quinta-feira, 30 de agosto de 2012

644 - ELEITORA DESINFORMADA





O empresário e político varzealegrense Otacílio Correia também marcou a vida pelo seu jeito extrovertido e brincalhão, facilitado pela enorme capacidade de narrar situações hilariantes, muitas delas fielmente registradas no sítio eletrônico http://www.otaciliocorreia.com.br/. O causo aqui apresentado não está relacionado no site Histórias de Otacílio mas tem a sua cara.

O político sempre buscava votos para o parlamento estadual na zona rural de Cariús. Certa vez, na segunda metade do século passado,  na visita a uma distante e isolada comunidade daquele município cearense, uma modesta mulher se aproximou da pequena comitiva e falou:

- Seu deputado, o sinhô é o hômi mais bunito que eu já vi.

O varzealegrense Otacílio Correia não perdia oportunidade para uma boa resposta, nem que desdenhando de sua própria beleza. E, imediatamente, retrucou:
 
-  Minha filha, me diga com sinceridade, você já saiu daqui pra algum outro canto?


(imagem Google)

terça-feira, 28 de agosto de 2012

643 - OLHAR PIDÃO (Pedra de Clarianã há dois anos)




          Meu querido tio materno Paulo Danúbio confessa sofrer de um incontrolável e inconveniente costume. Sempre que é convidado para algum jantar ou vai a restaurantes, o conhecido professor não consegue se concentrar na sua mesa e saborear seu próprio prato. O pedido do vizinho de restaurante parece muito mais interessante, atraindo o olhar pidão do mestre.

           Mesmo sem submeter o recorrente comportamento a um especialista, o professor sustenta que o esquisito hábito surgiu na infância. Nos tempos de menino em Várzea Alegre, na década de 1960, Paulo Danúbio, muito apetitoso, não se contentava com a comida servida em casa. Assim, desde cedo, com a fome canina, desenvolveu o costume de espiar as refeições preparadas na casa dos vizinhos mais abastados.

          Naquela época de proles numerosas, as crianças ainda não gozavam da atenção e prioridade alcançada nos dias atuais. Os olhos arregalados de desejo dos pequenos pouco sensibilizavam os adultos. Quando surpreendidos espiando a refeição dos outros ainda sofriam severa repreensão dos pais.

          O bem sucedido professor reconhece que não adianta nem mesmo ir a boas churrascarias e pedir pratos fartos e variados. Por mais que tente se controlar não consegue disfarçar a estranha compulsão e espia indiscretamente a comida servida na mesa vizinha.



(imagem Google)

domingo, 26 de agosto de 2012

642 - OS VOTOS DE "VÊRA"




Atualmente as campanhas oficiais buscam difundir os princípios da cidadania e conscientizar os eleitores sobre os malefícios da compra e venda de votos.

Mas no final do século passado, no sítio Varas, zona rural de Várzea Alegre, o agricultor Joaquim Oliveira Brito, Vêra, recebeu em sua casa a visita de uma comitiva de políticos. Provando um saboroso café, sentado na calçada, após uma conversa inicial, o candidato entrou no assunto que interessava:

- Mas me diga, Vêraquantos votos tem mesmo aqui na sua casa?

O símpatico agricultor, olhando para cima, preparou os dedos para a contagem de toda sua família. Para impressionar o político e conseguir uma melhor oferta pelos votos, usou várias referências e apelidos para cada eleitor, repetindo, assim, várias vezes, o mesmo membro da sua numerosa família:

- Seu Dotô, aqui em casa é uma ruma* de voto. Num cabe nem nos dedo dos pés e das mão. Tem Zenilde, tem minha muié. Tem Francisco meu fii, tem Chico de Pista, tem o marido de Marlúcia. Tem Antôe meu, tem Galego, tem o genro de Cacaria...


* ruma é uma palavra usada para dar ênfase na grande quantidade de uma determinada coisa.
(imagem Google) 

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

641 - PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA




No início da década de setenta, Antônio Ulisses prestou o serviço militar obrigatório em Fortaleza. Mesmo não se enquadrando na rigorosa disciplina do Exército, encantou-se pela vida da caserna, tanto que sempre contava as histórias e aventuras vividas naquele rico e especial período.

 Após dar baixa no quartel, Antônio Ulisses voltou para a sua cidade natal, Várzea Alegre, onde foi contratado para ministrar aulas de Educação Física aos alunos da Escola Figueiredo Correia. Era a oportunidade que faltava para o varzealegrense demonstrar a rígida preparação e os fartos conhecimentos atléticos adquiridos no período de soldado.

