quinta-feira, 31 de março de 2011

358 - O CANTO DA JURITI

           Mesmo com todas as campanhas de conscientização e repressão dos órgãos ambientais, a criação de pássaros em cativeiro ainda é um hábito comum, especialmente no interior do Brasil.

            Na década de noventa, em Várzea Alegre, sertão cearense, o vendedor Zé da Roupa recebeu em sua casa um compadre trazendo uma grande gaiola com dois belos pássaros. Flagrantemente angustiado, o visitante disse:

            - Zé, eu vou morar no sunpaulo e só confio em você pra deixar o meu casal de juriti.

       Mas passadas poucas semanas, inesperadamente o compadre voltou de São Paulo e logo se dirigiu à casa de Zé da Roupa para buscar suas aves de estimação. Ao chegar à residência, o compadre perguntou:

           - Zé, as bichinhas cantaram muito?

           - Cumpade, aqui elas só fizeram um chiado.

           - Foi mesmo Zé? Como assim? – perguntou, o compadre, já procurando os seus pássaros pela casa.

           Como autorizara a esposa a torrar as juritis, pois a mulher reclamava que as aves sujavam bastante a casa, Zé da Roupa completou:

          - O chiado do óleo freivendo na frigideira, cumpade.



Colaboração: Geraldo Costa

(imagem Google)

terça-feira, 29 de março de 2011

357 - O CACHORRO DO CORONEL



          Na década de setenta, um agricultor do sítio Formiga voltava de um dia de estafante trabalho, quando, ao chegar próximo à sede do município de Várzea Alegre foi surpreendido por um cachorro da raça pastor alemão. O feroz animal, pertencente ao coronel comandante do destacamento local do 3º Batalhão de Engenharia e Construção – 3º BEC, costumava atacar quem passava próximo à residência do respeitado oficial.

           Diante da agressão canina, o agricultor cearense, com sua foice, aplicou um único, certeiro e mortal golpe no pescoço do enorme cachorro.

            O fato foi imediatamente comunicado à polícia e o agricultor conduzido à delegacia. No interrogatório, o delegado questionou:

            - Por que em vez de golpear o cachorro com o gume da foice, você não bateu nele com o cabo?

          O modesto lavrador, com a simplicidade do sertanejo, na presença do oficial superior do exército e proprietário do animal, respondeu ao delegado:

          - Dotô, dei a foiçada porque ele num me mordeu com o rabo, foi com os dente mermo.



Colaboração Antônio Alves da Costa Neto

(imagem Google)

segunda-feira, 28 de março de 2011

356 - O AQUECIMENTO DE CATITA (Pedra de Clarianã há dois anos)



        Os nascidos antes de 1970 lembram bem de um varzealegrense de apelido Catita, incansável chapiado* e atleta nas horas vagas. Não há como esquecer suas participações nas provas de pedestrianismo na semana do município no mês de outubro. Catita todo ano ganhava a corrida, e com grande folga. A série de vitórias sofreu interrupção apenas com a chegada em Várzea Alegre dos bem treinados militares do Terceiro Batalhão de Engenharia e Construção, unidade do exército responsável pelas obras locais da BR 210 – Transamazônica.

          Certa manhã, ainda bem cedo, o popular médico Iran Costa merendava tapioca com amendoim na padaria do seu Zequinha na vizinha cidade de Farias Brito, distante cerca de trinta e cinco quilômetros de Várzea Alegre, quando avistou o conterrâneo Catita passar correndo e o chamou:

          - Catita, para onde você vai com tanta pressa?

          - Dotô, vou pr'uma corrida hoje no Crato, me dê um trocado pra mode comprar fumo.

          O médico atendeu ao pedido e o diferenciado atleta seguiu sem descanso para o restante da viagem, cerca de cinqüenta quilômetros, mascando fumo e trotando em direção à Capital Cultural do Ceará.

         Não há notícia se Catita venceu a prova naquele dia, mas com certeza chegou bem aquecido e ainda dopado com o tabaco que mascou no acidentado percurso até a agradável cidade do Crato.


* trabalhador braçal responsável pela carga e descarga de caminhões.


