sexta-feira, 30 de setembro de 2011

476 - BOM DE COPO




José Ferreira Lima, recém falecido,  era o mais velho dos oito filhos da união do varzealegrense  Vicente Lima Ferreira  com Altina Oliveira Lima. Nascido em Mangabeira, bucólico distrito de Lavras da Mangabeira, Zé Lima morou em várias cidades do país e por muito anos trabalhou na venda de calçados.

         Certo dia, em Fortaleza, Zé recebeu insistentes convites do conterrâneo Djair para dar uma volta na movimentada praia do Náutico e beber algumas cervejas. De boa prosa e agradável companhia, Zé não constumava ingerir bebida alcoólica. Mesmo assim foi convecido pelas palavras do amigo:

         - Zé, a gente só toma duas cervejinha e pronto.

         Já na orla de Fortaleza, com a linda vista para o verdes mares bravios descritos pelo romancista José de Alencar, Zé se acomodou na sombra de um portentoso guarda-sol. Antes de sentar, Djair se dirigiu ao banheiro da barraca da praia  e ao voltar já encontrou a mesa servida com as garrafas de bebida e copos cheios. O amigo se espantou:

         - Zé, que secura é essa? Pediu duas garrafas de cerveja de uma vez...

         De imediato, Zé Lima retrucou:

         - Você num disse que a gente só ia tomar duas. Então eu pedi logo as duas pro garçom...


Colaboração: Cida Macedo
(imagem Google)

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

475 - MUSA DO BANHEIRO

 
 
 
          Nem os mais famosos ficcionistas da literatura universal conseguem superar a imaginação de um adolescente nos seus momentos de íntima concentração.

           Certa tarde, em sua casa, um jovem rapaz, trancado sozinho no banheiro, se masturbava pensando alto:

           - Ai Maria, ai Maria, ai Maria...

            Porém, alguém bate à porta e interrompe a conversa do punheteiro. Minutos depois, passado o inconveniente, o adolescente retoma o seu diálogo com a fonte de sua inspiração:

           - Sim Maria, como eu tava dizendo...


Colaboração: Carlos Leandro da Silva (Carlin de Dalva)

domingo, 25 de setembro de 2011

474 - SKYLAB




Neste sábado a NASA, agência espacial americana, confirmou a queda do satélite UARS.  Fragmentos do objeto espacial de 5,6 toneladas atingiram o oceano pacífico e não há  registros de vítimas.

Essa notícia nos transportou para o mês de julho de 1979, quando se criou grande alvoroço com a previsão  da queda na terra da estação espacial Skylab. O objeto espacial de várias toneladas provocaria a morte de milhares de pessoas caso atingisse um lugar habitado do planeta. Abordado com exagero e sensacionalismo  pelos meios de comunicação, o assunto logo se transformou no mais comentado e divulgado da época.

Em Várzea Alegre, sertão cearense, muita gente se impressionou com a previsão. Os mais exagerados planejaram se abrigar em grotas profudas da área rural. Para proteger tanta gente faltaria espaço nos sítios mais isolados. 

João do Ronca,  esforçado técnico de futebol amador, suspendera todos os treinamentos de sua pouco vitoriosa equipe. Até as novenas de São Vicente restaram ameaçadas com o pânico que tomou conta dos mais nervosos. Muitos devotos do santo temiam sair de casa e certamente faltariam ao tradicional evento religioso do mês de julho.

Dias antes da queda do satélite, o agricultor varzelaegrense Zé de Lula, tomando umas cachaças no Bar de Herculano Sabino, com a mão na testa olhou para o céu azul, e, mesmo sem esconder o seu temor com o lixo espacial,   comentou:

- Se cair aqui pelo Sanharol nos junta o ferro véi  e vende a Macelo.


(imagem Google)

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

473 - O QUATI DE IGUAÇU




Das muitas e perfeitas obras de Deus na natureza,  as cachoeiras são seguramente uma das mais impressionantes. Dias atrás senti o privilégio de conhecer as belíssimas cataratas no sul do Brasil, em Foz do Iguaçu. 

