e saborearam lanches servidos em um animado piquenique.

E mais uma vez os ciclistas contaram com o importante apoio dos conservados veículos do Clube do Fusca, despertando ainda mais o interesse e atenção de todos que assistiram à passagem do  II Pedal Chic Retrô.  

Como todos os participantes, cuidei pessoalmente dos detalhes da minha Cobrita, bicicleta de quadro antigo, especialmente montada para o evento. Em armarinhos da cidade, adquiri acessórios para minha vestimenta, como suspensório, óculos, gravata borboleta e cartola. Afinal, neste dia, encarno o antigo ciclista com o título honorífico de  Marquês de Várzea Alegre.

Como também busquei registrar as imagens do pedal, em alguns momentos me distanciei e me separei dos demais participantes, buscando melhores ângulos para as fotografias. Em um desses momentos, no final do passeio, no entorno da histórica Fortaleza, uma criança de aproximadamente cinco anos me viu passar apressadamente na minha exótica bicicleta,  desengonçado e pouco elegante, com uma exagerada cartola na cabeça. O pequeno garoto correu em direção a um grupo e pessoas, e, apontando para mim, gritou várias vezes:

- Olha, papai, um palhaço. Um palhaço de bicicleta, papai...

(imagem Google)