sexta-feira, 30 de abril de 2010

160 - MORENA DA INTERNET





       Vivia-se o final da década de noventa. Ainda solteiro, nessa época a panela não queimava no fogão da minha casa. Assim, sair para comer com amigos servia para disfarçar um pouco a solidão. Certo dia, fui com o Marco Antônio e outros colegas almoçar em um pequeno shopping da cidade.

        Após o divertido almoço, quando já nos preparávamos para deixar o restaurante, chamou atenção a chegada de belas moças que à noite participariam de um movimentado desfile no shopping. Naquela tarde, realizar-se-ia o ensaio final. As lindas e elegantes jovens nos foram rapidamente apresentadas pelo conhecido coreógrafo.

      Passados uns três dias, em casa, sozinho, eu navegava pela internet no programa de bate papo da época, chamado mirc, quando, no canal #amapa, fui chamado por uma jovem de apelido Morena-18. A moça disse que me vira no shopping naquela semana, pois era uma das modelos que passara pelo restaurante.

       Depois de uma entusiasmada conversa pelo chat marcamos um encontro à noite na praça beira-rio. A Morena-18 me revelou suas belas e impressionantes características e me disse que gostava de homem perfumado e com a barba bem tirada. Não arrisquei. Na preparação para o ansiado encontro, gastei um frasco de perfume e quase arranco a pele do rosto de tanto passar a lâmina de barbear.

      Impaciente, cheguei ao lugar marcado bem antes do combinado. Toda garota que aparecia na beira do rio Amazonas eu logo imaginava que era a linda modelo. Porém, depois de longa espera, nada de chegar a morena de blusa top azul e mini saia jeans, como esperado. Certamente alguma coisa acontecera e a impedira de ir ao encontro. Decepcionado, voltei para casa, liguei o computador e, navegando pela internet, busquei reencontrar a jovem. Porém, naquela noite ela também não apareceu no chat*.

      No dia seguinte, estava no trabalho quando entrou na minha sala o colega Marco Antônio e me disse:

      - E aí, rapaz? Encontrou a Morena-18?



*neologismo para designar local de bate papo em tempo real na internet
(imagem Google)

quinta-feira, 29 de abril de 2010

159 - SUFISTA DO SERTÃO



      A primeira visão do mar é inesquecível, especialmente para o homem simples do interior. A cor da água, o barulho das ondas, as dunas de areia branca, tudo impressiona.

      Certo dia, um velho matuto viajou para Fortaleza e foi levado para conhecer o oceano. Acostumado com a paisagem árida do sertão, o agricultor se acocorou na praia e, mirando o horizonte, contemplou a bela paisagem.

      Um surfista que passava, percebendo a indisfarçável admiração do visitante, resolveu caçoar:

      - E aí barão? Essa água toda do mar enche quantas latas d’água?

      Notando a ironia do rapaz, o velho agricultor, sem desviar o olhar do oceano, coçou a cabeça e respondeu serenamente:

      - Depende da lata, se for uma das grande, pode até mear.



Colaboração: Carlos Leandro da Silva (Carlin de Dalva)

quarta-feira, 28 de abril de 2010

158 - ELEITOR ENGAJADO




  
        Nas eleições de 1982, no município de Várzea Alegre, houve acirrada disputa pela prefeitura entre o empresário Joaquim Diniz e o médico José Iran Costa. Como sempre acontece nas pequenas cidades do interior do país, toda a população se envolveu na campanha. Nas reuniões e rodas de conversas preponderava o assunto da política.

       Bem próximo ao dia da eleição, Joaquim Diniz se encontrou com meu avô Raimundo Silvino na Praça do Abrigo no centro da simpática cidade. Comerciante e agricultor, meu querido avô terminava de carregar sua caminhoneta com vários utensílios agrícolas e materiais de construção. O candidato a prefeito, então, se aproximou do velho correligionário e perguntou:

       - E aí, Raimundo? Trabalhando muito nessa campanha?

       - Tou trabalhando demais, Joaquim.

       - Que bom, Raimundo, todo mundo tem mesmo que ajudar - disse o satisfeito candidato.

       Se preparando para seguir viagem ao seu terreno rural, arrumando na cabeça o seu inseparável chapéu, o desligado eleitor se despediu, concluindo:

     - É, tem serviço demais lá no Brejo, Joaquim. Tou abrindo sangrador em dois açude e terminando uma broca numa roça das grande.