As aulas de educação física aconteciam apenas uma vez por mês, em uma segunda-feira. Certa vez, logo no início do ano letivo, como a atividade começava bem cedo, o descansado professor pediu a um dos seus alunos e vizinho:

- João, no domingo é arriscado eu tomar umas no Bar de Nego de Aninha. Na segunda vá lá em casa pra me acordar...

Bem cedo, antes do sol nascer, o esforçado aluno bateu na velha porta de madeira e gritou:

- Professor Antônio Ulisses, tá na hora da aula. Professor, tá na hora...

Deitado em sua rede, cochilando, o tranquilo e descansado mestre pediu:

- João, junte os alunos e depois venha me chamar.

Decorridos cerca de vinte minutos, o pequeno aluno voltou à casa do professor e avisou:

- Seu Antônio Ulisses, já juntei os aluno tudo. Tão lá  de frente do Figueredo...

Sem nenhuma disposição para as atividades físicas, de sua rede o pouco atlético e sonolento mestre disse:

- Agora volte lá e diga a eles que hoje num tem aula.


(imagem Google)

terça-feira, 21 de agosto de 2012

640 - MARIA DOS TIJOLOS (Pedra de Clarianã há dois anos)





           Maria dos Tijolos viveu por vários anos em Várzea Alegre, distribuindo alegria e ingenuidade. Nascida simplesmente Maria, adquiriu seu incomum sobrenome por passar o dia inteiro circulando pelas ruas oferecendo tijolos de leite. A vendedora, com pouca lucidez, não se incomodava em voltar pra casa com todos os doces na bandeja, pois sua maior satisfação era caminhar livremente pela cidade e conversar com as pessoas.


           Aos domingos, na missa da Igreja de São Raimundo Nonato, Maria dos Tijolos adorava escutar o coral cantando os louvores à Nossa Senhora, principalmente o composto pelo talentoso Padre Zezinho:

            “(...) Maria que eu quero bem

            Maria de puro amor

            Igual a você ninguém

            Mãe pura do meu Senhor (...)”

           A vendedora dos doces, de batom vermelho nos lábios de sua desdentada boca, não escondia a satisfação ao ouvir o belo hino. Com um riso tímido e as mãos juntas próximo ao rosto, Maria dos Tijolos se sentia a verdadeira e única homenageada pela bela canção, mesmo alertada por um das cantoras do coral da igreja,:

           - Maria, deixa de ser besta, essa música é pra Nossa Senhora. Num é pra tu não, viu.

Colaboração: Israel Batista
(imagem Google)

domingo, 19 de agosto de 2012

639 - O BALANÇO DA "BUDEGA"




Aos empresários é imposta a obrigação legal de realizar o levantamento do balanço patrimonial ao término de determinado período. 

Em Várzea Alegre, na década de setenta, sempre no período de férias, o meu pai Luiz e o meu avô Raimundo Silvino fechavam a bodega por alguns dias para o cumprimento da regra comercial.  Para que tal levantamento fosse realizado, toda família era mobilizada, inclusive as crianças.

Com muito trabalho e sacrifício, retirava-se toda a mercadoria estocada no pequeno comércio. Prateleiras, gavetas e balcões da velha bodega eram esvaziados. Até os tubos de linhas, grampos de cerca, latas de cera e outros produtos eram contados.

Depois de esvaziada, a velha bodega passava pela única e completa limpeza do ano. Talvez pela falta de asseio ao longo dos outros doze meses, surgiu no Ceará a expressão que se fala depois de alguma horas me jejum:

- Careço comer alguma coisa pra tirar o gosto de chão de budega da boca...


(imagem Google)

sábado, 18 de agosto de 2012

638 - NOITE NO CABARÉ (Pedra de Clarianã há dois anos)


         No final do século passado, em uma manhã de sábado, dia de movimentada feira, cedo da manhã o agricultor Joaquim Fiúza decidiu realizar umas compras na sede do município de Várzea Alegre.

            Animado por umas cachaças tomadas no mercado público, o agricultor resolveu passar pela zona boêmia da pequena cidade do interior cearense, onde permaneceu durante toda a noite.

          Ao chegar, ainda bem cedo, o agricultor foi recebido pela sua esposa Isabel no terreiro da casa do sítio Chico,

       - Muito bonito,  Joaquim! Tu pensa que eu não  sabendo que tu dormiu no cabaré?

          - Ôxi, Isabel. Dormi nada. Quem é que dorme com um barulho daquele?


Colaboração: Giovani Costa

(imagem Google)

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

637 - O WINDOWS E A RETRETE




O mundo noticiou nesta semana que o fundador da Microsoft, Bill Gates, lançou concurso para descoberta de um sanitário que atenda melhor às necessidades dos países em desenvolvimento. O milionário sustenta que tal equipamento é muito importante para a saúde pública e essencial para construção da dignidade humana. Como quarenta por cento da população do planeta não tem um local seguro para defecar, o filantropo patrocinou a “Feira de Reinvenção da Privada”.