Colaboração: Terezinha Costa Cavalcante

PEDRA DE CLARIANÃ HÁ DOIS ANOS





O Pedra de Clarianã fez o segundo aniversário no último  mês de fevereiro. Muitas histórias ficaram para trás. Assim, para permitir que  novos leitores do blog conheçam postagens mais antigas, a partir de hoje voltaremos com "causos" publicados há dois anos.


domingo, 27 de março de 2011

355 - TECNOLOGIA SERTANEJA



         Certo dia, em Várzea Alegre, sítio Timbaúba, apareceu um vendedor oferecendo ao agricultor Zaqueu Guedes um moderno aparelho de som para carro.

        O esforçado vendedor realçou as inúmeras qualidades do equipamento e finalizou, dizendo:

        - Seu Zaqueu, esse som tem moderna tecnologia, pega até pen drive...

          O agricultor e poeta Zaqueu, trazendo a discussão para o seu ambiente rural e sertanejo, retrucou.

          - Hômi, tecnologia tem é no chucai. Na capoeira fica no pescoço da vaca só avisano pro vaquero: “tou aqui, tou aqui, tou aqui.” E num carece pagá nada...



Colaboração: Gilson Primo

(imagem Google)

sexta-feira, 25 de março de 2011

354 - 'CHAGA' DE BOTAS



           Segundo a lei, quando houver fundada suspeita de posse de arma proibida, o policial deve realizar a abordagem e busca pessoal.

          Certa madrugada, nas Quatro Bocas, região onde por muitos anos funcionou o baixo meretrício da cidade de Várzea Alegre, um soldado realizava o policiamento ostensivo, quando surgiu Chaga Taveira, bêbado, vestindo bermuda, sem camisa,  e calçando botas da marca sete léguas.

           Suspeitando que o varzealegrense trazia alguma arma oculta, o policial, com voz firme, perguntou:

            - O que você traz dentro dessa bota aí, malandro?

           Chaga Taveira, pacífico e brincalhão, com peculiar irreverência, dando causa a sua imediata prisão, respondeu:

            - Quando eu saí de casa era meus pé.



Colaboração: José Iran Costa Junior

(imagem Google)

quarta-feira, 23 de março de 2011

353 - DOBRAR A ESQUINA



          Certa tarde, no sertão nordestino, José de Souza Lima, indolente e espirituoso varzealegrense conhecido como Pé Véi, passava ao lado da igreja matriz de São Raimundo Nonato, quando uma beata disse:

            - Feliz aquele que ganha a vida eterna. Você que ir para o Céu, Pé Véi ?

          O irreverente agricultor respondeu:

          - Eu lá quero ir pro Céu.

          Espantada, a religiosa mulher indagou:

           - Mas Pé Véi, por que você num quer?

           - Pra ir pro Céu tem que morrer. E eu num tou com plano de dobrá a esquina de Zé Bitu* tão cedo.



*esquina de Várzea Alegre, onde funcionou o comércio do seu Zé Bitu, por onde necessariamente passavam os enterros da cidade.

Colaboração: Antônio Alves da Costa Neto

(imagem Google)

domingo, 20 de março de 2011

352 - AS MUITAS UTILIDADES DO JORNAL



        Na festa de agosto de 1987, o varzealegrense Antônio Ulisses não exagerou apenas no consumo da bebida. Nos dez dias de arraial em homenagem ao padroeiro São Raimundo Nonato, na barraca do irmão Francisco das Chagas (Chico Nenê), na divertida companhia de Tércio Costa, Cezar Costa, Irapuan Costa, Gilson Primo, e Chico Basil, o corretor de algodão consumiu incontáveis porções de frituras de rabada de porco, preá e avoante.

        Logo após os ininterruptos dias de comemoração, com a ingestão de muita cerveja e pesados tira-gostos, Antônio Ulisses decidiu viajar para Fortaleza acompanhado do primogênito Antônio Costa. Na capital alencarina faria algumas compras e visitaria sua mãe e irmãs.

         Mal o ônibus da empresa Vale do Jaguaribe iniciou o longo percurso da viagem, Antônio Ulisses soltou uma devastadora bufa típica do seu período de ressaca, provocando desconforto entre os demais passageiros. Poucos minutos depois, quando o corretor liberou discretamente outros gases intestinais, um dos viajantes reclamou:

       - Motorista, pare o ônibus pra gente descobrir quem é esse doente e deixar internado no hospital das Lavras.

        - É, seu Motorista, esse coitado tá morto e num sabe – disfarçou Antônio Ulisses.