(imagem Google)

terça-feira, 27 de abril de 2010

157 - BOCA LIVRE




 
       Em um belo domingo de sol da década de oitenta o corretor de algodão Antônio Ulisses foi se encontrar com o deputado e amigo Nilo Sérgio no Clube Recreativo de Várzea Alegre – CREVA. Naquela manhã, o parlamentar se reunia com inúmeros correligionários no aprazível clube.



       Antônio Ulisses chegou animado pois ali certamente se daria mais uma das festivas reuniões patrocinadas pelo político varzealegrense. Contudo, ao chegar ao local, o engenheiro Tércio Costa chamou o primo em particular e falou baixinho:



      - Antônio Ulisses, Nilo Sérgio me disse que não agüenta mais essas contas gigantescas. A partir de hoje não tem mais boca livre. Vai ser tudo rachado.



       Uma ducha de água fria caiu na animação do controlado corretor de algodão. A maioria dos convidados chegara mais cedo no lugar e já consumira muitas cervejas e tira-gostos. Seria injusto entrar na divisão da grande conta. Cauteloso, Antonio Ulisses chamou o arrendatário do bar do clube e disse:



        - Zé de Zuza, prepare uma dose dupla de Ron Montilla para mim. Vá anotando meus pedido aí separado.



        A reunião seguiu animada. Quando o deputado parava de falar, Antônio Ulisses tomava a atenção dos presentes contando as suas divertidas histórias. Na grande mesa não faltava tira-gosto. Mas sempre que Zé de Zuza trazia um apetitoso prato, Tércio olhava para Antônio Ulisses e gesticulava com uma mão cortando a outra, lembrando que quem comesse qualquer coisa entraria na divisão da conta. Assim, mesmo muito apetitoso, o corretor preferiu não tocar nos pratos.



        Já no fim da tarde o deputado se despediu de todos e deixou o clube. O dono do bar veio à grande mesa e passou a recolher os inúmeros vasilhames de bebida e pratos vazios, anunciando:



         - O deputado pagou toda a conta.



      Feliz e aliviado, Antônio Ulisses se levantou, preparando-se para ir embora. Porém, sob o sorriso do engenheiro Tércio, Zé de Zuza lembrou:



       - Falta só as suas vinte doses de Ron. Nilo Sérgio não pagou porque você me pediu para anotar separado.



Colaboração: Luiz Fernando Costa Cavalcante

domingo, 25 de abril de 2010

156 - CORAÇÃO BOMBADO





       No início da década de noventa, o experiente motorista Idelfonso Ferreira Lima seguia em direção à cidade do Crato, onde faria minucioso check up numa clínica cardiológica. Como de costume, resolveu parar no posto de combustíveis Boa Vista, na saída da cidade de Várzea Alegre.

      Na lanchonete do movimentado estabelecimento se encontrou com doutor José Iran Costa, que, com outros amigos, tomava a sagrada cerveja do final da manhã. Para não perder a oportunidade, Delfonso, preocupado, resolveu se consultar com o médico da confiança de milhares de varzealegrenses.

       Após examinar o motorista Delfonso e ver o resultado dos exames preliminares já realizados em Várzea Alegre, o conhecido médico, tomando mais um gole da gelada cerveja, usando suas conhecidas e bem humoradas comparações, falou:

       - Delfonso, se seu “pinto” tiver bom como seu coração, você tá é de parabéns...



Colaboração: Silvestre de Almeida Neto

sábado, 24 de abril de 2010

155 - APROVEITANDO A VIDA





       A cada dia aumenta a expectativa de vida dos brasileiros. E não apenas isso. Também melhora a qualidade de vida desses homens e mulheres que hoje vivem muito mais. Felizmente, atividades como estudar, viajar, dançar e namorar não são mais prazer e curtição exclusiva dos mais moços.

       Em Várzea Alegre, no sertão cearense, tarde da noite, Francisco de Oliveira Caldas, conhecido como Baianin, encontrou seu velho pai no “Forró da Correia Mole”, animada e conhecida festa da cidade. Vendo o seu velho pai tomar cerveja e dançar no meio do salão, Baianin se aproximou e censurou:

        - Pai, o senhor nun tem mais idade para essa vida não.

