Na segunda metade do século passado, em Várzea
Alegre, sertão cearense, o agricultor José André consertava uma cerca limítrofe
do seu terreno quando Bastião dos Jumentos passou
guiando sua tropa de animais. Era apoio que faltava para trazer as estacas de
madeira da Serra do Graviê, com acesso através de caminhos estreitos e íngremes. Aproveitando a ocasião, o agricultor perguntou:
- Bastião, esses seus jumentos sobem e
descem essas ladeira bom danado,
né?
O agoniado tropeiro respondeu:
- É sim.
Vão pra riba* e pra baixo, caladin. Num dizem nada não.
Conhecendo o estilo simples e rude de Bastião, José André engoliu a seco a
dura resposta, preferindo não retrucar, até porque precisaria do condutor de
animais para transportar a madeira.
Após acertado com José André, Bastião foi ao local onde estavam as estacas.
Completou a carga no primeiro jumento e soltou no caminho. Com o segundo e terceiro animal fez a mesma coisa, soltando-os na vereda que desce a serra. Após completar a carga do último jumento,
Bastião desceu, caminhando atrás dos animais. Mas, ao chegar no pé da serra faltavam
dois jumentos, certamente perdidos na mata. Bastião
então saiu a procura dos animais. Ao encontrar o agricultor José André, aflito, perguntou:
- Zé André, você viu dois jumento meu passar
aqui com as carga de estaca?
O agricultor, com um pé-de-cabra na mão, esticando os fios de arame da cerca, não perdeu a oportunidade de ir à forra, respondendo:
- Vi não, Bastião.
Também eles só passam caladin, num dão uma palavra com gente...
*vocábulo muito usado no interior cearense, que, segundo o dicionário informa,l significa lá do alto, da parte acima do nível do lugar em que se está.
Colaboração: Antônio Morais
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