quarta-feira, 30 de maio de 2012

604 - TIA JOANINHA DO ARROJADO (Pedra de Clarianã há dois anos)





      Dona Joana Oliveira, do distrito do Arrojado, município cearense de Lavras da Mangabeira, durante toda sua vida se queixou de muitas doenças. Extremamente cuidadosa, só tomava banho com “água dormida”, aparada no dia anterior para descansar no pote.


      Certamente essa e outras precauções permitiram que a conhecida dona Joana, casada e mãe de vários filhos, vivesse por noventa e oito anos na modesta lida do sertão nordestino.

     No início da década de noventa, Maria de Lourdes, acadêmica de direito na progressista cidade paraibana de Campina Grande, voltou de férias ao seu Arrojado e decidiu logo visitar sua velha e querida tia. Ao entrar no quarto de dona Joana, estranhou dois utensílios embaixo da cama e perguntou:

     - Tia Joaninha, pra que é que a senhora precisa de dois “pinicos”?

     - Ah! Minha sobrinha. Um de plástico, outo de alumin. O de alumin eu só uso de dia, pois de noite as beirada fica fria demais.



Colaboração: Maria de Lourdes Sousa

(imagem Google)

sábado, 26 de maio de 2012

603 - CABUÇU DO PÉ RACHADO (Pedra de Clarianã há dois anos)




      

        Contam no sul do Estado do Amapá que décadas atrás alguns empresários estrangeiros visitaram o Vale do Jari no interesse de conhecer as potencialidades do lugar. Por segurança, os visitantes foram acompanhados por um antigo e humilde morador do local nessa bela mas desconhecida região do Brasil.

       Depois de conhecer vários pontos turísticos do Rio Jari, inclusive a majestosa Cachoeira de Santo Antônio, o grupo resolveu comemorar a impressionante descoberta abrindo um litro de uísque que trazia na mochila.

       Ao perceber o olhar ingênuo e apetitoso do guia para a bebida desconhecida, um visitante resolveu servir os primeiros goles para o velho morador. Assim, caprichou na dose do sofisticado destilado, enchendo um grande copo.

        Ao receber, sem demonstrar desconfiança, o cabuçu do pé rachado* agradeceu a inesperada gentileza e entornou o copo de um só gole. Em seguida, sem qualquer careta, olhou para os espantados visitantes e perguntou:

       - E essa é a tar de coca-cola ????????



Colaboração: Afonso Henrique Oliveira Pereira

* cabuçu do pé rachado – expressão usada pelos humoristas amapaenses para designar os moradores simples de regiões ribeirinhas e isoladas da Amazônia.

domingo, 20 de maio de 2012

602 - FALTA DE EQUILÍBRIO (Pedra de Clarianã há dois anos)


         

         Na década de oitenta, surgiu uma verruga na virilha do agricultor José Raimundo de Morais, conhecido na pequena e animada Várzea Alegre como Zé André do Sanharol. Depois de uma descontraída consulta, o experiente médico José Iran Costa indicou uma cirurgia ambulatorial para retirada do pequeno incômodo.


          De imediato, doutor Iran determinou que uma jovem enfermeira realizasse o asseio e a preparação do paciente para a cirurgia. Assim, a jovem servidora do hospital passou a depilar a região íntima do agricultor.


         No cumprimento da incômoda tarefa, a enfermeira cuidadosamente afastou o pênis do paciente de um lado ao outro para a necessária depilação da região próxima à pequena intervenção cirúrgica. Vendo a enfermeira trocar de posição o seu “pinto” por diversas vezes, o velho agricultor, com voz alta e irreverente espontaneidade, falou:


         - É mia fia. Pode ir segurando ele. Faz tempo que ele num se equilibra só.



- Colaboração: Antônio Alves de Morais

(magem Google)

sexta-feira, 18 de maio de 2012

601 - CAMA INDISCRETA




Certa manhã de sábado, na década de setenta, em uma pequena cidade do interior cearense, duas jovens e simples donas de casa se encontraram no mercado de carnes e passaram a conversar:

         - E aí, Maria, como tão as coisa? Ainda tá cum visita em casa?

A amiga, com discrição, se aproximou da outra, e, falando baixo,  reclamou:

- E num é que tou, muié. Já faz mais de mês que meu cunhado Zé vei do sítio pra mode se tratar de paratife* e tumá umas injeção. De lá pra cá nunca mais eu e Ontôi fizemo imoralidade...

A vizinha, sem compreender o motivo da longa abstinência sexual da amiga, perguntou:

- Valha, e é por que?

