sexta-feira, 29 de outubro de 2010

267 - CAMINHADA





             As facilidades do mundo moderno nos levam ao perigoso sedentarismo. Para combater a acomodação física os médicos recomendam práticas saudáveis como a caminhada. A atividade é comum nos parques, orlas, praças, avenidas e rodovias de todas as cidades.

            Em Várzea Alegre, sertão cearense, depois de indicação médica, o mecânico Luiz de Marechal, perto de completar cinquenta anos, decidiu iniciar a caminhada em uma nova praça da cidade.

           No primeiro dia de atividade física, os demais praticantes estranharam a repentina disposição do varzealegrense. Várias pessoas abordaram o novo atleta, entre os quais o conhecido comerciante Alberto Siebra, adepto da saudável atividade física. Estranhando a novidade, o comerciante perguntou:

         - Começou a caminhar hoje, Luiz?

         Já meio incomodado com tantos comentários e ainda pouco acostumado com o revigorante exercício, o mecânico respondeu:

          - Nan, Alberto. Já faz 48 anos que eu caminho e antes de caminhar eu ainda engatinhei.



Colaboração: Carlos Leandro da Silva (Carlin de Dalva)

(imagem Google)

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

266 - RELÓGIO





           O homem sempre buscou se orientar sobre o tempo. Ao longo da história, usou vários instrumentos para contagem das horas, desde os equipamentos com auxílio do sol até os precisos relógios de hoje.

           No início da década de 1980, os irmãos Klébia, Klecin e Manin deixaram a pequena Várzea Alegre para estudar e trabalhar em Fortaleza. Com o apoio da família, mesmo com limitações e dificuldades, os jovens decidiram enfrentar a vida na capital cearense.

          Nesse período, Klecin arrumou um emprego em uma empresa de pinturas. Não adiantou a ponderação de seus irmãos para que usasse o pequeno salário com necessidades mais prementes. Quando recebeu o primeiro pagamento, Klecin realizou seu desejo e gastou todo o dinheiro comprando um relógio.

         No final de semana seguinte, sem dinheiro, com poucas roupas no armário, mas já com a nova aquisição no pulso, Klecin pedu ao irmão:

         - Manin, me empreste uma camisa sua pra eu ir no show de Ednardo no ginásio Paulo Sarasate.

         Ainda chateado com a opção feita pelo irmão, Manin respondeu duramente:

         - Esse bicho véi!!! Vá vestir seu relógio..

        No dia seguinte, Klecin novamente solicitou ao irmão:

       - Manin, vou jogar bola na pracinha do Jardim América. Posso usar seu kichute* ?

        - De jeito maneira. Calce seu relógio novo...



Colaboração: Klébia Fiúza

(imagem Google)

* Kichute é um calçado, misto de tênis e chuteira, produzido no Brasil desde a década de 70 pela Alpargatas, teve seu ápice entre os anos de 1978 e 1985(fonte: Wikipédia)

sábado, 23 de outubro de 2010

265 - SEGUNDA-FEIRA






         No final da década de 1980, em Fortaleza, meu querido primo Aeldo Junior trabalhou em uma empresa de pesca de lagosta, atividade importante na economia cearense.

          Nessa época, após um final de semana de muito forró regado por exageradas doses de vodca, Aeldo Junior acordou muito mal na segunda-feira. Mesmo com forte enjôo e latejante dor de cabeça, conseguiu bravamente trabalhar no expediente da manhã. Mas após o almoço a situação piorou e Aeldo não conseguia se concentrar na sua atividade. Suando frio e com intensa ânsia de vômito, resolveu falar com a sua superior, apresentando uma desculpa para ir curtir a ressaca em casa:

         - Chefinha, eu tenho um pagamento pra fazer no Bradesco, a senhora me deixaria sair um pouco mais cedo?

        A chefa, com polidez, consentiu com a saída antecipada do funcionário, mas também pediu:

           - Aeldo, olha que coincidência. Tenho umas contas do Bradesco pra pagar também. Aproveite e faça esses pagamentos pra mim? – disse a chefe, entregando um bolo de carnês ao agora desesperado funcionário.



(imagem Google)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

264 - BOMBARDEANDO O MILITAR





          Na década de oitenta, os varzealegrenses Klébia, Klecin, Manin e Socorrinha moraram em uma modesta casa do Bairro Montese, em Fortaleza. Seguindo o mesmo caminho de outros conterrâneos, com dificuldade, mudaram-se para a capital alencarina em busca de novos conhecimentos e trabalho.

