segunda-feira, 31 de maio de 2010

179 - VAMOS DANÇAR ?




       Brevemente, o cantor e compositor Peninha realiza em Macapá uma apresentação para o dia dos namorados. O anúncio do show do renomado artista na única capital banhada pelo Rio Amazonas trouxe a lembrança de um episódio acontecido na década de oitenta em Várzea Alegre, pequena e acolhedora cidade do sertão cearense.

       Naquela época, o clube recreativo – CREVA - promovia animados bailes com bandas da região. Eu, como muitos jovens, sempre participava das festas dos sábados à noite.

       Ainda adolescente e tímido, ao som dos conjuntos eu dançava com desenvoltura os ritmos mais animados. Mas quando tocavam as “músicas lentas” me retraía num canto do salão. Mesmo ouvindo baladas românticas de Peninha ou Dalton faltava-me coragem para tirar as belas moças para dançar.

       Em um desses bailes, no intervalo da apresentação da banda Trepidantes, um amigo mais velho e experiente, percebendo minha indisfarçável timidez, resolveu me dar umas dicas:

       - Hômi, só tem um jeito de você não levar fora das meninas. Faça assim. Se aproxime de uma delas e diga: “Se eu chamasse você para dançar essa música você ia?” Se a resposta da pretendente for não, você completa: “É ‘porisso’ que eu nunca chamo você pra dançar”.


(imagem Google)

domingo, 30 de maio de 2010

178 - CHUVA DO CAJU



        No segundo semestre, são muito raras as chuvas que caem no solo do sertão nordestino. A terra seca da caatinga sofre por vários meses de estiagem.

       Na localidade chamada Gibão, próxima à sede do município cearense de Várzea Alegre, todo fim de tarde, Francisco Alves Bezerra levava seu pai Chico Negão para sentar na calçada da casa.

      O velho sofria com doenças que lhe provocaram a cegueira, mas adorava aquele momento em que sentia a brisa do início da noite e escutava o burburinho das pessoas passando pela estrada vicinal que levava à cidade. Ali, sentado na cadeira de balanço, recordava o tempo em que, manejando o dado, bancara o jogo do caipira no Mercado Velho.

       Em certos dias, especialmente na época da Festa de Agosto, o filho, desejando passear pelo arraial de São Raimundo, insistia, em vão, para o pai entrar em casa mais cedo.

       Certo ano, lá pelas oito da noite, no final do mês de agosto, em época festiva da cidade, Chico Negão gritou da calçada:

       - Meu fii, vem me tirar que tá nebrinando igualzin a onte e anteonte. Vai cair a chuva do caju. Essa nebrina faz mal a véi.

       Francisco, já vestido com roupa nova para passear pelas barracas do arraial, correndo para cozinha com a cuia de água que sapricara em cima do seu pai, respondeu:

       - Já tou indo pai. Peraí.



Colaboração: Regis Teixeira Leandro

sábado, 29 de maio de 2010

177 - PINTANDO O SUL



        O varzealegrense Raimundo Alves Bezerra, o popular João Sem Braço, ainda bem jovem sofreu um grave acidente e perdeu o membro superior esquerdo. Essa deficiência, no entanto, não o impediu de, desde menino, participar de campeonatos de futebol, jogar sinuca, atirar de baladeira e fazer outras presepadas.



      Na década de oitenta seguindo o rumo de muitos outros nordestinos, João Sem Braço, depois de viver em Fortaleza mudando rotineiramente de trabalho, foi embora para São Paulo dizendo que ganharia a vida pelo sul.



       Em São Bernardo do Campo, cidade do ABC paulista onde vive uma enorme colônia de varzealegrenses, o migrante procurou conterrâneos sob o argumento de que precisava da indicação para um trabalho.



       Na verdade, o maior interesse do irreverente e engraçado João Sem Braço era confraternizar com os amigos que moravam no sudeste brasileiro, pois não costumava demorar em emprego algum.



      Na casa do conterrâneo Moacir de Barela, antigo funcionário da Volks, após almoçar e tomar umas cervejas, o folgado João Sem Braço, com semblante sério, disse:



      - Moacir, arranje um emprego para mim. mais num arrume de pintor não, pois vai ser complicado eu subir a escada com a lata e o pincel.


