sábado, 26 de abril de 2014

855 - O BOLETIM DE JOÃO SEM BRAÇO (Pedra de Clarianã há dois anos)





         O varzealegrense Raimundo Alves Bezerra, ainda criança, ganhou o apelido de João Sem Braço após perder o membro superior esquerdo em um gravíssimo acidente. A deficiência não impediu o garoto de desenvolver várias habilidades. Mas, infelizmente, ele nunca se interessou pelos estudos.

         Em meados da década de setenta, em Várzea Alegre, sertão cearense, João Sem Braço, voltando da escola, encontrou sua amiga e vizinha Klébia Fiúza no pé da ladeira da Rua Doutor Leandro. Vestindo a farda da escola, o pouco esforçado estudante pediu:

        - Klébia, queria que tu dissesse a pai que as notas vermêa do meu boletim são as boa.

         Mesmo conhecendo as peripécias do vizinho, Klébia perguntou:

         - Mas porque eu vou ter que mentir pra seu Joaquim Gibão?

         Com ar sério, João Sem Braço explicou:

          - Pai num sabe que meu boletim é igual a uma lista telefônica...

          - Como assim? – indagou Klébia.

          O relaxado estudante completou:

        - É que minhas nota parece número de telefone. Olhe aqui. Só tem dois dois três, três três, zero zero.  


Colaboração Klébia Fiúza
(imagem Google)

terça-feira, 22 de abril de 2014

854 - O MENINO DO INHARÉ

  


No último feriado, em Várzea Alegre, na companhia de vários familiares, visitei um dos novos pontos turísticos da famosa cidade cearense, a estátua do Cristo Ressuscitado. A imagem foi erguida  na Serra do Gravié, bem próximo à Capela de Maria de Bil, local que há várias décadas recebe intensa peregrinação.

    No dia seguinte à marcante visita, a simpática comerciante Antônia Lisboa de Lima, conhecida como Toinha Bo’água, contou-me que, em meados do século passado, sua primeira comunhão aconteceu naquela pequena Capela da Serra do Gravié, evento organizado por Tiquinha de Mininin Bitu e celebrado pelo Padre Otávio.

Naquela manhã, vários meninos e meninas dos Sítios Sanharol, Inharé, Chico e Serrote receberam a Primeira Eucaristia. Apenas um garoto magro, esquisito e tímido se recusou a participar da cerimônia, mesmo sob a ameaça de um corretivo do seu severo pai. O menino que vivia descalço e nu de cintura pra cima não quis calçar sapatos e vestir a tradicional roupa branca para receber a comunhão.

       Aquele pequeno garoto só foi se desenvolver, controlar a timidez e perder o medo de reuniões públicas após viajar para São Paulo na década de 1960. Na época seria difícil imaginar que o menino encabulado e retraído do antigo Inharé se transformaria no hoje conversador, estiloso e simpático motorista de praça varzealegrense Nicolau de Raimundo Sabino.

(imagem Google)

segunda-feira, 21 de abril de 2014

853 - MUNDIN DO SAPO E O INTELECTUAL





Na década de 1980, apareceu na pacata Várzea Alegre, centro sul cearense, um cidadão arrotando conhecimento. Com pouca modéstia, apresentava-se com pós-doutorados em universidades estrangeiras.

O agricultor Raimundo Alves de Meneses, conhecido como Mundin do Sapo, desconfiando dos conhecimentos esnobados pelo forasteiro, desafiou:

- Vosmicê que é um hômi sabido, chei de letra, diga sete dia da semana sem dizer os nome.

O falso intelectual coçou a cabeça, pensou por uns segundos e, sem perder a arrogância, disse:

- Não há resposta para esse desafio. É impossível falar de outra forma que não seja domingo, segunda. A não ser que eu fale em inglês, francês, alemão...

O experiente matuto interrompeu:

- Num carece de língua estrangêra, não. Vai no português rastêro mermo. Ternontonte, ontonte, anteonte e onte. Hoje, amaiã e adispois...


Colaboração: Antônio Alves da Costa Neto
(imagem Google)

terça-feira, 1 de abril de 2014

852 - BOM DE CONTA (Pedra de Clarianã há dois anos)





O respeitado professor de matemática Almino Gabriel Viana contribui há vários anos para o aprendizado de jovens varzealegrenses. 

Certa manhã, no final da década de setenta, em uma aula no Centro Educacional São Raimundo Nonato, o dedicado professor, buscando consolidar o ensinamento dos seus alunos, apresentou um exemplo:

- Se um pedreiro e um servente trabalhando juntos sentam oitenta tijolos por hora, então dois pedreiros e dois serventes conseguem sentar cento e sessenta tijolos em uma hora.

No fundo da sala, o peralta Raimundo, garoto de apelido João Sem Braço, pediu a palavra e falou:

- Professor, eu entendi. Um expresso* da Itapemirim demora três dias pra ir daqui de Várzea Alegre pro São Paulo. Quer dizer que se sair junto dois expressos chegam no São Paulo num dia e mêi, né?


* sinônimo cearense para ônibus.
Colaboração Robson Frutuoso Bezerra
(imagem Google)