domingo, 30 de dezembro de 2012

696 - O DERRADEIRO EXPRESSO


 
 
Difícil passar pela CE 060, conhecida como Estrada do Algodão, no trecho urbano da rodovia em Várzea Alegre, e não encontrar o simpático Gustavo Correia no local onde funcionou o seu antigo posto Shell.
Há alguns anos, no começo da noite, Gustavo, ex-presidente da Câmara Municipal de Várzea Alegre, conversava com amigos encostado às velhas bombas do posto de gasolina quando ali chegou uma senhora carregando várias sacolas. Suada e agoniada, a mulher perguntou:
- Gustavo, já passou o último ônibus pro Juazeiro?
Antes de prestar a informação correta, o experiente político brincou:
- Minha senhora, faz mais de trinta ano que eu vejo ônibus pra lá e pra cá nessa rodagem. Eu ainda num vi o último passar...

Colaboração: Carlos Leandro da Silva (Carlin de Dalva)

(imagem Google)

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

695 - DONA XEPA

 

Uma das novelas de maior sucesso da década de setenta, Dona Xepa* contou a história difícil mas divertida dos incansáveis  feirantes brasileiros. O enredo contagiou e emocionou o público fiel às telenovelas.

Naquela época minha avó Maria Amélia adorava sair para comprar frutas, verduras e outros produtos nas feiras livres de Fortaleza. Com seu jeito simpático e comunicativo, trazendo o mesmo carisma da protagonista da novela da Rede Globo, a velhinha gorda era conhecida de todos os feirantes.

Certa manhã, bem cedo, minha avó foi às compras na feira do bairro Jardim América. Parou em uma barraca e pediu um quilo de batata doce a um dos feirantes. Logo que o vendedor conferiu o peso e tirou o saco de batatas da balança, a esperta freguesa pôs a mão nas batatas da banca e pediu:

- O senhor me dá uma batata dessas de agrado?

O atento feirante imediatamente respondeu:

-Dou sim, dona Maria. Mas essa que a siora pegou eu num posso dá não. Pesa pra lá de quilo e mei...

* Novela inspirada em peça homônima de Pedro Bloch, narra o cotidiano de Dona Xepa (Yara Cortes), uma feirante que cria sozinha os filhos Edson (Reinaldo Gonzaga) e Rosália (Nívea Maria).
Colaboração: Paulo Danúbio Carvalho Costa
(Imagem Google).

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

694 - AS ONDAS DE CARLIN




Neste fim de ano, na companhia da esposa Rutnei Morais e das amigas Preta, Nanana e Lilian, o varzealegrense Carlin de Dalva deixou o sertão e foi passar uns dias em uma agradável casa na praia de Barra Mansa, no município cearense de Cascavel.

Na primeira manhã naquela deslumbrante paisagem litorânea, Carlin, logo ao acordar, sentou-se à mesa para saborear o sortido desjejum. Enquanto o visitante comia e apreciava a paradisíaca vista, o simpático proprietário da casa perguntou:

- E aí, Carlin, tá gostando? Dormiu bem?

O marceneiro varzealegrense dormira como uma pedra, com umas doses de cachaça na cabeça e embalado pelo sossegado barulho do mar. Mesmo assim, com sua incontida irreverência, respondeu na bucha*:

- Leal, se num fosse a zuada dessas onda do mar, eu dormia mais sossegado...


* Dizer algo "na bucha" é dar uma resposta de imediato, sem pestanejar.

Colaboração: Carlos Leandro da Silva (Carlin de Dalva)

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

693 - FIEL AO TEMA




Assuntos como fidelidade e traição sempre provocam muita polêmica. Mesmo tratando de questões reservadas e causando conflitos e intrigas entre as pessoas, os temas são recorrentes nas discussões das mais diversas classes sociais. 

Anos atrás, em Várzea Alegre, em uma descontraída roda de conversa na Rua dos Perus, o velho ferreiro Chico Basil ouviu calado mais uma história de infidelidade conjugal envolvendo figuras conhecidas da cidade cearense. Após o mexerico circular na boca de todos, Chico, com seu jeito simples  e eloquente, em versão sertaneja da famosa frase da escritora americana Zelda Popkin*, opinou:

- Oia, o povo gosta de falá mal das muié. Mas o poblema só com a muié que bota chife não.  As vez o caba é que é levadô...

*Zelda Popkin cunhou a frase "todo marido tem a infidelidade que merece".
(imagem Google)

domingo, 23 de dezembro de 2012

692 - NATAL INESQUECÍVEL (Republicado a pedido)



      Em 1993, meu querido primo Hudson Batista Rolim recebeu um irrecusável convite para passar a noite de Natal na casa da nova namorada, no Bairro Cidade dos Funcionários, em Fortaleza. Cedo da noite, o apaixonado estudante vestiu a melhor roupa e apanhou o ônibus para cear na casa dos sogros.

      Depois de cruzar toda cidade, Hudson se impressionou ao chegar à bela e enfeitada casa da namorada. Semana antes, após um animado forró, na madrugada que a deixara ali em frente, não observara quão bonita era casa da sua amada.