Colaboração Régis Teixeira Leandro

(imagem Google)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

176 - O PODER DA CEGONHA



       No início do ano passado, depois de vários meses sem ver Elissandra, reencontrei minha atuante colega que acabara de ter um bebê. Observando-a, convenci-me de que a gravidez e a maternidade deixam as mulheres ainda mais bonitas e exuberantes.



       Esse encontro com a pernambucana Elissandra me fez lembrar o ocorrido no final da década de noventa na pequena Várzea Alegre.



       Meu tio materno, Antônio Ulisses, na calçada alta do seu escritório, sentado na sua cadeira de balanço, com sua visão crítica e sagaz, observava e tecia comentários sobre todos que caminhavam pela movimentada Rua dos Perus.



       Certa manhã, ali passou rapidamente a odontóloga Bertha Alexandre, em sua primeira aparição após o nascimento de sua filha Isadora. Meu tio, sempre muito observador e perspicaz, ao ver o corpo esguio, a elegância e a beleza da dentista mal saída do resguardo, comentou com seu inseparável amigo e ferreiro Chico Basil:



       - É danado! Bertha tem mininu e num despenteia nem o cabelo.


(imagem Google)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

175 - A GRAÚNA DE OURO



       Um dia chegou às minhas mãos um livro explicando a origem dos nomes próprios. Em uma ação automática, fui logo à letra “F” e descobri que Flávio, de origem latina, significava "da cor do ouro”. Embora com o cabelo preto que nem “a asa da graúna*”, não posso negar que gostei dessa qualidade aurífera do meu nome.

       Anos antes, na década de setenta, em férias por Fortaleza, assisti na TV preto e branco da minha avó Maria Amélia ao programa do Jornalista Flávio Cavalcante. Lembro que ele, encerrando cada trecho do programa, chamava a propaganda levantando o dedo indicador e falando firmemente:

        - Nossos comerciais, por favor.

       Eu era ainda menino e naquele primeiro momento não gostei do apresentador. Achei aquele homem antipático e arrogante. Numa humilhante atitude, ele quebrava e jogava no lixo o disco diante do cantor convidado ao programa. Imaginei logo que meu nome fosse alguma homenagem ou referência àquele presunçoso jornalista e apresentador de TV.

      Quando retornei a Várzea Alegre, no sertão cearense, abordei meu pai e perguntei:

      - Papai, o senhor escolheu meu nome por causa do apresentador Flávio Cavalcante?

       Meu querido pai acabava chegar da sua budega. Depois de um dia inteiro de balcão, ele, calçando sua confortável chinela japonesa, me olhou e disse:

       - Meu fi, quando você nasceu aqui não tinha nem energia elétrica direito, quanto mais televisão. É que, depois de Tereza Amélia, a gente resolveu dar aos filhos nomes com a letra “F”: Fernando, Flávio e Flaviana. Você não vê que até o cachorro de vocês se chama Flay.



* Ave típica do nordeste brasileiro usada em alegoria do escritor cearense José de Alencar para explicar a cor negra dos cabelos de sua personagem Iracema.

(imagem Google)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

174 - NO BANCO DA PRAÇA



Na época do estudo primário, aluno do sertão, eu não entendia porque o genuinamente cearense Rio Jaguaribe era definido pelo professor de geografia como o maior Rio Seco do Mundo. Para mim, um rio necessariamente precisaria de água, como sobra no Amazonas, maior rio da terra em volume d’água. Só muitos anos depois compreendi que o mestre se referia à intermitência, à temporariedade, do importante rio cearense.



Este fim de semana, no banco da Praça Veiga Cabral, no centro de Macapá, próximo à concorrida banca de revistas do Dorimar, reencontrei o pioneiro Ruy Guarany Neves. Nossas conversas navegaram por vários assuntos e descobri que o amapaense do Oiapoque nasceu do inimaginável encontro do Rio Jaguaribe com o Rio Amazonas, pois filho de um cearense do Iguatu com uma paraense do Afuá.



Seu Ruy me presenteou com o seu livro “O Homem da Fronteira” e me contou interessantes causos acontecidos nas terras tucujus e em outras partes do Brasil. Não lembro como chegamos ao assunto da transamazônica, mas o jornalista e agente de comunicação aposentado lembrou que Jânio Quadros definia essa obra do governo militar como a estrada que ligaria o deserto árido ao deserto úmido.



Em que pese a ironia do ex-presidente, fiquei com essa definição na cabeça. Só assim descobri porque me identifico e amo tanto esses dois lugares. As terras secas e áridas do sertão cearense e as terras úmidas da amazônia amapaense são meus desertos favoritos.