        Antônio Costa, à época com dez anos de idade, que sofria de perto com o fedor, resmungou:

        - Eu vou é sair daqui que pai é só peidano...

        E depois de ser contido e receber um sério alerta para que não entregasse donde se originava a flatulência, o garoto gritou:

        - E além de peidar pôde pai é só me biliscano. Eita pai...

        O próprio Antônio Ulisses contava essa história e concluía a cômica narrativa dizendo que, trancando peido, seguiu o restante dos intermináveis quatrocentos quilômetros de viagem fingindo ler um jornal para esconder o rosto e a vergonha que sentia dos outros passageiros.



(imagem Google)

sábado, 19 de março de 2011

351 - SANTO PADROEIRO (republicação)



         Em fevereiro de 1991 cheguei a Macapá. Além de perceber imediatamente a simpatia e hospitalidade do povo amapaense também fui recebido por fortes chuvas. Gostei. Não poderia ser diferente, pois cearense do sertão adora tempo chuvoso e calor humano.

        Não demorei a descobrir que além de dar nome a uma majestosa fortaleza, construção símbolo do Amapá, São José era padroeiro de Macapá. Bela coincidência, pois o homem descrito nas escrituras sagradas como justo, obediente e trabalhador, também fora escolhido padroeiro do Ceará.

          Chegou março e no dia 19, como nos outros dias do mês, caiu muita água dos céus de Macapá. Fiquei esperançoso, pois esse dia serve de referência para os cearenses na previsão da estação invernosa. Chover no dia de São José é sinal de um ano de bom inverno e de muita fartura.

           Poucos dias depois liguei para o Ceará para falar com minha querida avó Maria Amélia. Ansioso, fui logo dizendo:

            - Vovó, este ano o inverno vai ser bom, caiu a maior chuva no dia de São José.

            Porém, para minha surpresa, vovó falou:

            - Meu , só se foi aí, pois aqui não caiu um pingo d’água. Faça uma prece para São José distribuir melhor essas chuvas com seus afilhados


( imagem Google )

350 - DON JUAN SERTANEJO

 

       Há alguns anos, um conhecido agricultor de Lavras de Mangabeira passou por um sério aperto. Pai de oito belas jovens, o lavrador se viu agoniado quando um sedutor rapaz da região se embandeirou para o lado delas. O conquistador começou namorando uma, depois outra, e, quando já paquerava a terceira, o pai das moças decidiu procurar ajuda na delegacia da pequena cidade do sertão cearense.

         Diante do ocupado delegado, o desesperado agricultor disse:

         - Dotô, me ajude. Tem um cabôcopras  bandas de casa que pegando todas mias fias. Tou veno a hora ele também querer mia véa.

         A autoridade policial, após ouvir atentamente os reclamos do queixoso, perguntou:

        - E lá na sua casa não tem homem não?

        - Tem sim, dotô, mas ele tem preferença pelas muié – respondeu o modesto agricultor:



Colaboração: Francisco de Souza Lima (Tico)

(imagem Google)

sexta-feira, 18 de março de 2011

349 - SONO PERDIDO



         Certa noite, depois de mais uma cansativa jornada doméstica, a mulher olhou para o preguiçoso marido e reclamou:

       - Hômi, se esperte. Deus ajuda a quem cedo madruga. Hoje o vizin acordou seis da manhã e quando saiu pra trabaiá achou uma nota de cem real no mei da rua.

        Sem demonstrar qualquer disposição para mudar seu acomodado estilo de vida, o marido bocejou e ponderou.

         - Muié, quem acordou inda mais cedo foi o coitado que perdeu esse dinheiro.



(imagem Google)

quinta-feira, 17 de março de 2011

348 - A SENTINELA DO FORRÓ


         No fim do século passado, no município de Campos Sales, Antônio Paz decidiu promover um forró no distrito de Carmelópolis. O interesseiro organizador planejava arrecadar uma boa quantia em dinheiro com a festa típica do sertão cearense.

        Na aguardada noite, quando o grupo musical já se instalava no modesto local do evento e os primeiros ingressos eram vendidos na bilheteria, um morador do pequeno distrito se aproximou e anunciou:

        - Ontôi Paz, pare com esse funaré que Joaquim Pifano acabou de morrer.

       O promotor do forró, já com semblante de velório, respondeu:

       - Hômi, seu Joaquim descansou. Quem morreu foi eu com esse prejuízo.