Não presenciava algo tão espetacular desde que há alguns anos visitei a também marcante Cachoeira de Santo Antônio, no Laranjal do Jari. Como cearense do árido sertão,  essas volumosas quedas d’água sempre me comovem.

Nas Cataratas do Iguaçu, tanto no lado brasileiro como no lado argentino, além do show das águas, os turistas se divertem com os quatis(ou coatis), animais símbolos do parque. Porém essa integração entre os dóceis e curiosos bichinhos com as pessoas preocupam os ambientalistas, especialmente pela comida jogada pelos visitantes aos gulosos mamíferos de nariz pontudo. 

Visitando outros lugares daquela interessante região fronteiriça do sul brasileiro, em uma loja de artesanatos, encontrei uma camisa com uma foto do animal na parte da frente e uma frase preservacionista atrás:        
  
Não dou o meu quati.”

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

472 - LANTERNINHA (Pedra de Clarianã há 2 anos)



          O sinal de televisão com qualidade, sem chuvisco e chiado, demorou a chegar ao sertão cearense. Somente no final da década de setenta, com o surgimento das antenas parabólicas e outros meios modernos de retransmissão, foi que passamos a acompanhar com regularidade os programas televisivos.

          Em férias escolares, quando eu viajava para Fortaleza me contentava em ficar o dia inteiro diante do aparelho de televisão vendo desenhos animados. Nada desviava minha atenção da Pantera Cor de Rosa, do Tom e do Jerry ou do Marinheiro Popeye. E se a televisão em preto e branco de minha avó Maria Amélia já me encantava, imagine ver uma comédia infantil na tela gigante de um moderno e confortável cinema. Pois, em uma dessas viagens, no ano de 1977, meu tio Paulo Danúbio me levou junto com meu primo Sergio Ricardo para assistirmos no famoso cine São Luiz ao filme campeão de bilheteria daquele ano: O Trapalhão Nas Minas do Rei Salomão.

          Encantados com a beleza do cinema, eu e Serginho nos divertíamos com as graças e estripulias dos personagens de Renato Aragão, Dedé Santana e Mussum. No meio do filme, fomos surpreendidos com um avião de papel que voara pela projeção e caíra sobre nós. Eu, de imediato, apanhei o avião, e o arremessei novamente. A sombra do avião foi projetada na grande tela.

          Pouco tempo depois chegou um senhor com uma lanterna na mão e chamou tio Paulo.  Os dois conversaram baixinho por algum tempo. Embora concentrado no filme, eu percebi que meu tio gesticulava muito e nos apontava insistentemente.

          Logo na saída do cinema, ainda na movimentada e tradicional Praça do Ferreira eu perguntei:

         - Ti Paulo, o que aquele homem da lanterna queria com o senhor?

         - Comigo nada. Ele queria era botar vocês pra fora. Não pode jogar papel pra cima. Atrapalha o filme. Ele só desistiu quando eu disse a ele assim: “Seu lanterninha esses mininos vieram do interior. Viajaram quase quinhentos quilômetros só pra ver os Trapalhões”.


(imagem Google)

domingo, 18 de setembro de 2011

471 - NAVEGAR É PRECISO




Inspirados na famosa frase do antigo general romano Pompeu de que “navegar é preciso, viver não é preciso”, os portugueses, no século XV, singraram mares deconhecidos em busca de novos caminhos para o oriente.

Em Várzea Alegre, na década de 1970, no Centro Educacional São Raimundo Nonato, a professora Terezinha Costa Cavalcante  aplicava um teste sobre a Era dos Descobrimentos aos seus pequenos alunos da quarta série do antigo primeiro grau. Minutos após receber a prova impressa no velho mimeógrafo, o esperto aluno Antônio Clécio Clementino, conhecido como Bodoga, sobre uma das questões, indagou:

- Tia Terezinha, dê uma dica sobre esses feito dos navegadores...

