sábado, 31 de janeiro de 2015

891 - A TAMPA



Em 2012, o Grupo de Corrida Foz do Amazonas surgiu com a  espontânea reunião de alguns amigos de Macapá que curtem o viciante esporte de rua. A Praça do Forte, conhecida como Lugar Bonito, situada no entorno da histórica Fortaleza de São José de Macapá e às margens do majestoso Rio Amazonas, tornou-se local preferido pela equipe para os treinos.

Como a maioria dos espaços públicos, a nossa frequentada “sede” vem sofrendo com a ação do tempo e a depredação de seus equipamentos,  como bancos, brinquedos, jardins, lixeiras e iluminação.

Recentemente, fomos surpreendidos com a dolosa quebra de uma tampa de concreto que lacra uma das caixas de energia do Lugar Bonito. Decidimos, então, num gesto simples e simbólico, declarar o nosso amor à praça e lembrar a responsabilidade de todos pelos espaços públicos, repondo a tampa de concreto e lacrando o perigoso buraco, antes que uma criança ou algum desavisado se machucasse gravemente.

Neste sábado, dia 31 de janeiro de 2015, o grupo Foz do Amazonas e outras equipes irmãs se encontraram na Praça do Forte para inauguração da nova tampa de concreto e festejar os aniversariantes do mês com um delicioso café da manhã.

O concorrido evento contou com a participação de dezenas de atletas, amadores e profissionais, em um fraterno e inesquecível momento. Houve discursos, conversas, parabéns, estouro de champanhe e declamação de poesia.

No inicio da cerimônia da inauguração da nova tampa, a atleta Antônia Freitas da Silva, numa amostra do espirito descontraído e espontâneo das reuniões do grupo,  pediu a palavra para fazer um testemunho e, emocionada, cunhou a seguinte frase:

- Já nós, mulheres, só entendemos o significado da vida quando perdemos a tampa...

(imagem Google)


terça-feira, 27 de janeiro de 2015

890 - KELÉ NO VER-O-PESO



No último final de semana, com vários amigos do Foz do Amazonas e outros grupos de corrida, participei de um concorrido evento esportivo em homenagem à cidade de Belém, que completou 399 anos em 12 de janeiro de 2015.

A corrida de 10 de quilômetros pela acolhedora Cidade das Mangueiras, além de permitir uma agradável e divertida convivência com os amigos, também se apresentou como uma oportunidade para encontrar e conhecer outras pessoas com o mesmo viciante gosto pelo esporte de rua. E, claro, serviu ainda para visitar espaços tradicionais da capital paraense, como o Bar do Parque e o Mercado Ver-o-Peso.

Dessa vez, foi no histórico mercado, lugar que abastece a cidade de gêneros alimentícios e ervas medicinais, que o grupo de amigos de Macapá mais consumiu. Superou as compras nas lojas de roupas, tênis e outros acessórios para corridas. No Ver-O-Peso, todos procuraram garrafadas com produtos energéticos para melhorar o desempenho nas pistas.

Os corredores do Amapá foram atraídos para a famosa barraca da “Socorro Lora”, que há quase 30 anos trabalha no mercado, sucedendo gerações de erveiras de sua família.  Entre o grupo de atletas se destacou o carismático Everaldo Romano Palheta, popularmente conhecido por Kelé, com 64 anos, alfaiate aposentado.

Kelé logo perguntou para a simpática dona da barraca se havia alguma garrafada, algum fortificante, bom pra corrida. Socorro, desembaraçada vendedora, segurou uma das garrafinhas penduradas feito cacho, olhou para o aposentado e falou:

- Tenho aqui o óleo de bota, mano. É só passar no lugar certo que sua moral vai subir de novo. Subir tanto que é a mulherada que vai correr atrás do senhor...

(imagem Google)




sábado, 17 de janeiro de 2015

889 - O TALO DO JERIMUM



Por muitas décadas, Várzea Alegre se destacou no Ceará pela sua produção agrícola, especialmente de algodão e arroz. A letra do Hino do Município, do compositor José Clementino, lembra os lindos arrozais plantados nas várzeas de riachos como do Machado, Mocotó, Caiana e Feijão.