        O agricultor aposentado José de Oliveira Caldas, Zé de Naninha, com seus oitenta e cinco anos, sem soltar a parceira, reclamou:

      - Meu fii, você é novo, ainda tem muito arrasta pé pela frente. Deixe eu aproveitar o restin.

 
(imagem Google)

sexta-feira, 23 de abril de 2010

154 - QUEM NÃO DEVE NÃO TEM





       A disponibilidade do crédito trata-se de fenômeno econômico muito recente no Brasil. A economia estável e o crescimento do país permitiu nos últimos anos o acesso a financiamentos que mudaram o comportamento e a vida dos brasileiros. Porém, as gerações mais antigas ainda continuam com enorme receio de manter relação com as instituições financeiras. Possuem ojeriza aos ambientes das agências e desconfiança dos funcionários das casas bancárias.

      Pode parecer esnobe, mas não se pode negar o prazer de chegar à sua terra natal guiando um carro próprio, como definiria minha saudosa tia Quinha. Assim, no início dos anos noventa, comprei uma bela e luxuosa caminhoneta da marca japonesa Toyota e com ela viajei para Várzea Alegre.

       Na pequena cidade do interior cearense, fui logo visitar meu tio Zé do Norte, proprietário de uma movimentada sapataria há mais de cinquenta anos. Após o forte aperto de mão mostrei ao querido tio a minha nova aquisição, estacionada à frente da Sapataria Cavalcante. Ao ver o lustroso veículo, meu experiente tio afastou um pouco a cabeça para trás, me olhou com os olhos esbugalhados e me disse desconfiado:

      - Meu sobrin, nun fique enfezado comigo não. Me diga uma coisa. Você comprou mesmo esse carrão ou só assinou aqueles papéis na loja do Juazeiro?



(imagem Google)

quarta-feira, 21 de abril de 2010

152 - BOLO DE FOGO





       Cada lugar produz sua comida típica. São Paulo é conhecido pelo pastel. Salvador tem o acarajé. Belém e Macapá oferecem o tacacá. Fortaleza produz a tapioca. E em Várzea Alegre aprecia-se o apetitoso pão de arroz.

      Não há como visitar esses lugares sem provar sua deliciosa iguaria. Mas algumas pessoas reportam má digestão quando abusam do pão de arroz ou da tapioca.

       Um conhecido varzealegrense, apreciador das comidas típicas, certo dia se queixou:

       - Pão de arroz é muito bom, mas num posso nem olhar. Dia desse minha muié comeu pão de arroz no café. A noite eu arrochei ela. Quase morri de azia de madrugada. Botei fogo pela boca.



Colaboração: Carlos Leandro da Silva (Carlin de Dalva)
(imagem Google)

terça-feira, 20 de abril de 2010

151 - NO AVIÃO





       Até dos momentos de imensa tristeza e sofrimento, nosso personagem conseguia garimpar sorrisos. Mesmo dessas ocasiões ele extraía histórias engraçadas que, de algum modo, ainda que momentaneamente, conseguia anestesiar a dor decorrente de trágicos acontecimentos.

       Numa dessas oportunidades, em face do inesperado falecimento de sua irmã Paula Gorete, ocorrido na distante Belém do Pará, Antônio Ulisses, juntamente com sua sobrinha Romélia, os irmãos e irmãs, sua mãe Maria Amélia, às pressas, saindo de Fortaleza, apanhou um avião com destino à Cidade das Mangueiras.

       Salvo engano, aquela foi a única vez que utilizou o rápido e eficiente transporte aéreo. E, como todo passageiro de primeira viagem, teve algumas dificuldades no vôo. Durante o percurso, ocupando a poltrona ao seu lado, estava o seu irmão Francisco das Chagas, o conhecido “Chico Nenê”.

      Logo após a decolagem surgiu a primeira dificuldade, relacionada ao uso do cinto de segurança. Não sabia, Antônio Ulisses, como soltá-lo da cintura. Já seu irmão “Chico Nenê”, mais atento e desenrolado, observando os demais passageiros e as orientações da tripulação, logo familiarizado na aeronave, rapidamente aprendeu os segredos daquela novidade. Vendo o vexatório aperreio na cadeira ao lado, Chico tomou os cintos das mãos de seu mano, e, em alto e bom som, disse:

       — Deixa de ser burro que eu desamarro você.