          Naquela época, Socorrinha namorou um sério militar da aeronáutica que sempre visitava a residência do Montese. O namorado se comportava como se vigiasse o quartel, com semblante fechado e mantendo a postura disciplinada da caserna.

          Nas visitas, Socorrinha e o militar sentavam em cadeiras de ferro do jardim, enquanto os irmãos Klébia, Manin e Klecin assistiam ao popular programa do Irapuã Lima na velha tv da sala. Aqui e ali, o namoro era interrompido por Manin, que ia ao jardim e passava a mão na barriga, reclamando que o baião de dois com piqui não lhe fizera bem. A cena se repetia várias vezes e sempre Socorrinha exclamava:

          - Eita minino podre!!!

          Certo dia, Manin se empolgou na TV e não saiu para o jardim da casa, onde os namorados permaneceram sozinhos. Quando se despediu do militar, Socorrinha entrou rapidamente na sala e disse:

          - Ei Manin. Tu tá surdo hoje? Bati várias vezes na cadeira dando sinal para você ir lá comigo e você não foi. Você quer que eu morra com nó na tripa segurando peido?

          Manin, que recebia cinquenta centavos da prima por cada bufa assumida, justificou:

         - Valha, eu esqueci. Me empolguei com o show de calouros de Irapuan Lima e nem ouvi as batidas na cadeira.



Colaboração:Klébia Fiúza

(imagem Google)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

263 - GATO ESCALDADO...





          Milhares de migrantes deixam seu querido nordeste em busca de novas oportunidades. Embora também rumem para outras regiões do país, o sudeste, especialmente a grande São Paulo, continua como principal pólo de atração desses bravos homens e mulheres.

          No final do século passado, os varzealegrenses Gilvan Ferreira e Antônio Louro migraram e conseguiram trabalho em uma fábrica do ABC Paulista. Certa madrugada de muito frio, os dois cearenses chegavam ao refeitório da Brastemp, em São Bernardo do Campo, quando observaram duas colegas de trabalho falar sobre pequenos gatos que se acomodavam em um canto:

           - Olha só! Os gatinhos juntinhos se protegendo do frio - admirou-se uma das operárias.

         Antônio Louro, querendo ser engraçado e flertar as trabalhadoras, falou:

          - Nun são gatos não, são gatas. Gato aqui sou eu.

         Foi o suficiente para que, sem sequer olhar para os colegas de turno, uma das operárias falar para outra:

          - Rosa, você não falou que sua rua tá infestada de rato? Leva o gatão aí pra pegar as ratazanas nos esgotos de lá...



Colaboração: Gilvan Ferreira Lima

(imagem Google)

domingo, 17 de outubro de 2010

262 - USE CAMISINHA





                   Desde a segunda metade do século passado, com o surgimento da temida AIDS, os órgãos de saúde pública lançam sucessivas campanhas de esclarecimento, estimulando o uso de preservativos.

            Certa vez, em Macapá, uma equipe da área da saúde reuniu um grupo de homossexuais em uma palestra reforçando a importância do uso das camisinhas para evitar doenças sexualmente transmissíveis.

            Após a esclarecedora apresentação, a profissional de saúde responsável pelo evento olhou para um conhecido e assumido homossexual da platéia e disse:

            - Você sempre usa camisinha, não é?

            O homem, com ar sério, respondeu:

            - Não, não. Eu nunca uso...

           A profissional se espantou com a inesperada resposta e, sem esconder a rispidez, comentou:

           - Como pode? Você uma pessoa tão inteligente, mestre e professor. Com tanta informação e ainda dizer que não usa preservativo. Isso é um absurdo!

           - Espere, querida. Você não me deixou completar. Eu nunca uso  porque quem usa sempre são meus parceiros.

 
(imagem Google)


sábado, 16 de outubro de 2010

261 - "ESTRAGADO"





            Em 1991 quando cheguei ao Amapá logo me impressionei com a orla do gigantesco Rio Amazonas. Todas as noites, após o expediente no escritório situado ali próximo, o passeio pelo encantador lugar era sagrado. Melhor ainda quando surgia uma boa conversa regada a cerveja em lata com sal e limão preparada pelo vendedor Lourival.

             Numa dessas noites, lá pelas vinte e duas horas, chegou ao aprazível local o amigo Marcos Nogueira, advogado que me trouxe e me apresentou ao Amapá. Um pouco mais tarde, depois de esvaziar várias latas de cerveja, Marcos se afastou para cumprimentar uns colegas, ocasião em que Lourival comentou baixinho:

            - Doutor Marcos estragado, não é?