A professora, se referido aos descobridores que chegaram e contornaram o cabo da Boa Esperança em busca de novo caminho da Europa Ocidental para as Índias, apanhou um guarda-chuva e fez com as mãos o gesto de entortar o cabo. Com a dica, o esperto Bodoga, mesmo pouco atento às aulas e que não estudava para os testes, coçou a cabeça e comentou:

- Ô bestêra. Um tal de Vasco da Gama ficar famoso só porque entortou um cabo...


Colaboração: Terezinha Costa Cavalcante
(imagem Google)

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

470 - O ARROCHO DE LUIZ DINIZ




Por várias décadas do século passado, em Várzea Alegre, sertão nordestino, o empresário Luiz Afonso Diniz curtiu a vida com simplicidade e simpatia. De estilo boêmio, exímio dançarino, apreciava o encontro com familiares e amigos em disputadas partidas de baralho.

Na bem frequentada residência da professora Verônica Bezerra, Luiz Diniz participou de animadas partidas de rifa, jogo de cartas apreciado na cidade cearense e conhecido em outros lugares como lu ou bloqueio. Certa noite, Josué Diniz Neto, filho do empresário, também participante da disputa, reclamando das cartas descartadas pelo pai, disse:

- Pai, o senhor vai me apertar mesmo?

Concentrado no jogo, Luiz Diniz, se referindo à sua esposa Francisca, respondeu:

- Se eu apertei até tua mãe, avali você...



Colaboração: Francisco Carlos Pinheiro
(imagem Google)

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

469 - ROMPENDO O LACRE




         Era final da década de cinqüenta. Época em que ainda se casava sem qualquer experiência sexual. Como estava muito nervoso com o seu casamento, o jovem noivo comprou uma garrafa de cachaça para aliviar um pouco a tensão. Deixou a bebida ao lado da sua nova cama de casal a fim de tomar umas doses antes da lua de mel.

         Mas, pouco antes da celebração, a empregada fez a última limpeza e arrumação no quarto. Viciada, aproveitou para abrir a garrafa e tomar uns bons goles da cachaça.

         Passada cerimônia e recepção dos convidados, os noivos se dirigiram ao quarto do casal para consumar o casamento. A mãe da noiva, curiosa e preocupada com o passado ousado da filha, encostou o ouvido na porta do cômodo. Depois de alguns minutos sem ouvir nada, a sogra escutou o genro reclamar:

         - Vixe Maria. Já arrancaram o lacre. Aqui falta uns três dedos. – disse, segurando a garrafa.

         A sogra, desesperada, temendo pela reputação da filha, abriu a porta e falou:

         - Meu genro querido, não se preocupe não. As mulheres da família são assim mesmo, frouxas...


(imagem Google)
Colaboração: Carlos Leandro da Silva(Carlin de Dalva)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

468 - ENFIM SÓS




O costume de roubar  a mulher para casar perdurou por  milênios. Se era comum em culturas como a anglo-saxônica também aconteceu no sertão nordestino até meados do século passado.

Certa manhã, por volta de 1950, no sítio Canabrava, município cearense de Grangeiro,  um vizinho pediu ajuda ao agricultor Zé Gregório para localizar a filha que fora roubada na noite anterior. O pai não consentia com o namoro da moça, por isso o rapaz decidiu raptá-la.

Depois de várias horas de intensa e cansativa procura, colhendo pistas e informações pelo caminho,  ao cair da noite finalmente encontraram a jovem na serra de São Pedro, município de Caririaçu. Como o pai  precisava voltar rápido para dar  a boa notícia e findar a angústia da mãe que permanecera em preces, Zé Gregório se comprometeu a levar a jovem na garupa de sua mansa burra. 

Estranhamente, Zé Gregório só apareceu com a bela moça na manhã seguinte. Com o argumento de que se perdera no caminho, o agricultor buscou justificar a grande demora para retornar ao sítio Canabrava.