Um dos muitos produtores rurais que contribuiram para tornar Várzea Alegre conhecida como a Terra do Arroz foi José Alves Costa, conhecido como Zezin Costa, proprietário de extensas e férteis terras no município cearense.

Certo dia, na segunda metade do século passado, Zezin Costa contratou os serviços do motorista Elias Frutuoso para uma viagem ao vizinho município do Iguatu, onde tratou de alguns negócios e aproveitou para ir à feira da cidade. Ao observar o velho agricultor se admirar com a boa qualidade das frutas e verduras expostas pelos feirantes, o jovem motorista comentou:

- Seu Zezin, no Crato é que tem fruta e verdura boa. Por que o sinhô não vai morar logo no Crato, hômi?

- Eu lá vou deixar de ser o girmun* pra ser o talo. - disse, o experiente agricultor,

-  Por que, seu Zezin? – insistiu, o motorista Elias.

Conhecido e respeitado em sua cidade natal, o bem sucedido produtor rural completou:

- Rapaz, pra eu chegar nos canto do Crato e o povo perguntar quem eu sou e um cabra responder: Acho que é um tal de Zezin Costa, parece que veio das bandas da Várzea Alegre...

Colaboração: Elias Frutuoso

(imagem Google)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

888 - A PARTIDA DO MOTOR



A energia gerada pela hidrelétrica de Paulo Afonso chegou ao Juazeiro do Norte no final de 1961, mas demorou a se espalhar pelo  sertão cearense. Em Várzea Alegre, a iluminação continuou por vários anos alimentada pela força de um sofrível grupo gerador mantido pelo Município.

Instalado no Mercado Velho, próximo da esquina onde hoje se encontra o comércio de Zé de Corina, o motor gerador funcionava por poucas horas da noite, sob os cuidados de Zé Saldanha e de seu auxiliar Zé Valentin.

Aos finais de tarde, os meninos da pacata cidade se reuniam para assistir ao teatral acionamento do velho motor. Quase sempre, o jipe• de Valdir de Dudu, amarrado à manivela, ajudava no pesado arranque da máquina. Para melhorar a tração nas rodas, enquanto o motorista acelerava, os garotos pulavam na traseira do automóvel. Todos gritavam quando, após algumas tentativas, a força desprendida pelo Jipe era finalmente capaz de girar e fazer funcionar o pesado motor gerador.

O agrônomo Raimundo Cavalcante Filho, conhecido como Din, um dos meninos que não faltava ao diário acionamento do motor, diz que, se convidado para qualquer outra brincadeira no final da tarde varzealegrense, respondia:

- Só se for depois da puxada do motor da luz...

• aportuguesamento do nome automóvel do tipo Jeepdestinado ao uso fora da estrada.
Colaboração: Raimundo Cavalcante Filho(Din)
(Imagem google)


terça-feira, 6 de janeiro de 2015

887 - TAMPA DA PANELA




Em um final de tarde de domingo, na segunda metade do século passado, na calçada da antiga Rua Major Joaquim Alves, em Várzea Alegre, sertão cearense, os comerciantes Raimundo Teixeira e Zé Rolim e o agricultor e pecuarista Zezin Costa, como de costume, conversavam sobre vários assuntos.

Em certo momento, Zezin Costa mudou o rumo da prosa e perguntou:

- Raimundo, por que você nunca se casou?

O maduro e exigente comerciante justificou sua vocação para a  solteirice:

- Zezin, é porque eu ainda num achei uma mulher que desse certo comigo.

Zé Rolim, que ouvia a conversa e observava o movimento das pessoas que seguiam para a igreja matriz, comentou:

- É danado. Num faz nem dez minutos que eu vejo as moças passar pra missa e já vi um bocado que daria certin comigo...

(Imagem Google)
Colaboração: Elias Frutuoso