            Eu, mesmo não concordando, confirmei com a cabeça. Achei estranha a observação do vendedor de cerveja porque Marcos sempre foi muito vaidoso e cuidadoso, aparentando ter menos idade. Só depois que fui saber que “estragado”, nas terras tucujus, também significa bastante alcoolizado.

           Um pouco mais tarde, nossa descontraída conversa foi interrompida por uma discussão bem próxima de nós envolvendo duas mulheres. Formou-se uma grande confusão e uma das mulheres passou a esbravejar para a outra:

           - Sua caceteira sem vergonha. Sua caceteira vagabunda...

           Logo as duas briguentas foram retiradas e a calma voltou ao lugar. Mas eu, na minha ignorância de cearense do sertão, mais uma vez estranhei o palavreado. Curioso e desconfiado, perguntei ao amapaense Lourival o que significava “caceteira”. O vendedor, também tomando a sua cerveja, explicou:

         - Mano, sapateira é de guardar de sapato. Lancheira é de guardar lanche. Então caceteira é de guardar...



(imagem Google)


quarta-feira, 13 de outubro de 2010

260 - SORTE NA CHUVA





          Na década de oitenta, em Várzea Alegre, no bar de Zé Caetano, não faltava uma rodada de “Fó e Bata”, jogo de baralho preferido dos freqüentadores do local.

          Certo dia, a sorte nas cartas não acompanhou João de Dora. O azar do barbeiro devia ser por conta de uns curiosos – chamados perus - que rodeavam a mesa do jogo. Porém, Chico Bode, outro jogador, não foi afetado, pois ganhou todas as partidas.

          Depois de perder o dinheiro apurado na barbearia, João de Dora jogou as cartas na mesa, coçou a cabeça, e, com sua voz arrastada, lamentou:

          - É danado! Além de ter alisado inda tá chovendo. Cuma é que é vou pra casa agora ?

           Em meio aos estrondos dos trovões, o sortudo Chico Bode disse:

            - Pelo meno você num móia o dinheiro...



Colaboração: Carlos Leandro da Silva(Carlin de Dalva)

(imagem Google)

domingo, 10 de outubro de 2010

259 - VELHO MOUCO






          Dados do Ministério da Saúde informam que no Brasil a deficiência auditiva afeta 30 em cada 10 mil pessoas. A surdez atinge a principal forma de interação da pessoa mas não impede o seu desenvolvimento.

        Na Serra do Quincuncá, município cearense de Farias Brito, vivia Silvantério, um abastado fazendeiro que ouvia muito mal, era quase surdo.

        Certa tarde, um humilde empregado se dirigiu ao velho e experiente fazendeiro e pediu:

        - Seu Silvantério, me arrume cinquenta cruzeiro emprestado?

         - Hein! Num tou ouvindo meu fii. Fale mais alto. – respondeu o velho mouco, pondo a mão em forma de concha próximo ao ouvido.

         - Queria cem cruzeiro adiantando do senhor. – gritou o empregado.

         - Vala. E ligeirin subiu de cinquenta pra cem? – retrucou o fazendeiro.



Colaboração: Vilani Alencar

(imagem Google)



sexta-feira, 8 de outubro de 2010

258 - TIMIDEZ





          A timidez pode funcionar como um grande vilão para quem deseja iniciar um relacionamento amoroso. Há jovens tão introvertidos que o contato com o sexo oposto chega a ser assustador. Ao mesmo tempo em que aparece o desejo de se aproximar de alguém, surge também o medo.

        Em Várzea Alegre, centro-sul cearense, um tímido rapaz pediu ajuda a seu irmão mais velho. Já contava com mais de vinte anos e nunca tivera sequer uma namorada. Precisava aprender com o irmão mais experiente como se aproximar e conquistar uma mulher.

         O rapaz mais velho, com fama de conquistador, recomendou com veemência que, ao abordar uma pretendente, o irmão caçula desse uma volta grande na conversa antes de entrar no assunto do namoro. Era preciso fazer rodeios, ir bem longe antes de pedir a mulher em namoro.

         Já na noite daquele mesmo dia, o jovem decidiu por seus novos conhecimentos em prática. Logo que encontrou uma jovem e simpática moça em uma praça do centro da cidade, o rapaz controlou a timidez e foi logo dizendo:

         - Você já foi em “Belorizonte”?

         - Nan, nunca fui não. – respondeu a jovem mulher, surpresa com a abordagem e a pergunta sobre uma cidade tão distante.

         - Então runbora namorar? – completou o rapaz.