A pobre mulher, referindo-se ao indiscreto ranger da cama e ao barulho do velho colchão de molas, completou:

- É que o cunhado Zé dorme numa rede da sala vizin do meu quarto e de Antôe. E a cama lá de casa é conversadera e fala alto demais. E só nós se mexê que ela já puxa uma prosa...


* nome dado no sertão cearense à Leptospirose, grave doença que se espalha pela urina dos ratos.
(imagem Google)

terça-feira, 15 de maio de 2012

600 - SOUZA SOBRINHO E A CERCA




No seu velório,  em Várzea Alegre, Cariri cearense, Francisco Souza Sobrinho,  grande comunicador e produtor cultural, recebeu inúmeras e merecidas homenagens.  Muitas pessoas passaram pela casa do seu pai Maurício, no sítio Varas, para se despedir do simpático e comunicativo poeta popular.

Honrando a memória do radialista Souza Sobrinho, vários amigos e familiares presentes à cerimônia lembraram histórias pitorescas do sertão, semelhantes às narradas com desenvoltura pelo comunicador.

Em certo momento da despedida, o bancário Zé Haroldo lembrou um causo contado pelo vendedor de picolé Macambira, que de certo modo traduz a repentina e inesperada partida do animador cultural Souza Sobrinho. Em uma roda no terreiro da casa das Varas, Ropson Frutuoso Bezerra, Raimundo Souzão, Valdir Bilica, Tibúrcio Bezerra, Cuiú e outros varzealegrenses ouviram atentamente a singela e irônica história recontada por Zé Haroldo.

Certa época, um agricultor  de Várzea Alegre contratou dois trabalhadores para refazer as antigas cercas de arame farpado em volta do seu terreno rural. Os dois amigos acertaram o preço da trabalhosa  tarefa e decidiram iniciar o serviço logo no dia seguinte. No primeiro dia de trabalho derrubaram toda a velha cerca do sítio. No fim da tarde, finalizado o cansativo serviço retornaram para suas casas.

No dia seguinte, um dos trabalhadores chegou cedo ao terreno para retomar o serviço, mas nada de seu amigo aparecer. Já agoniado com a incompreensível demora do companheiro, foi surpreendido com a rápida aproximação do dono do sítio:

- Hômi, tu num tá sabeno o que aconteceu com teu parcêro não? Ele morreu de madrugada...

Interrompendo a informação, o trabalhador, enrolando um enferrujado fio de arame farpado, simplificando a triste e prematura partida do amigo, reclamou:

- Eu num tou acreditano que ele fez isso cum eu não. Deixou essa ruma de cerca pr'eu fazê sozin...


(imagem Google)

domingo, 13 de maio de 2012

599 - CABEÇA DE PORCO (Republicado em homenagem a Souza Sobrinho)




        No interessante vídeo da MV Produções, coletânea histórica e cultural de Várzea Alegre, Souza Sobrinho registra o trabalho de vários artistas, entre os quais Pedro de Souza, Chico de Amadeu, Bié, Zé Clementino, Serginho Piau e Bidin. Além disso, relembra passagens pitorescas de espirituosos filhos da Terra do Arroz, como o sempre enraivado Mundin da Varjota.

         É importante ressaltar que o nacionalmente famoso seu Lunga de Juazeiro é uma moça de polidez e delicadeza perto do que foi o nosso Mundin.

         Em uma sexta-feira à tarde, Mundin da Varjota chegou em casa trazendo do mercado de carnes a cabeça de um porco. De imediato, entregou a compra à sua esposa Cecília, já imaginando o saboroso cozido e a apetitosa farofa que sairia na janta. No entanto, foi surpreendido com a pergunta da mulher:

         - Mundin, o que é peu fazer com a cabeça desse poico?

         Antes que a dedicada Cecília fechasse a boca, o enfezado e impaciente Mundin já foi respondendo:

        - Ponha no chiqueiro, dê muito mii e espere ele engordar pra gente comer.


(imagem Google)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

598 - COM CORREÇÃO VISUAL (Pedra de Clarianã há dois anos)





        José Raimundo de Morais, Zé André do Sanharol, conhecido agricultor do município de Várzea Alegre, certa vez foi a Fortaleza passar uns dias na casa do seu filho Pedro.


        Na Capital Alencarina, Zé André foi levado ao gigantesco Castelão para assistir ao clássico-rei Fortaleza e Ceará. Na saída para o estádio, o filho lembrou:


         - Pai, leve seus óculos porque o Castelão é muito grande e sem o pince-nez* o senhor não vai ver direito os jogadores.