 
(imagem Google0

domingo, 23 de maio de 2010

173 - TIQUE TIQUE NERVOSO



Falar bem em público é uma arte admirável. Embora a comunicação oral seja uma ferramenta indispensável em minha atividade profissional, admito limitações no momento de falar em público.

Não bastassem outras deficiências, um amigo já advertiu que eu puxo a pele do pescoço enquanto palestro. Um tique nervoso, pois não noto que ajo assim. Afinal quem sofre do problema não percebe o involuntário movimento.

Certa vez, um colega de repartição da área de tecnologia, com pouca experiência com os microfones, me perguntou como ele havia se saído no dia anterior na apresentação de um trabalho em um concorrido evento público de nosso órgão. Eu, buscando ser o mais sincero possível, disse:

- Meu amigo, sua apresentação foi maravilhosa. Digna de muitos elogios. Mostrou segurança e conhecimento do tema exposto ao público. Muito boa mesmo. Mas me desculpe observar uma coisa. Você tem uma mania esquisita. Aqui e ali você dá uma coçadinha no saco.

Com a minha séria e convincente observação o colega entrou em desespero. Sua apresentação fora assistida por inúmeras pessoas, inclusive a cúpula do nosso e de outros órgãos convidados. Imediatamente saiu em direção ao setor de comunicação responsável pela gravação do evento.

No outro dia, cedo da manhã, ele foi à minha sala, e, antes de cairmos na maior gargalhada, me disse:

- Eita cearense, você me fez ver horas de gravação. Passei a noite revendo tudo. Não teve nada disso não. Só se era quando eu colocava as mãos no bolso



(imagem Google)

sexta-feira, 21 de maio de 2010

172 - CORRETOR DE ALGODÃO



Prosseguindo na atividade do Coronel Dirceu Pimpim, seu avô materno, o cearense Antônio Ulisses trabalhou por muitos anos na corretagem de algodão e oiticica no antigo prédio de calçada alta localizado no início da Rua dos Perus em Várzea Alegre.

Comprando o algodão ainda na “folha”, antes da colheita, Antônio Ulisses recebia frequentemente em seu escritório agricultores interessados no negócio. No entanto, como a organização nunca foi o forte do corretor, sempre lhe faltava dinheiro miúdo para antecipar ao agricultor a exata quantia negociada. Para “trocar” o dinheiro se valia do conhecido comerciante e amigo José Gonçalves, Zé Manga Mucha, dono de uma movimentada “bodega” localizada bem próxima ao escritório de compra e venda de algodão.

Numa dessas oportunidades, no início da década de oitenta, Antônio Ulisses foi procurado por um produtor e negociou a compra de algumas arrobas do ouro branco. No mesmo instante, o corretor chamou o ferreiro Chico Basil e disse:

- Chico, vá ali rapidin em Zé Manga Mucha e peça para ele trocar cem mil cruzeiros pra mim.

O amigo Chico Basil estranhou porque Antônio Ulisses não lhe entregou nenhum dinheiro, mas mesmo assim foi até o comércio. Ao ouvir o recado, com a budega cheia de fregueses, o experiente comerciante Zé Manga Mucha deu o dinheiro trocado ao mensageiro, porém observou:

- É danado! Eu tou no balcão desde minino. Mas é a primeira vez que troco dinheiro fiado.



(imagem Google)

domingo, 16 de maio de 2010

171 - PAU DE ARARA MODERNO




Desde que, no ano de 1906, em Paris, o brasileiro Santos Dumont apresentou o seu 14 Bis, o homem não mais parou de voar. Com o desenvolvimento da aviação comercial, o transporte aéreo se apresentou inicialmente como uma opção restrita e de luxo. Pelo seu altíssimo preço, a grande maioria da população não tinha acesso ao meio de deslocamento rápido e eficiente.

A extensão Brasil e a precariedade de outros meios de transporte fizeram com que a aviação comercial alcançasse uma expansão excepcional no país. O cearense do sertão, que por muitas décadas viajou para o sudeste em desconfortáveis caminhões pau-de-arara, passou a contar com a rápida opção dos aviões.