Ao ouvir a pouco provável história, o pai da jovem comentou:

- Zé é uma pessoa muito prestativa. Só que ajeita as coisa por um lado e desmantela por outo.


Colaboração: Francisco Carlos Pinheiro
(imagem Google)

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

467 - TELEGOLPE (Pedra de Clarianã há dois anos)

         


        Antes de qualquer conflito doméstico, cabe logo esclarecer que o fato aconteceu quando eu era solteiro e morava em um pequeno apartamento do Bairro Buritizal, em Macapá.

          Em meados da década de noventa recebi uma conta mensal registrando vários telefonemas para países como Guiana, Suriname e outros. Para minha desagradável supresa, o valor da fatura veio quatro vezes maior que o normal.

            Imediatamente vesti o paletó e me dirigi para a loja de atendimento da privatizada TELEAMAPÁ, que à época funcionava na esquina da Rua São José com Avenida General Gurjão, no centro comercial de Macapá. Ao chegar, depois de alguns minutos de espera, fui atendido em um balcão, ao lado de vários outros consumidores.

          A jovem recepcionista, muito educada, perguntou qual o assunto da minha reclamação. Eu, com certa arrogância, fui logo falando:

         - Olhe aqui minha conta. Tem várias ligações internacionais, todas feitas de madrugada. Eu só ligo pro interior do Ceará, pra Várzea Alegre. E nem venham me dizer que outra pessoa fez a ligação que eu moro sozin.

         A jovem, sempre sorridente, comunicou-me que ia verificar o acontecido e passou a examinar a conta em seu terminal de computador. Após cerca de um minuto, levantou o olhar em minha direção e, polidamente, falou:

        - Senhor, esses números são do telesexo. São ligações internacionais porque as empresas foram proibidas de funcionar no Brasil.

        Duas senhoras que também eram atendidas me dirigiram um olhar de inquisidoras. Eu fiquei sem saber o que dizer. Havia esquecido daquelas ligações. Meses antes eu realmente sucumbira. Chegava sozinho em casa e, ao ligar a tevê, sempre aparecia uma bela moça, vestindo roupas sumárias, repetindo insistentemente: ligue, ligue, ligue.

        Vendo que aumentava o número de olhares a me avaliar, tomei a contestada conta das mãos da atendente, e, antes de sair às pressas, sem sequer agradecer, inventei:

         - Agora me lembrei. Foi aquele tarado do meu primo que veio passar uns dias lá em casa.


(imagem Google)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

466 - A TEIMOSIA DO BÊBADO




A teimosia, característica comuns aos bêbados, dificulta bastante a convivência com essas pessoas que exageram no consumo do álcool. 

No final da década de setenta, em Várzea Alegre, no início da noite,  sempre nos reuníamos com amigos e familiares em frente à casa da Rua Duque de Caxias. Nessas ocasiões um conterrâneo de alcunha Tibito costumava se aproximar e interromper nossa conversa.

Tímido e reservado, Tibito se transformava após ingerir  doses de cachaça nos bares do mercado velho. Exagerando na incoveniência, contando histórias sem sentido, monopolizava as atenções e não mais passava a palavra a ninguém.  A situação se agravava quando pedíamos  para que ele permitisse a continuidade do nosso prazeroso bate papo.

         Porém, com o tempo, tio Sérgio, proprietário da casa descobriu uma maneira de resolver a situação explorando  a  caturrice de Tibito. Com ar sério, o experiente comerciante se levantava da cadeira de balanço e ordenava:

         - Tibito, eu já vou entrar em casa mas você num saia daqui não. Quero que você fique a noite toda aqui na calçada.

        O bêbado franzia a testa, e, antes de se retirar, bufando de raiva, falava:  

         - Que é ísso seu Sérgio? Quem manda na mia vida sou eu. Num fico nem mais um minuto aqui.
        

(imagem Google)