         No dia seguinte, na continuidade do divertido passeio, o experiente agricultor visitou a concorrida e famosa Praia do Futuro. Ao pisar na areia quente e logo perceber belas garotas vestindo minúsculos biquínis e desfilando corpos esculturais, o irreverente agricultor repreendeu o filho:


       - Pedro, como é que dessa vez você não me avisa? Hômi, eu devia ter trazido os óculos era pra cá.





- Colaboração: Antônio Alves de Morais

* palavra francesa que originalmente significa óculos sem haste em que uma mola prende ao nariz mas usada no Ceará como sinônimo para todos os tipos óculos.

terça-feira, 8 de maio de 2012

597 - MORENA DA INTERNET (Pedra de Clarianã há dois anos)





       Vivia-se o final da década de noventa. Ainda solteiro, nessa época a panela não queimava no fogão da minha casa. Assim, sair para comer com amigos servia para disfarçar um pouco a solidão. Certo dia, fui com o Marco Antônio e outros colegas almoçar em um pequeno shopping da cidade.

        Após o divertido almoço, quando já nos preparávamos para deixar o restaurante, chamou atenção a chegada de belas moças que à noite participariam de um movimentado desfile no shopping. Naquela tarde, realizar-se-ia o ensaio final. As lindas e elegantes jovens nos foram rapidamente apresentadas pelo conhecido coreógrafo.

      Passados uns três dias, em casa, sozinho, eu navegava pela internet no programa de bate papo da época, chamado mirc, quando, no canal #amapa, fui chamado por uma jovem de apelido Morena-18. A moça disse que me vira no shopping naquela semana, pois era uma das modelos que passara pelo restaurante.

  Depois de uma entusiasmada conversa pelo chat* marcamos um encontro à noite na praça beira-rio. A Morena-18 me revelou suas belas e impressionantes características e me disse que gostava de homem perfumado e com a barba bem tirada. Não arrisquei. Na preparação para o ansiado encontro, gastei um frasco de perfume e quase arranco a pele do rosto de tanto passar a lâmina de barbear.

      Impaciente, cheguei ao lugar marcado bem antes do combinado. Toda garota que aparecia na beira do rio Amazonas eu logo imaginava que era a linda modelo. Porém, depois de longa espera, nada de chegar a morena de blusa top azul e mini saia jeans, como esperado. Certamente alguma coisa acontecera e a impedira de ir ao encontro. Decepcionado, voltei para casa, liguei o computador e, navegando pela internet, busquei reencontrar a jovem. Porém, naquela noite ela também não apareceu no chat*.

      No dia seguinte, estava no trabalho quando entrou na minha sala o colega Marco Antônio e me disse:

      - E aí, rapaz? Encontrou a Morena-18?



*neologismo para designar local de bate papo em tempo real na internet
(imagem Google)

quinta-feira, 3 de maio de 2012

595 - A CURA DA TIMIDEZ




Certo dia, em meados da década de setenta, em Fortaleza, uma simpática e desenvolvida senhora, preocupada com o estranho comportamento do seu primogênito, chamou o rapaz em um canto da sala e disse:

- Meu filho, o povo reparando seu jeito. Muito calado. Quando chegar alguém aqui em casa procure entrar na conversa. Fale alguma coisa...

O rapaz era muito introvertido, mas, diante dos conselhos da querida mãe, decidira lutar contra a timidez. Bastou aparecer em sua casa um velho conhecido da família, o jovem resolveu quebrar o silêncio. Aproximou-se dos pais e perguntou ao visitante: 

- Seu Zé, o sinhô tem algum filho mais véi que o sinhô?

(imagem Google)

terça-feira, 1 de maio de 2012

594 - O HOMEM E O DINHEIRO




No Rio de Janeiro, uma interessante exposição  do Centro Cultural Banco do Brasil traz a história do dinheiro. Trata-se de um espaço interativo com mais de duas mil peças que conta a evolução da moeda no Brasil e no mundo.
Em salas do centenário prédio são expostas cédulas, moedas e outros objetos de valor de variadas épocas e de lugares diferentes do globo, rico material que ajuda a entender a história do mundo.
Além das peças, no chão iluminado há frases famosas sobre o dinheiro, como a do artista do município cearense de Pereiro,  Falcão, defensor de que “o dinheiro não é tudo mas é cem por cento”. No local também se observa os versos do sambista pernambucano Bezerra da Silva, embaixador dos morros e favelas:
“Com dinheiro tudo bem
Sem dinheiro tudo mal
O dinheiro nesta vida
É peça fundamental “
Visitando o local, lendo as frases e cantando os versos escritos no piso, lembrei de uma versão do comerciante cearense Antônio Nogueira, meu experiente sogro, que costuma repetir:
- O caba cum os bolso chei a voz fica mais grossa e a piroca mais dura

(imagem Google)