terça-feira, 20 de abril de 2010

151 - NO AVIÃO





       Até dos momentos de imensa tristeza e sofrimento, nosso personagem conseguia garimpar sorrisos. Mesmo dessas ocasiões ele extraía histórias engraçadas que, de algum modo, ainda que momentaneamente, conseguia anestesiar a dor decorrente de trágicos acontecimentos.

       Numa dessas oportunidades, em face do inesperado falecimento de sua irmã Paula Gorete, ocorrido na distante Belém do Pará, Antônio Ulisses, juntamente com sua sobrinha Romélia, os irmãos e irmãs, sua mãe Maria Amélia, às pressas, saindo de Fortaleza, apanhou um avião com destino à Cidade das Mangueiras.

       Salvo engano, aquela foi a única vez que utilizou o rápido e eficiente transporte aéreo. E, como todo passageiro de primeira viagem, teve algumas dificuldades no vôo. Durante o percurso, ocupando a poltrona ao seu lado, estava o seu irmão Francisco das Chagas, o conhecido “Chico Nenê”.

      Logo após a decolagem surgiu a primeira dificuldade, relacionada ao uso do cinto de segurança. Não sabia, Antônio Ulisses, como soltá-lo da cintura. Já seu irmão “Chico Nenê”, mais atento e desenrolado, observando os demais passageiros e as orientações da tripulação, logo familiarizado na aeronave, rapidamente aprendeu os segredos daquela novidade. Vendo o vexatório aperreio na cadeira ao lado, Chico tomou os cintos das mãos de seu mano, e, em alto e bom som, disse:

       — Deixa de ser burro que eu desamarro você.

      Nessa mesma oportunidade, logo após a merenda farta à época distribuída aos passageiros, a aeromoça passou distribuindo numa bandeja algo branco e quente. Desta vez, o afoito Chico Nenê foi logo se antecipando e pediu:

      — Passa pra cá três dessas tapiocas.

      Para sua infelicidade e sorriso de Antônio Ulisses, não se tratava da deliciosa e típica comida cearense, mas sim de lenços umedecidos para a higiene dos viajantes.



*extraído do livro Conte Essa, Conte Aquela - Histórias de Antônio Ulisses

Ilustração: Edricy França

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