Colaboração: Maurício Bezerra

(imagem Google)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

257 - COMIDA DE ONÇA






          O medo de onça sempre assolou os moradores do interior do Brasil. E no imaginário de todos do sertão cearense ainda habitam as impressionantes histórias a respeito do temido animal.

          Certa madrugada, na década de 1970, no distrito de São José, Município de Lavras da Mangabeira, a dona de casa Zefinha acordou agitada e suada. Seu esposo, o agricultor Zuza Lemos, deitado ao lado, perguntou:

          - Que movimento é esse, muié?

          Zefinha, ainda assustada, respondeu:

          - Valha, Zuza, tive um sonho muito esquisito. Era uma onça correndo atrás de mim querendo mim cumer.

           Com cara de preocupado, o agricultor voltou a perguntar:

          - E cumeu, Zefinha ?

          - Não, Zuza. Num cumeu não.

          Já com os braços estendidos em direção à mulher, o extrovertido agricultor disse:

          - Então se aprochegue pra cá pra mode eu fazer o que essa onça num fez.



Colaboração: Eliomar Lemos

(imagem Google)

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

256 - HOMEM MILHO







          Na década de setenta, em Várzea Alegre, um jovem morador da zona rural do município apresentou um estranho quadro psiquiátrico. Nas suas alucinações, o agricultor cearense cismou que era milho, cereal bastante cultivado nas áridas porém férteis terras do sertão.

          Preocupada com os constantes delírios, a família levou o rapaz para uma consulta na casa de saúde do município. Na demorada e cuidadosa avaliação do paciente, o experiente médico insistiu:

          - Rapaz, você não é milho não, você é um homem.

        O paciente voltou para a casa e começou imediatamente a ingerir a medicação receitada. Passados dois meses do tratamento, retornou ao hospital para nova avaliação. Logo ao receber o agricultor em sua sala, o médico foi perguntando:

           - E aí? Ainda pensa que é milho?

         Para satisfação do profissional de saúde e alegria dos familiares que  acompanhavam a consulta, o jovem rapaz respondeu.

         - Não, não. Tou ciente que num sou mii não.

        Porém, antes que todos comemorassem a ansiada cura, o paciente completou:

         - Mas dotô, é bom avisar pras galinha lá de casa. Elas ficam ciscando no terreiro e me espiando com uma cara estranha!



Colaboração: Luzia Gregório

(imagem Google)

sábado, 2 de outubro de 2010

255 - CANDIDATO RELIGIOSO





         Em época de campanha os candidatos apresentam um discurso diferente para cada categoria de eleitores. Na década de 80, no semi-árido nordestino, um candidato à reeleição começou cedo sua desesperada caça aos votos.

           Meses antes das eleições, o candidato cuidou logo de visitar um grupo de beatas para conquistar seus votos. No salão paroquial, reuniu as mais conservadoras mulheres da cidade. Todas trajando longos vestidos e com a cabeça coberta por véus pretos. Logo ao chegar, o velho e experiente político disse:

           - Vocês têm que votar em mim. Sou um político muito religioso...

           As beatas se entreolharam e, em seguida, com ar de espanto e desconfiança miraram o candidato. Aquele homem só entrava na igreja em missas de corpo presente e mesmo assim por pouco tempo. Porém, antes de qualquer conclusão precipitada das eleitoras, o candidato, justificando sua religiosidade, completou:

           - Toda verba que chega eu tiro um “terço”.



Colaboração Klébia Fiúza

(imagem Google)

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

254 - CANTADA IRRESISTÍVEL





           O rapaz sofria com uma enorme timidez. Já contava com mais de vinte anos de idade e nunca tivera sequer uma namorada. Não sabia como chegar próximo e cantar uma mulher. Temia receber um não, levar um fora.

           Mas, depois de muito tempo gastando sua energia na solidão do banheiro, procurou ajuda e recebeu conselhos de um amigo mais velho. O ousado e experiente colega recomendou ao infeliz rapaz ser direto com as mulheres, sob o argumento de que os tempos modernos não mais permitiam rodeios.

        Após a instrutiva conversa, os dois foram a um barzinho tentar por em prática os novos conhecimentos. O ambiente escolhido não parecia muito familiar. Já com algumas doses de cachaça circulando no sangue, o tímido rapaz decidiu abordar uma das alegres moças sentadas à mesa ao lado. Ao se aproximar, foi logo dizendo:

           - E aí? Vambora pro motel?

          Carregada na maquiagem, vestindo short bem curto, mascando chiclete, a mulher olhou fixamente para o jovem rapaz e, pausadamente, exclamou:

          - Eita! Desse jeito num tem muié que resista. Você tem um papo!



(imagem Google)