domingo, 31 de agosto de 2014

881 - NÃO DÁ PIZZA



Vindo do interior do Estado, o modesto migrante ainda não conseguira se ambientar na moderna e movimentada capital. Sua timidez dificultava a aproximação com novas pessoas.
Para permitir uma maior aproximação e melhor conhecer os colegas de trabalho, o novato decidiu convidá-los para sair após o expediente. Certamente, uma boa conversa na mesa de bar serviria para estreitar a relação com os novos companheiros de batente. Faltava avisar apenas à recatada secretária.
Assim, na hora do almoço, o novo empregado, sem maiores ou melhores pretensões,  se aproximou da secretária e falou:
- Colega, nós combinamos uma saidinha no final da tarde para comer um pizza e tomar uma cerveja. Vamos com a gente?
A secretária tirou os óculos da face, olhou para o novo colega de trabalho e, com um sorriso amarelo no rosto, surpreendeu:
- Queria tanto ir, mas dessa vez não dá.  Na próxima eu vou.  É que tou menstruada…
(imagem Google)

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

880 - FESTA DE AGOSTO NO JAPÃO





Na década de 1990, minha prima Rosiana de Carvalho Costa, contadora e enfermeira, morou no lugar mais distante possível da nossa Várzea Alegre. Ela viveu por alguns anos no Japão, do outro lado do planeta. Basta lembrar que, mesmo de avião, a viagem do Brasil à Terra do Sol Nascente demora cerca de vinte e quatro horas.


Imagino que morar tão longe e em um país com cultura tão diferente multiplica ainda mais a saudade dos familiares, dos amigos e da terra natal.

Todo varzealegrense que vive fora de sua cidade sofre especialmente nos últimos dias de agosto, época em que o município cearense recebe inúmeros visitantes e realiza os festejos em homenagem ao seu padroeiro São Raimundo Nonato.


Em um desses dias de agosto, com o coração apertado, Rosiana ligou do Japão para Várzea Alegre. No meio da conversa com sua mãe Rosa Amélia, perguntou:


- Como tá por ai ? Como tá festa? Tá animada? Tem muita gente?


A experiente mãe testemunha todos os anos o crescente movimento de pessoas nos festejos religiosos e no arraial. Mesmo assim, buscando acalentar o coração da filha, respondeu com uma bem intencionada mentira:


- Ziana, você num tá perdendo nada. Esse ano tá fraquin demais. Num tem quase ninguém...



Colaboração: Terezinha Costa Cavalcante

(imagem Google)

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

879 - OS MENINOS DO PARQUE MAIA (Republicado em homenagem ao início da Festa de Agosto)


     Durante os dez últimos dias do mês de agosto, em Várzea Alegre, vive-se o animado período da festa do padroeiro São Raimundo Nonato. Enquanto os adultos participam dos eventos religiosos e circulam pelas barracas do arraial, as crianças acompanham a movimentação do parque de diversões que se instala na cidade cearense. O sonho da meninada dura até o dia 31, quando começa a rápida, triste e angustiante desmontagem da pesada estrutura.

No final da década de 1970, os meninos Júlio Bastos Leandro, Geraldo Leandro Filho e Fernando de Zé de Zacarias moravam na antiga Getúlio Vargas, uma das ruas onde o tradicional Parque Maia* era montado. Sem dinheiro, passavam os dias e as noites de festa circulando pelo “carrossel”, buscando uma forma alternativa de “rodar” nos brinquedos.

Uma vez, cedo da manhã, os garotos cataram do chão os bilhetes usados e rasgados na noite anterior e colaram com  grude de goma. Mas os atentos funcionários do parque descobriram facilmente a grosseira montagem.

No mesmo ano, em uma noite movimentada, encostados à grade, os meninos da Getúlio Vargas conseguiram abrir um pouco as barras de ferro e acessar o brinquedo conhecido como Cavalinho pela alargada brecha do gradil. O primeiro a entrar clandestinamente, Geraldo Filho, montava alegremente em um dos animais de madeira, quando Fernando alertou:

- Geraldo, bora voltá, seu irmão Julin ficou com cocão inganchado na grade...


* Parque de diversões que, junto com o Parque Lima, por várias décadas, montou seus brinquedos em Várzea Alegre.

Colaboração: Júlio Bastos Leandro
(imagem Google)

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

878 - RESSACA DA COPA





A retumbante derrota de 7 a 1 que o Brasil sofreu na Copa do Mundo trouxe sérias consequências para os brasileiros. Não só abalou a autoestima nacional como afundou a nossa soberba futebolística.

Em Várzea Alegre, sertão cearense, o resultado do jogo com os alemães deixou marcas ainda mais profundas. Tanto que, um dia após a sofrível partida, o engenheiro civil Gilberto Rolim foi à casa de um conhecido e disposto carroceiro e avisou que precisava transportar um milheiro de tijolos para uma construção em andamento.

O carroceiro recebeu o engenheiro deitado em uma rede armada na sala da modesta casa. Sem forças para se levantar, com o lençol cobrindo parte do rosto, o trabalhador justificou:

- Dotô Gilberto, hoje num dá não. A pêia dos alemão deixou nós estrupiado. Tou numa ressaca grande e minha burra tá na roça, de sentimento...

Colaboração: Paulo Danúbio Carvalho Costa
(imagem Google)

sábado, 2 de agosto de 2014

877 - OS MISSIONÁRIOS GERMÂNICOS




Passado algum tempo da fatídica partida de 8 de julho, agora parece possível falar sem tanta dor da vergonhosa derrota sofrida pela seleção brasileira na semifinal da Copa do Mundo. Naquele dia, o forte selecionado alemão nos atropelou como jamais ocorrera na história do nosso futebol. Tentei me lembrar de outro placar de 7 a 1 em uma partida de qualquer campeonato, nacional ou estrangeiro, mundial ou interdistrital, mas minha memória não conseguiu revelar nenhuma goleada semelhante.

Essa massacrante passagem futebolística trouxe à mente a história contada diversas vezes pelo irreverente ferreiro Chico Basil e acontecida em meados do século passado na pequena e à época isolada Várzea Alegre. Ele dizia que de tempo em tempo apareciam por aquelas bandas do sertão cearense grupos de missionários do sul do país em visita às residências. Com porte físico avantajado, brancos e vestidos de maneira diferente, aqueles estranhos homens chamavam a atenção do sertanejo.

Certa manhã, a magra mãe de Chico Basil, conhecida como Senhora, pilava arroz no terreiro da casa quando avistou de longe a aproximação de um grupo de missionários vestindo reluzentes roupas vermelhas Ao ver aqueles homens altos e ouvir o seu diferente sotaque, a cuidadosa mulher, contaminada pelos preconceitos decorrentes da segunda grande guerra, gritava para o filho pequeno o alerta que Felipão também deveria ter feito aos seus jogadores:

- Chico, meu fi, entra pra dento que lá vem os alemão...
 
Colaboração Terezinha Costa Cavalcante
(Imagem Google)