domingo, 30 de maio de 2010

178 - CHUVA DO CAJU



        No segundo semestre, são muito raras as chuvas que caem no solo do sertão nordestino. A terra seca da caatinga sofre por vários meses de estiagem.

       Na localidade chamada Gibão, próxima à sede do município cearense de Várzea Alegre, todo fim de tarde, Francisco Alves Bezerra levava seu pai Chico Negão para sentar na calçada da casa.

      O velho sofria com doenças que lhe provocaram a cegueira, mas adorava aquele momento em que sentia a brisa do início da noite e escutava o burburinho das pessoas passando pela estrada vicinal que levava à cidade. Ali, sentado na cadeira de balanço, recordava o tempo em que, manejando o dado, bancara o jogo do caipira no Mercado Velho.

       Em certos dias, especialmente na época da Festa de Agosto, o filho, desejando passear pelo arraial de São Raimundo, insistia, em vão, para o pai entrar em casa mais cedo.

       Certo ano, lá pelas oito da noite, no final do mês de agosto, em época festiva da cidade, Chico Negão gritou da calçada:

       - Meu fii, vem me tirar que tá nebrinando igualzin a onte e anteonte. Vai cair a chuva do caju. Essa nebrina faz mal a véi.

       Francisco, já vestido com roupa nova para passear pelas barracas do arraial, correndo para cozinha com a cuia de água que sapricara em cima do seu pai, respondeu:

       - Já tou indo pai. Peraí.



Colaboração: Regis Teixeira Leandro

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