O
sinal de televisão com qualidade, sem chuvisco e chiado, demorou a
chegar ao sertão cearense. Somente no final da década de setenta, com o
surgimento das antenas parabólicas e outros meios modernos de
retransmissão, foi que passamos a acompanhar com regularidade os
programas televisivos.
Em férias escolares, quando eu viajava para Fortaleza me contentava em
ficar o dia inteiro diante do aparelho de televisão vendo desenhos
animados. Nada desviava minha atenção da Pantera Cor de Rosa, do Tom e
do Jerry ou do Marinheiro Popeye. E se a televisão em preto e branco de
minha avó Maria Amélia já me encantava, imagine ver uma comédia infantil
na tela gigante de um moderno e confortável cinema. Pois, em uma dessas
viagens, no ano de 1977, meu tio Paulo Danúbio me levou junto com meu
primo Sergio Ricardo para assistirmos no famoso cine São Luiz ao filme
campeão de bilheteria daquele ano: O Trapalhão Nas Minas do Rei Salomão.
Encantados com a beleza do cinema, eu e Serginho nos divertíamos com as
graças e estripulias dos personagens de Renato Aragão, Dedé Santana e
Mussum. No meio do filme, fomos surpreendidos com um avião de papel que
voara pela projeção e caíra sobre nós. Eu, de imediato, apanhei o avião,
e o arremessei novamente. A sombra do avião foi projetada na grande
tela.
Pouco tempo depois chegou um senhor com uma lanterna na mão e chamou
tio Paulo. Os dois conversaram baixinho por algum tempo. Embora
concentrado no filme, eu percebi que meu tio gesticulava muito e nos
apontava insistentemente.
Logo na saída do cinema, ainda na movimentada e tradicional Praça do Ferreira eu perguntei:
- Ti Paulo, o que aquele homem da lanterna queria com o senhor?
- Comigo nada. Ele queria era botar vocês pra fora. Não pode jogar
papel pra cima. Atrapalha o filme. Ele só desistiu quando eu disse a ele
assim: “Seu lanterninha esses mininos vieram do interior. Viajaram
quase quinhentos quilômetros só pra ver os Trapalhões”.
(imagem Google)
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