       Mas naquela noite natalina esperava conhecer muito mais da sua futura família. No portão, Hudson foi recebido friamente pelo dono da residência, seu futuro sogro. Mesmo assim foi conduzido a uma mesa onde, sozinho, recebeu completa atenção dos bem vestidos garçons. Não sabia que a família de sua namorada vivia em tão boas condições. Consumindo uísque 12 anos e provando saborosos petiscos, o filho de varzealegrenses pensou: “dessa vez eu amarrei o meu burrin na sombra”.

       Porém já se aproximava da meia-noite e nada da namorada aparecer na festa. Até que finalmente ela ingressou pelo portão da garagem e passou a cumprimentar e desejar feliz natal a todos. Ao ver o namorado, a jovem se surpreendeu e falou:

       - Credo, tu tá é aqui Hudson? E eu esperando você lá em casa. Num sabia que tu conhecia doutor João, nosso vizinho.

     Assim, os namorados se despediram, atravessaram a rua e entraram na modesta casa, onde um casal de velhos cochilava na poltrona assistindo na TV ao especial de Roberto Carlos. Dali, o resto da noite, tomando coca-cola e comendo pedaços de um duro e frio peru, Hudson, tentando esconder a decepção, observou pela janela o movimento e as luzes do animado castelo em frente que por poucas horas foi seu.


Colaboração: Hudson Batista Rolim

(imagem Google)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

691 - HEMORRÓIDAS




Há alguns anos, no sertão cearense, um forte rapaz finalmente  buscou um médico especialista para tratar de mais uma forte crise de hemorróidas. Ao entrar na sala de consulta, o profissional pediu ao jovem que se posicionasse para a realização do delicado exame de toque retal.

Após observar cuidadosamente a área afetada, o  médico falou para o paciente:

- Não vi problemas com hemorróidas. O que o senhor tem é um codiloma, uma doença venérea...

Ao ouvir o surpreendente diagnóstico, o jovem musculoso desceu rapidamente da maca e bradou com voz forte e grossa:

- Dotô, me estranhando? Tá quereno dizer que eu sou baitola?

Com paciência, o experiente médico explicou:

- Meu rapaz, tenha calma. Não estou afirmando que você é homossexual. Mas acho que você andou esbarrando em algum pinto por aí...

(imagem Google)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

690 - EGGS MEXIDOS (Pedra de Clarianã há dois anos)



           Em um vôo para os Estados Unidos dois cearenses seguiam na mesma fila de poltronas do avião. Um já ambientado e acostumado com o demorado percurso. O outro, passageiro de primeira viagem, cheio de receios e com dificuldades para se comunicar com as belas moças do serviço de bordo da companhia aérea americana.

         No fim da manhã, chegada a hora da refeição, observando a desenvoltura de seu companheiro que a todo instante falava em inglês com as aeromoças, o turista iniciante perguntou:

          - , eu num como sem um disco voador. Como é ovos em inglês?

         - Eggs, Mané, eggs. Mas num sei se servem ovos aqui não...

         O tímido cearense tomou coragem e apertou o biloto* luminoso para chamar o serviço de bordo. A bela moça da companhia se aproximou sorrindo e o cearense perguntou:

        - Tem éguis?

        Imediatamente a aeromoça saiu para providenciar o complemento da refeição do passageiro. Passados alguns minutos, voltou trazendo o pedido. A jovem comissária, impressionada com o apetite do cearense, trouxe uma grande bandeja com dez ovos.



*segundo o dicionário cearense significa botão pressionável.

Colaboração: Zeca Barreto

(imagem Google)

domingo, 16 de dezembro de 2012

689 - DUPLICAÇÃO DO RAMAL




Certa tarde da década de oitenta, em um estreito ramal do sítio Timbaúba, aprazível zona rural de Várzea Alegre, aconteceu o encontro que todos aguardavam e temiam. Os agricultores Zaqueu Guedes e Zé Batista, cada um conduzindo uma velha e possante camioneta, dirigindo em sentidos opostos, quase bateram de frente. Faltou pouco para os pára-choques dos veículos se tocarem.

 Com dificuldade, passando perto das cercas, os dois veículos cruzariam naquele estreito trecho da estrada. Mas Zaqueu preferiu não arriscar, botou a cabeça fora da boléia e gritou:

- Zé, meta uma pra trás que laculá a estrada enlarguesse...

O limitado motorista tentou voltar mas a manobra deixou o veiculo atravessado e fechando completamente a estrada vicinal. Foi a vez de Zé Batista sugerir:

 - Zaqueu , é mió você vortá na sua fubica...

Com muita dificuldade e fazendo barulho, o velho agricultor engrenou a marcha ré e saiu ziguezagueando até bater em uma cerca de madeira. 

O que já estava difícil piorou. Com os carros fechando totalmente o ramal, não dava pra passar na estrada nem de bicicleta. Vendo a situação se complicar, o poeta popular e lavrador  Zaqueu propôs:

- Zé, o jeito é nós arredá a ceica de seu Fausto* pro lado pra mode nós passá. Apois, já, já vem o õibu pegá os aluno.....  


* antigo morador do Sítio Timbaúba...
(imagem Google)