Colaboração: Beto do Feijão

(imagem Google)

segunda-feira, 14 de março de 2011

347 - BARALHO




        Na década de oitenta, no pequeno município cearense de Granjeiro, o Senhor Henrique, Francisco de Freitas Pinheiro (Chiquin de Louso), Itamar Rolim e muitos outros primos e amigos sempre participavam de uma animada mesa de baralho no sítio Maribondo.

        Certa vez, Chiquin de Louso percebeu que a dupla adversária – Senhor Henrique e Itamar – realizava irregulares movimentos de comunicação por baixo da mesa. Por volta de onze da noite, depois de perder várias rodadas, Chiquin decidiu ir embora. O proprietário do sítio, Senhor Henrique, alertou:

        - Chiquin, você vai sair na estrada numa hora dessa? É arriscado um assalto.

       Chiquin de Louso, decepcionado com a conduta fraudulenta dos adversários, respondeu:

        - É muito azar ser roubado duas vezes na mesma noite.



Colaboração: Francisco Carlos Pinheiro

(imagem Google)

sábado, 12 de março de 2011

346 - CONCORRÊNCIA





         Em meados do século passado, os comerciantes Zé Teixeira e Raimundo Silvino por certo período frequentaram a mesma casa de tolerância de Várzea Alegre. Em dias diferentes, recebiam os agrados de uma dedicada meretriz.


          Certa noite, Zé Teixeira voltava de uma visita à concorrida mulher, quando, pela rua, encontrou caminhando em direção contrária o seu amigo Raimundo Silvino, que, desconfiado, perguntou:

         - Zé, vem de onde?

         - Tava numa pescaria. E você pra onde vai?

        Raimundo Silvino, de banho tomado e perfumado, respondeu:

          - Vou pescar...



Colaboração: Francisco Carlos Pinheiro

(imagem Google)

quinta-feira, 10 de março de 2011

345 - O PERIGO DA CIRROSE



         No final do século passado, o varzealegrense Chaga Taveira desenvolveu problemas relacionados ao consumo prolongado e excessivo de álcool. No entanto, a dependência não afetou sua irreverência e bom humor.

         Certo dia, no mercado público de Várzea Alegre, o médico Iran Costa se encontrou com Chaga Taveira em um café e decidiu demonstrar ao conterrâneo o perigo da bebida excessiva. Doutor Iran, que comia fígado de gado frito, apanhou um pedaço do bife, colocou dentro de um copo com cachaça e disse:

          - vendo como essa mistura não dá certo? A bebida até borbulha, provoca a cirrose. Álcool e fígado não se dão, Chaga.

        - É devera dotô. Por isso eu num como figo – argumentou Chaga Taveira.



Paulo Danúbio Carvalho Carvalho Costa

(imagem Google)

terça-feira, 8 de março de 2011

344 - ORIGINAIS DO FREVO


         Por vários anos os inesquecíveis bailes de carnaval do Clube Recreativo de Várzea Alegre – CREVA – foram animados pelo grupo musical denominado “Originais do Frevo”. O conjunto era formado por vários instrumentistas do animado município cearense, entre os quais os talentosos Pedro de Souza e seus filhos Fernando e Nonato, Antônio José de Souza (Pelé), Francisco Chagas do Nascimento (Mestre Chagas), Prejo, Zé de Mestre Chagas e Siebra de Chico de Amadeu.

       Certa vez, na década de oitenta, para reforçar o grupo, a organização decidiu contratar um trompetista de Recife. O pernambucano, trazendo no currículo a participação em famosos conjuntos, chegou cheio de pose às vésperas do período momino e não participou dos ensaios para os bailes.

        Na noite de sábado, com o clube lotado de animados foliões, os Originais do Frevo iniciaram sua apresentação com marchinhas e outras tradicionais músicas de carnaval. Horas depois, no momento do intervalo, Nonato de Pedro Souza convidou os músicos para lanchar. Na saída, Zé de Mestre Chagas olhou para o pedante e desafinado músico de recife e disse:

        - Você num precisa merendar. Comeu tanta nota que já com o bucho chei.