      Nessa mesma oportunidade, logo após a merenda farta à época distribuída aos passageiros, a aeromoça passou distribuindo numa bandeja algo branco e quente. Desta vez, o afoito Chico Nenê foi logo se antecipando e pediu:

      — Passa pra cá três dessas tapiocas.

      Para sua infelicidade e sorriso de Antônio Ulisses, não se tratava da deliciosa e típica comida cearense, mas sim de lenços umedecidos para a higiene dos viajantes.



*extraído do livro Conte Essa, Conte Aquela - Histórias de Antônio Ulisses

Ilustração: Edricy França

segunda-feira, 19 de abril de 2010

150 - NO LIMITE





        Seu Lunga, comerciante do Juazeiro do Norte, criou fama por suas folclóricas demonstrações de mau humor. Mas não só na terra do Padin Ciço surgem figuras com tamanha impaciência. Cada cidade conta as histórias dos seus irritados personagens.

        Na pequena de Campos Sales, no sul cearense, Gonçalo Sudário, dono de bar, deixou lições de falta de paciência e ignorância. Na verdade, pessoas como ele e seu Lunga não suportam perguntas e colocações desnecessárias e impertinentes.

        Certo fim de tarde, Gonçalo cochilava em uma cadeira de balanço na calçada de sua casa, quando foi acordado por uma inconveniente vizinha. Todo dia, na mesma hora, aquela senhora vinha conversar com a esposa de Gonçalo. Justamente no instante em que a caseira Joaninha descansava dos rotineiros afazeres domésticos. A inoportuna visitante, já entrando na residência, repetiu a pergunta de sempre:

       - Gonçalo, Joaninha tá em casa?

       - Se num pulou o muro do quintal ela deve tá aí dento – resmungou o impaciente cearense.



Colaboração: José Inácio de Santana Filho
(imagem Google)

sábado, 17 de abril de 2010

149 - CASA DE PRAIA





        Todos possuem o desejo de adquirir um terreno na praia, construir uma casa e desfrutar a bela paisagem do mar.

        Aproveitando excelente oferta de um falante corretor, na década de oitenta Mané comprou um lote na praia de Paracuru, cidade próxima a Fortaleza.

       Dias após a festejada aquisição, com o mapa na mão o comprador foi até a praia e buscou a ajuda de um antigo morador local para localizar efetivamente seu lote. Ali construiria uma bela e agradável casa onde passaria com a família seus dias de folga e férias.

        Depois de observar bem o mapa, o experiente morador coçou a cabeça e falou:

       - Seu Mané, pelo que eu medi aqui seu lote só dá mesmo pra construir uma plataforma de petróleo.



Colaboração: Carlos Leandro da Silva (Carlin de Dalva)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

148 - O BODEGUEIRO ADVERTE





       O cigarro já foi símbolo de elegância, luxo e prazer. Nos clássicos filmes de Hollywood, era comum ver cenas com famosos atores e atrizes fumando sem parar. Há poucas décadas as propagandas das marcas também vendiam a imagem do cigarro vinculada à saúde e ao bem-estar.

     Felizmente, nos últimos anos houve um considerável avanço na legislação e especialmente no comportamento das pessoas em relação ao vício da nicotina. Vivemos um momento de intensa campanha de esclarecimento sobre os danos causados à saúde pelo cigarro.

      Meu pai Luiz Cavalcante, bodegueiro há 60 anos na pequena Várzea Alegre, sempre que recebe algum cliente buscando cigarro, dá sua sincera contribuição para conscientização dos fumantes.

       Certo dia, Vitor, motorista de praça, entrou na bodega e pediu:

      - Seu Luiz Silvino, me dê uma carteira de Derby.

     Meu velho pai, mesmo lucrando com a venda, entregando a carteira, numa advertência comum, falou seriamente:

       - Hômi, crie vergonha. Largue esse vício. Você já viu a foto que tem nessa carteira de cigarro?



(imagem Google)

quinta-feira, 15 de abril de 2010

147 - USE CAPACETE





         É sabido que o uso de capacete pelos motoqueiros evita ou minimiza as conseqüências dos frequentes acidentes no trânsito. Porém, há quem conteste a sua obrigatoriedade sob o frágil argumento de que oculta a identidade de criminosos motociclistas.