Na década de noventa, a varzealegrense Dalva ganhou uma passagem de avião entre Juazeiro do Norte e São Paulo para visitar seus filhos que moram no sudeste. No dia da ansiada viagem, Carlos Leandro da Silva, conhecido como Carlin de Dalva, se encarregou de levar sua querida mãe até a vizinha terra de Padin Ciço. Observando certo nervosismo na turista, Carlin buscou descontrair a passageira de primeira viagem:

- Mãe, num vá abrir lata de farofa de galinha nem descascar laranja dentro do avião não. Eles dão merenda lá.

Na despedida, quando sua simples e querida mãe se preparava para entrar na sala de embarque, Carlin exclamou:

- Mãe, quem já foi avião!!!!!!!!

(imagem Google)

sexta-feira, 14 de maio de 2010

170 - VELHACO




O Brasil experimenta ultimamente uma revolução diferente. A revolução dos carnês. Com a democratização do crédito, uma grande camada da população passou a ter acesso a bens de consumo antes inalcançáveis através de financiamentos.

Mas um conhecido cidadão de Várzea Alegre, acostumado a contrair dívidas e conhecido por sua velhacaria, não perdia a chance de realizar uma ação que ele mesmo denominava “captação de recursos”.

Certo dia, o tal varzealegrense encontrou um conhecido e foi logo falando:

- Cumpade me arrume cinquenta reais emprestado:

Temendo perder seu dinheiro, o conhecido abriu a surrada carteira, mostrou a única cédula e se desculpou:

- Dá não, hômi. Só tenho vinte reais.

No entanto, o velhaco esperto foi logo puxando a nota de vinte reais da porta-cédula do amigo e dizendo;

- Tem nada não. Dê cá esses vinte e você fica me devendo só trinta...



(imagem Google)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

169 - FILHO DE PEIXE



 

        Filho primogênito do médico José Iran Costa e da educadora Laís Iolanda, desde os tempos de criança Iran Junior nunca tentou se prevalecer da posição destacada dos seus pais na pequena e modesta Várzea Alegre. Mas, atento aos bons exemplos e ensinamentos da família, inspirado nos passos do querido pai, o menino se tornou um conceituado médico na cidade de Recife.


       Em uma manhã de domingo do início da década de setenta, em uma roça do Bairro Betânia, o pequeno Iran Junior brincava perigosamente próximo a um jumento. Passava pelo local e viu a perigosa cena, José de Sousa Lima, Pé Véi, varzealegrense simples e de tiradas originais. Imediatamente, o espirituoso morador de Fatico gritou:


       - Menino, sai detrás desse jumento. Ele num sabe que tu é fii de dotô Iran não.




(imagem Google)

domingo, 9 de maio de 2010

168 - TIA JOANINHA DO AROJADO





Dona Joana Oliveira, do distrito do Arrojado, município cearense de Lavras da Mangabeira, durante toda sua vida se queixou de muitas doenças. Extremamente cuidadosa, só tomava banho com “água dormida”, aparada no dia anterior para descansar no pote.
Certamente essa e outras precauções permitiram que a conhecida dona Joana, casada e mãe de vários filhos, vivesse por noventa e oito anos na modesta lida do sertão nordestino.
No início da década de noventa, Maria de Lourdes, acadêmica de direito na progressista cidade paraibana de Campina Grande, voltou de férias ao seu Arrojado e decidiu logo visitar sua velha e querida tia. Ao entrar no quarto de dona Joana, estranhou dois utensílios embaixo da cama e perguntou:
- Tia Joaninha, pra que é que a senhora precisa de dois “pinicos”?
- Ah! Minha sobrinha. Um de plástico, outo de alumin. O de alumin eu só uso de dia, pois de noite as beirada fica fria demais.



Colaboração: Maria de Lourdes Sousa

(imagem Google)

sábado, 8 de maio de 2010

167 - "CABUÇU" DO PÉ RACHADO





      
        Contam no sul do Estado do Amapá que décadas atrás alguns empresários estrangeiros visitaram o Vale do Jari no interesse de conhecer as potencialidades do lugar. Por segurança, os visitantes foram acompanhados por um antigo e humilde morador do local nessa bela mas desconhecida região do Brasil.

       Depois de conhecer vários pontos turísticos do Rio Jari, inclusive a majestosa Cachoeira de Santo Antônio, o grupo resolveu comemorar a impressionante descoberta abrindo um litro de uísque que trazia na mochila.

       Ao perceber o olhar ingênuo e apetitoso do guia para a bebida desconhecida, um visitante resolveu servir os primeiros goles para o velho morador. Assim, caprichou na dose do sofisticado destilado, enchendo um grande copo.