Colaboração: Giovani Costa

(imagem Google)

segunda-feira, 7 de março de 2011

343 - CAMPANHA PRIVADA



       Nas eleições de 1998, o varzealegrense Raimundo Alves Bezerra, conhecido como João Sem Braço, resolveu apresentar seu nome para disputar uma vaga na Câmara de Municipal. Com o sugestivo slogan “dê a mão a quem precisa”, o candidato decidiu visitar os eleitores bem antes das convenções partidárias.

       Logo no início da campanha, João Sem Braço anunciou sua candidatura aos parentes do sítio Gibão, zona rural de Várzea Alegre. Na casa de um primo, já foi recebido com um indecente pedido:

        - João aqui tem muito eleitor. Mas pra gente votar, você precisa ajudar a fazer um banheiro aqui em casa.

       Sem dinheiro, mas com muita irreverência, o candidato sugeriu:

        - Primo, só tem um jeito: vocês votam em mim e toda vez que der vontade vão cagar lá em casa.



Colaboração: Gilberto Rolim
(imagem Google)

sábado, 5 de março de 2011

342 - MÃOS AO ALTO


           O mundo atual produz manuais com dicas para variadas situações. Os especialistas listam regras de como se comportar até na infelicidade de um assalto. Entre as principais orientações estão a de não reagir e a de obedecer fielmente as determinações do criminoso.

          Anos atrás, em Várzea Alegre, interior cearense, uma violenta quadrilha de assaltantes invadiu a agência bancária da pacata cidade. Os criminosos, com armas pesadas, causaram pânico aos funcionários e clientes do banco.

          Entre os presentes, o  violento chefe da quadrilha abordou uma aposentada que acabara de receber o seu provento. O bandido apontou o revólver para a mulher e  determinou:

         - Vovó, me passa o dinheiro e se deita no chão.

       A aposentada, sem noção do risco e desconcertando o bandido, resistiu:

        - Tu tá doido, minino? S'eu der esse dinheiro quem vai pagar a conta da budega? Num tá veno que o chão imundo e meu vestido tá bem limpin e engomado?


Colaboração: Antônio Alves da Costa Neto

(imagem Google)

sexta-feira, 4 de março de 2011

341 - FIM DE FEIRA



         Em um sábado da década de setenta, no mercado de carnes de Várzea Alegre, em sua pedra*, o marchante Zé de Zacarias salgava uma grande peça de toucinho de porco, quando chegou ao local um conhecido velhaco da cidade e pediu:

         - Seu Zé, me dê um quilo desse toicin que segunda eu pago.

        O experiente açougueiro, conhecendo a fama de caloteiro do comprador e insatisfeito com a sobra do fim da feira, com sua voz arrastada, sem interromper o serviço, respondeu:

        - Eu já tou saigando é pra mode num perder.



* termo usado no sertão cearense para definir cada um dos pontos comerciais do mercado de carnes

Colaboração: Beto do Feijão

(imagem Google)

terça-feira, 1 de março de 2011

340 - INSANO



          Todos que visitam Fortaleza sempre dispensam no mínimo um dia da viagem para um passeio pelo belo e movimento Beach Park, situado no vizinho município de Aquiraz. O luxuoso parque aquático oferece inúmeras atrações, entre radicais e moderadas.

           Em recentes férias na Capital Alencarina, depois de beber algumas cervejas e receber incentivo dos amigos e familiares, um turista amapaense decidiu encarar o mais temido dos brinquedos do parque: o Insano, um toboágua de quarenta e um metros, altura equivalente a um prédio com quatorze andares.

         Na subida dos inúmeros lances de escada o banhista evitou olhar para baixo. Ao chegar ao topo e local de largada do brinquedo pensou em desistir, mas se envergonhou ao ver centenas de pessoas na fila, aguardando a vez para descer.

         Ao ser chamado pelo funcionário do parque, o turista recebeu as instruções de segurança para a descida, principalmente as de manter as pernas fechadas e os braços cruzados sobre o peito. Contudo, quando começou a descer, apavorado, abriu os braços e as pernas, tentando em vão se segurar em algo e diminuir a extrema velocidade da queda.

        Em poucos segundos, desajeitado e de pernas abertas, o turista caiu bruscamente na piscina. Temendo ser atingido por outro banhista que descia do toboágua, mesmo com dificuldades e fortes dores na partes intimas, afastou-se rapidamente. Com o coração e ovos saindo pela boca, foi recebido carinhosamente pela esposa que a tudo assistiu e perguntou:

         - Foi bom, Amor?  Você vai de novo?



(imagem Google)