        Certo dia, em uma blitz no interior do Ceará, na década de oitenta, um abusado e arrogante policial do trânsito abordou um motoqueiro usando um surrado equipamento de segurança e falou:

      - Tire logo esse capacete véi fêi.

     Assustado com a pouca beleza do desabonitado motoqueiro, sem sequer conferir carteira de motorista e documentos da motocicleta, o policial, ainda espantado, imediatamente ordenou

      - Bote logo esse capacete, bicho véi fêi.



Colaboração: Carlos Leandro da Silva(Carlin de Dalva)

(imagem Google)

terça-feira, 13 de abril de 2010

146 - PONTO FINAL





      Durante muitos séculos as cartas cumpriram importante missão de diminuir as distâncias, amenizar a saudade e trocar notícias entre pessoas em lugares diferentes. Hoje, com o avanço tecnológico das comunicações, as missivas perderam espaço para os telefonemas, emails, mensagens de texto, etc.

       O conhecido agricultor varzealegrense Raimundo Alves de Menezes, com seu bom humor e simpatia, se comunicava com enorme facilidade. Porém, sem estudo formal, Mundin do Sapo possuía certa dificuldade em transferir para o papel seu vasto conhecimento.

       No final da década de setenta, como recebera algumas críticas sobre cartas remetidas anteriormente, Mundin resolveu mostrar a Iaci Rolim uma que enviaria para a filha. Ansioso, perguntou:

      - Deu pra lê Iaci?

      - Ta boa, Mundin. Só não entendi porque no começo da carta você escreveu um monte de vírgulas e pontos.

      - É pra não reclamarem mais. Vivem dizendo que eu não sei botar os ponto e as vírgula. Apois mandei logo uma ruma* no começo e o sujeito que for lendo espaia os ponto e as vírgula onde quiser.



*no dicionário cearês significa grande porção ou quantidade exagerada

- Colaboração: Aline Morais

(imagem Google)

domingo, 11 de abril de 2010

145 - PROIBIÇÃO ELEITORAL





       Nas eleições municipais de 1982, em Várzea Alegre, sertão cearense, um jovem eleitor procurou um conhecido candidato a vereador e falou:

       - Minha muié teve fi ontem e eu ainda não comi.

      O experiente político, acostumado com pedidos da época da campanha e reconhecendo o insistente eleitor, foi logo respondendo:

       - Tá doido, rapaz. Tu num pode mesmo não. Tem que respeitar o resguardo*



*Período após o parto, em que a mulher fica acamada ou em repouso.

Colaboração: Carlos Leandro da Silva (Carlin de Dalva)

(Imagem Google)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

144 - COMERCIANTE CORUJA





        Todos os anos, no dia 30 de agosto, milhares de pessoas visitam Várzea Alegre, na região centro-sul cearense. Véspera do dia dedicado a São Raimundo todos saem às ruas da pequena cidade para festejar o santo padroeiro.

        No final da década de setenta, Leônidas Siebra Leite, conhecido como Alberto, animado com o intenso movimento na sua Casa Zé Augusto, decidiu se preparar para a última noite da festa de agosto. Depois de várias noites mal dormidas, o comerciante se dirigiu à Farmácia Popular e falou:

        - Zé de Ginu, você tem daqueles comprimidos que os motoristas usam para não pregar os oi nas rodagens? Hoje eu preciso apurar bastante no Bar.

        Zé de Ginu se dirigiu à prateleira e voltou com um envelope, dizendo:

       - Alberto, tome logo dois arrebite*, pois o povo vai virar a noite no seu bar. Com esses comprimidos você vai ficar de olho grelado, igual coruja. Só vai dormir amanhã à noite depois da procissão de São Raimundo.

       Mal chegou ao bar e Alberto foi logo tomando os comprimidos. O efeito surgiu imediatamente. Em pouco tempo o comerciante passou a bocejar e cochilar. Mesmo com a música alta e o burburinho dos fregueses, adormeceu em pé e com os cotovelos encostados no balcão.

       No dia seguinte, depois de quase doze horas de sono profundo e ser acordado por sua esposa Luzinete, Alberto descobriu que fora vítima de mais uma peça aplicada por Zé de Ginu. Em vez do desejado energético, tomara o tranqüilizante Lexotan.