        Ao receber, sem demonstrar desconfiança, o cabuçu do pé rachado* agradeceu a inesperada gentileza e entornou o copo de um só gole. Em seguida, sem qualquer careta, olhou para os espantados visitantes e perguntou:

       - E essa é a tar de coca-cola ????????



Colaboração: Afonso Henrique Oliveira Pereira

* cabuçu do pé rachado – expressão usada pelos humoristas amapaenses para designar os moradores simples de regiões ribeirinhas e isoladas da Amazônia.

(imagem Google)

sexta-feira, 7 de maio de 2010

166 - ABECEDÁRIO





         Minha avó materna Maria Amélia, antes de se aposentar como professora, alfabetizou muitos estudantes na pequena Várzea Alegre. Mas nenhum dos seus alunos deu tanto trabalho para estudar como seu próprio filho Antônio Ulisses. Embora muito inteligente e perspicaz, o menino apresentava uma enorme preguiça para o aprendizado formal.

        Certa manhã, em casa, como reforço, a professora e mãe, depois de muita paciência e insistência, conseguiu ensinar o alfabeto para o filho. Antônio Ulisses, com indisfarçável indolência, escreveu todas as letras no amassado papel.

        No final da tarefa, chegou à casa da Rua Duque de Caxias, o vizinho e amigo Raimundo Alves de Menezes, conhecido por Mundin do Sapo. Empolgada com o pequeno progresso e desejando motivar o filho, Maria Amélia disse:

       - Mundin, olha como Antônio Ulisses já tá fazendo as letras direitin.

        O sincero e original agricultor, antevendo que o menino seria bem melhor na corretagem de algodão do que nas letras, ao ver os incompreensíveis rabiscos no papel, comentou:

        - Maria Amélia, tá mais parecido com um cacho de fulô.



Colaboração: Maria do Socorro Costa Bezerra


(imagem Google)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

165 - MANÉ CACHACINHA




          Há vários anos, em plena caatinga cearense, numa época em que não se discutia qualquer tema ambiental, um caricato bêbado, conhecido como Mané Cachacinha, cunhou uma frase que virou mote de poeta popular, tema de várias conversas e símbolo de amor à cidade: Várzea Alegre é Natureza.



          Impossível definir com precisão o alcance da frase milhares de vezes repetidas por seu autor em todos os lugares que andava, especialmente nos bares da cidade. O agricultor, nascido no município serrano de Caririaçu, na sua vida boêmia, por muitos anos viveu em Várzea Alegre, alegrando os ambientes que frenquentava, cantando músicas e dando respostas originais.



          Certo dia, um curioso perguntou ao irreverente bêbado da cidade:



           - Mané, qual o maior porre que você já tomou?



          Sem muito pensar, com várias doses de pinga na cabeça, o agricultor respondeu:



           - Num sei se foi o mais maior não. Mas teve uma vez que fui duma safra de caju até a outa.



* informações biográficas obtidas na Biblioteca Municipal de Várzea Alegre
(imagem Google)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

164 - VOLTO LOGO

          Foi com incansável devotamento que doutor José Iran Costa exerceu sua profissão a favor dos moradores de Várzea Alegre, pequena cidade do sertão cearense. Assim, com muita dedicação, cuidando da saúde de várias gerações, criou-se uma consolidada relação de confiança entre o médico e os seus pacientes.

          Para muitos não adiantava a indicação de outro profissional com igual ou maior conhecimento. Diante de qualquer enfermidade, o único em que confiavam e o primeiro que consultavam era o dedicado Doutor Iran.

          Certo dia, no Hospital Santa Maria, em seu consultório, o médico atendia uma humilde senhora e disse:

           - Cumade, amanhã cedo vou pra São Paulo visitar meu filho Guilherme que tá fazendo residência médica por lá. Mas não se preocupe não. Outros médicos vão ficar acompanhando a senhora aqui no hospital.

           A velha paciente, adoentada, sem esconder sua preocupação, arregalou os olhos e perguntou:

           - Vixe, Dotô Iran. O senhor volta quando?

           Com sua maneira descontraída, o experiente médico respondeu:

           - Só volto quando o dinheiro acabar.

         Já desesperada, temendo que o seu médico demorasse muito na viagem, a velha paciente, com indiscreta ingenuidade, voltou a perguntar:

          - Dotô, Quanto o senhor tá levano? muito não, né ?



