domingo, 31 de março de 2013

738 - EMPRESTA E TROCA





Em meados da década de 1980, em Várzea Alegre, município do sertão cearense, um cidadão foi à residência de Francisco das Chagas Bezerra, conhecido como Chico Piau, pedir emprestado certa quantia em dinheiro. 

Naquele dia, como de hábito, Chico jogava baralho e conversava com vizinhos na calçada de sua casa. Sem desviar o olhar das cartas, o exímio negociador perguntou ao proponente do empréstimo:

- Você se lembra de quando a gente era minino e trocava lá nas moitas do São Cosme*?

Surpreso com a indiscrição de Chico, que se referiu às inocentes e comuns experiências de iniciação sexual dos garotos, o tímido cidadão respondeu:

- Nannnn. Eu num lembro disso não...

Recebida a constrangida resposta, Chico Piau, com a vivacidade de sempre, jogou uma carta de baralho na mesa e completou: 

- Então não dá certo emprestar dinheiro a você não. Você é muito esquicidin...


* sítio de Várzea Alegre.
 Colaboração: José Lanussi Sátiro da Costa
(imagem Google)

sábado, 30 de março de 2013

737 - VELÓRIO DA SOGRA





No final de um movimentado velório, após muito choro e lamentações, o genro se aproximou do caixão da sua velha sogra e depositou uma carteira de cigarros próximo às mãos cruzadas da falecida. Choramingando, murmurou: 

- Leve seu cigarro. A senhora sempre gostou tanto de fumar...

Um amigo da família assistia à comovente cena e sugeriu:

- Por que você não põe também uma caixa de fósforos ou um isqueiro para ela acender o cigarro?

O genro, ainda enxugando as lágrimas, falou próximo ao ouvido do amigo:

- Não, num carece não. Pra onde ela vai tem muito fogo, é cheio de labaredas...


Colaboração: Paulo Danúbio Carvalho Costa
(Imagem Google)

quarta-feira, 27 de março de 2013

736 - CORTE DE VICENTE CESÁRIO






Em uma tranquila e quente tarde da década de setenta, em Várzea Alegre, na tradicional barbearia de Vicente Cesário, situada na antiga Rua Major Joaquim Alves, apareceu um cliente pouco comum. Tratava-se de um varzealegrense que morou poucos meses em São Paulo mas voltou como se nascido e criado naquelas longínquas terras bandeirantes.

Com forçado sotaque paulista, vestindo extravagantes roupas adquiridas na breve estada  pela progressista capital econômica brasileira,   o rapaz sentou-se na surrada cadeira do barbeiro e disse:

- Mano, eu quero que dê um trato no meu cabelo igual faço no São Paulo...

O experiente barbeiro, com tesoura e pente nas mãos, começou o serviço, só ouvindo a conversa do falante rapaz:

- No Sul eu só vou num salão lá da Ipiranga*. Num tem essa quentura daqui não. No verão é da hora, é tudo no ar refrigerado...

E continuava abusando das gírias:

- Aqui é a maior queimação. Nem lava nem passa creme no cabelo da gente...

Essa ladainha foi até o final, com o rapaz contando vantagens de sua rápida passagem por São Paulo. Concluído o corte, enquanto Vicente guardava as tesouras e os pentes usados no trabalho, o abusado cliente perguntou:

- E aí, meu? Quanto foi a parada?

O velho barbeiro, que ouvira calado as gabolices do deslumbrado jovem, decidiu ir à forra, dizendo:

- Num vou cobrá caro não. Mim pague só o preço de São Paulo...


* famosa rua do centro de São Paulo.
(Imagem Google)
colaboração: Paulo Danúbio Carvalho Costa

terça-feira, 26 de março de 2013

735 - CAMPANHA PRIVADA (Pedra de Clarianã há dois anos)



       Nas eleições de 1998, o varzealegrense Raimundo Alves Bezerra, conhecido como João Sem Braço, resolveu apresentar seu nome para disputar uma vaga na Câmara de Municipal. Com o sugestivo slogan “dê a mão a quem precisa”, o candidato decidiu visitar os eleitores bem antes das convenções partidárias.

       Logo no início da campanha, João Sem Braço anunciou sua candidatura aos parentes do sítio Gibão, zona rural de Várzea Alegre. Na casa de um primo, já foi recebido com um indecente pedido:

        - João aqui tem muito eleitor. Mas pra gente votar, você precisa ajudar a fazer um banheiro aqui em casa.

       Sem dinheiro, mas com muita irreverência, o candidato sugeriu:

        - Primo, só tem um jeito: vocês votam em mim e toda vez que der vontade vão cagar lá em casa.



Colaboração: Gilberto Rolim
(imagem Google)

sexta-feira, 22 de março de 2013

734 - NO PRIMEIRO ENCONTRO




A revolução sexual experimentada nas últimas décadas trouxe avanços nos relacionamentos mas não conseguiu superar alguns conceitos machistas e nem resolver conflitos existenciais da humanidade. 


Antes, havia uma regra rígida e quase sempre cumprida. A primeira relação íntima de um casal só poderia acontecer após a celebração do matrimônio.


Hoje, com a liberação dos costumes, uma angústia atormenta o ser humano. Qual o momento adequado e oportuno para se entregar completamente ao namorado?


Muitos sustentam que a mulher não deve ceder nos primeiros encontros, como forma de valorização pessoal e de busca de um melhor conhecimento do pretendente. Outros dizem que pode sim, respeitando os seus próprios desejos, sentimentos e limites. Não é a simples medida desse lapso temporal que determinará o fracasso ou o sucesso do relacionamento.


Casado há trinta anos, com uma família estruturada e feliz, um querido conhecido, quando surge o polêmico assunto, costuma escancarar a sua própria experiência:


- A minha muié foi difícil demais. Conheci ela na segunda e só fui cumê ela lá pa têça...



(Imagem Google)

terça-feira, 19 de março de 2013

733 - O FURTO DO SANTO





O dia de São José amanheceu com notícias alvissareiras, boas chuvas caindo no solo seco do Ceará, especialmente na minha querida cidade natal, Várzea Alegre, onde a falta d’água já maltratava bastante os agricultores e pecuaristas do sertão.

As precipitações de hoje possuem um significado especial porque ocorrem justamente no dia do padroeiro do Ceará.  O sertanejo apela para sua forte religiosidade e para crendice popular na busca desesperada por atrair chuva para o sofrido semiárido nordestino. 

Desconfio que se repetiu o ocorrido em 1968, nas Guaribas, zona rural de Várzea Alegre, quando furtaram uma imagem de São José da casa de José Frutuoso de Oliveira, conhecido como Pedro Frutuoso. O santo ficou escondido em um sítio vizinho, chamado Caldeirão.

Furtar a imagem e guardá-la em lugar seguro até o fim da colheita, quando festivamente o santo é devolvido ao seu legítimo dono, reforça a esperança do agricultor de que São José não vai abandoná-lo, garantindo a chuva que trará fartura para a mesa do sertanejo.

Viva São José!


Colaboração: Elias Frutuoso
(imagem Google)