* perniciosa anfetamina utlizada por partes dos profissionais do volante para aliviar o sono e permanecer mais tempo na estrada.

- Colaboração José Gilberto de Azevedo(Beto)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

143 - EXAME DE VISTA



          Na década de noventa, Pedin de Hermínia, experiente motorista de Várzea Alegre, foi à vizinha cidade de Iguatu para se submeter ao exame de vista exigido para renovação da carteira de habilitação. No consultório, o oftalmologista, apontando para o quadro com fileiras de letras e números, passou a perguntar:

        - Que letras são estas? E estas? E estas outras? - prosseguiu o médico, sempre diminuindo o tamanho.

        Já no fim da lista, o motorista disse que não mais conseguia identificar os símbolos. O médico, então, falou:

         - Por isso que tem tanto atropelamento nas estradas. Um motorista profissional como o senhor não consegue ver essas letras.

         Pedin, mostrando bem próximos os dedos polegar e indicador da mão direita, comentou:

         - Mas dotô, não existe gente desse tamanhinho na estrada não...



Colaboração: Carlos Leandro da Silva(Carlin de Dalva)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

142 - DOR DE DENTE





         Embora a única e definitiva solução seja a busca imediata do odontólogo, cada pessoa tem sua receita para amenizar uma sofrida dor de dente. Aplicar creme dental no local dolorido, mastigar uma cabeça de alho ou bocejar uma dose de cachaça são exemplos de remédios populares para aliviar a desagradável dor.

        Certa manhã, em meados da década de setenta, em Várzea Alegre, na oficina de Zé de Borgin, apareceu um jovem perguntando insistentemente:

        - Alguém sabe o que é bom pra parar uma dor de dente?

        O impaciente Mundin da Varjota, que ali costurava uma bola de couro, respondeu:

        - Óleo de frei.

        - Valha. Nunca vi falar disso. Óleo de frei para dor de dente? – duvidou o impertinente rapaz.

       - Ôxi, se para até um camião truncado, avali uma dorzinha de dente – finalizou o Lunga varzealegrense.



Colaboração: Carlos Leandro da Silva (Carlin de Dalva)

sábado, 3 de abril de 2010

141 - DÍVIDA SANGRENTA




        Diariamente os noticiários policiais mostram trágicas histórias de assassinatos motivados por dívidas. Em muitos casos, são irrisórios os valores envolvidos nas discussões que dão causa aos violentos crimes.

        Certo dia, na pacata Várzea Alegre, sertão cearense, o agricultor aposentado Zé de Lula encontrou seu amigo e contador Demontiê Batista e, com ar sério, falou:

        - Tiê, tou devendo sete real no bar de Buzuga. Por amor ao nosso padroeiro São Raimundo, me arrume dois real pra pagar e evitar uma morte.

        - Zé de Lula, porque só dois reais se você deve sete? – Retrucou o preocupado contador.

        - É porque Buzuga desce a ladeira do Gibão* muntado numa bicicleta na maior carreira. Quando me vê solta o guidon e com as mão me mostra sete dedos. Cinco numa e dois noutra. Quero pagar dois pra mode ele desocupar uma das mão e agarrar no guidon.



* sítio localizado próximo da sede do município de Várzea Alegre

Colaboração: Kleber Dakson Fiúza(Manin de Saraiva)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

140 - PAPEL PRINCIPAL




        A televisão, o vídeo cassete e outros modernos equipamentos concorreram para a falência dos cinemas no final do século passado. O fechamento dessas casas de diversão atingiu ainda mais as pequenas cidades do interior do Brasil. Infelizmente, as salas com a grande tela resistiram ao tempo apenas nos maiores centros urbanos.

        No interior cearense, em Várzea Alegre, na antiga Rua Major Joaquim Alves, durante muitos anos funcionou o cine Odeon. Posteriormente denominado cine Alvorada e sob a organização de Zé de Borgin, continuou a divertir sucessivas gerações, projetando filmes variados, especialmente de faroeste e artes marciais.

       Em uma Semana Santa da década de setenta, o esforçado locutor Assis Félix, com voz postada e pausada, buscando impressionar os ouvintes do serviço de alto-falante do modesto cinema, improvisou:

       - Hoje, no Cine Alvorada, em cartaz A Paixão de Cristo. No papel principal, estrelando Jesus Cristo.



Colaboração: Carlin de Dalva