Colaboração: Andrea Sílvia Costa

(imagem Google)

terça-feira, 4 de maio de 2010

163 - O CARREGADOR DE PINICO

       Há cinqüenta anos, poucas residências possuíam em seu interior banheiros, e, por conseguinte, vasos sanitários. As convenientes suítes eram praticamente desconhecidas naquela época, sobretudo em pequenas cidades do interior cearense, como Várzea Alegre, onde ainda não havia, sequer, a cômoda água encanada.

       O banheiro da casa da rua Duque de Caxias, como em todas as outras residências, era localizado bem no fundo do quintal. Seu acesso era bastante difícil, principalmente à noite, pois no trajeto era necessário descer vários degraus de escada.

       Rosa Amélia, irmã mais velha, durante o período noturno, após o dia de estafante trabalho, fazia suas necessidades em um penico. Logo pela manhã, encarregava Antônio Ulisses, ainda menino, de jogar os dejetos na distante cintrina, sob a promessa de pagar-lhe alguns tostões.

       Na época, Rosa Amélia, jovem e bonita, trabalhava no estabelecimento comercial de propriedade dos seus primos Toin e Joãozinho Costa, próximo da residência da rua Duque de Caxias, onde atualmente funciona o Armazém Itaúna, de Fabiana Menezes Costa. Antônio Ulisses, como não recebia o pagamento pela desagradável tarefa de transportar o penico e seu conteúdo para a retrete, ia para a porta do estabelecimento comercial de vendas de tecidos e, caminhando na calçada da loja, ameaçava sua irmã, falando:

        — Se não me pagar o que me prometeu eu digo.

      Com isso, Rosa Amélia, mocinha nova, nervosa e envergonhada, cheia de pudores, sabedora das peraltices e da coragem de seu mano, cuidava logo de quitar tal dívida sob pena do irmão trazer a público o melindroso episódio do penico.


Do Livro “Conte Essa, Conte Aquela – Histórias de Antônio Ulisses”

Ilustração: Edricy França

domingo, 2 de maio de 2010

162 - FALTA DE EQUILÍBRIO



         

         Na década de oitenta, surgiu uma verruga na virilha do agricultor José Raimundo de Morais, conhecido na pequena e animada Várzea Alegre como Zé André do Sanharol. Depois de uma descontraída consulta, o experiente médico José Iran Costa indicou uma cirurgia ambulatorial para retirada do pequeno incômodo.

          De imediato, doutor Iran determinou que uma jovem enfermeira realizasse o asseio e a preparação do paciente para a cirurgia. Assim, a jovem servidora do hospital passou a depilar a região íntima do agricultor.

         No cumprimento da incômoda tarefa, a enfermeira cuidadosamente afastou o pênis do paciente de um lado ao outro para a necessária depilação da região próxima à pequena intervenção cirúrgica. Vendo a enfermeira trocar de posição o seu “pinto” por diversas vezes, o velho agricultor, com voz alta e irreverente espontaneidade, falou:

         - É mia fia. Pode ir segurando ele. Faz tempo que ele num se equilibra só.



- Colaboração: Antônio Alves de Morais

(magem Google)

sábado, 1 de maio de 2010

161 - COM CORREÇÃO VISUAL




        José Raimundo de Morais, Zé André do Sanharol, conhecido agricultor do município de Várzea Alegre, certa vez foi a Fortaleza passar uns dias na casa do seu filho Pedro.
        Na Capital Alencarina, Zé André foi levado ao gigantesco Castelão para assistir ao clássico-rei Fortaleza e Ceará. Na saída para o estádio, o filho lembrou:
         - Pai, leve seus óculos porque o Castelão é muito grande e sem o pince-nez* o senhor não vai ver direito os jogadores.
         No dia seguinte, na continuidade do divertido passeio, o experiente agricultor visitou a concorrida e famosa Praia do Futuro. Ao pisar na areia quente e logo perceber belas garotas vestindo minúsculos biquínis e desfilando corpos esculturais, o irreverente agricultor repreendeu o filho:
       - Pedro, como é que dessa vez você não me avisa? Hômi, eu devia ter trazido os óculos era pra cá.





- Colaboração: Antônio Alves de Morais

* palavra francesa que originalmente significa óculos sem haste em que uma mola prende ao nariz mas usada no Ceará como sinônimo para todos os tipos óculos.