No Arrojado, distrito do município cearense de Lavras da Mangabeira, o agricultor Vicente ainda resiste em mudar um velho hábito. Certa vez, convidado para visitar familiares e conhecer a bela capital do Ceará, Fortaleza, o experiente e desconfiado lavrador respondeu:

- Eu lá vou pra essa Fortaleza. Num tem tabuleiro com moita pra mode eu fazer minhas necessidade, nem foia de mufumbo ou sabugo pra mim se limpá


Colaboração: Maria de Lourdes Sousa
(imagem Google)

terça-feira, 14 de agosto de 2012

636 - O BURRO DE CHICO PIAU




Por vários anos, o varzealegrense Francisco das Chagas Bezerra, conhecido como Chico Piau, negociou animais de carga pela região centro-sul cearense. Era sempre procurado por quem precisava vender ou adquirir um cavalo, jumento ou burro.

Na década de oitenta, Chico vendeu um burro a um carroceiro, tecendo vários elogios ao animal e afiançando que era muito bom de serviço. Poucos dias depois, foi procurado pelo arrependido comprador:

- Chico, esse burro corta o foigo, tem um fungado fêi, cansa ligêro demais. Num dá pra nada não...

 O vendedor, que não deixava nada sem uma imediata e criativa resposta, interrompeu a reclamação, dizendo:

- Hômi, você quer o bicho pra puxar carroça ou pra encher bola de assopro...


Colaboração: Ropson Frutuoso Bezerra
(imagem Google)

sábado, 11 de agosto de 2012

635 - O CONTROLE DO SABÃO




Em Fortaleza, na década de 1980, morei com minha querida avó  Maria Amélia em um tranquilo e acolhedor apartamento do Bairro de Fátima.  Naquela saudosa época, eu cursava o segundo grau no Colégio Cearense Sagrado Coração e me preparava para o vestibular.

Minha avó custeava as despesas com muita dificuldade, pois vivia apenas com os parcos proventos de professora aposentada. Para tanto mantinha um rigoroso controle sobre as despesas com o telefone, com a energia, e com os mantimentos da casa.

Certa manhã,  eu estava no apartamento quando me surpreendi com minha avó, nua, saindo toda ensaboada do banheiro social em direção ao banheiro do quarto. Preocupado, pois ela contava com cerca de setenta anos de idade e estava bem acima do peso, eu falei:

- Vovó, a senhora vai acabar caindo. Fica passando de um banheiro pra outro toda molhada e ensaboada...

Gilza, antiga e fiel funcionária da casa, que observava tranquilamente a extravagante e arriscada cena de nudez, esclareceu:

 - Flavin, dona Maria tem muita pena do sabão omo. Pra não gastar o sabão em pó ela aproveita a espuma do sabonete do corpo dela e passa nas parede pra eu lavar os banheiro depois...


(imagem Google)

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

634 - CALÇOENE (Pedra de Clarianã há dois anos)




              Distante cerca de trezentos e setenta quilômetros de Macapá, Calçoene é um município amapaense pródigo em ouro e com muitas outras riquezas naturais e arqueológicas.

             Na década de noventa trabalhei vários meses naquele simpático município e, dentre outras características, fiquei impressionado com a quantidade de chuva que cai na região. Ali, em meio à floresta, registra-se um dos maiores índices pluviométricos do Brasil. Em média, chove por ano quase dez vezes mais que na árida caatinga cearense, onde nasci.

             Certo domingo, aproveitando uma trégua das chuvas, com um grupo de moradores locais, fui conhecer a praia de Goiabal, distante cerca de quatorze quilômetros da sede do município. Na ida perguntei sobre a origem do nome Calçoene. Um dos moradores começou a explicar que o diferente nome se originara da junção da palavra calço - que significa cunha - com a letra ene.

             Porém, naquele momento, um antigo e espirituoso oficial de justiça do lugar, conhecido como Dom Pedro, interrompeu a explicação e disse que não era nada disso. Segundo ele, há muitos anos, no fim do mês de dezembro, os primeiros moradores do local se reuniram na beira do rio que cruza a cidade para comemorar o nascimento de Cristo. Para ornamentar o local, fincaram ao chão vários pedaços de madeira com letras de papel pregadas, formando a frase FELIZ NATAL. Quando estavam todos reunidos na celebração natalina, de repente soprou um forte vento que fez tombar pra trás a madeira que sustentava a letra N de Natal. Segundo o cômico meirinho, nesse instante, um velho morador gritou a frase que originou o nome do rio e da cidade:

          - Minino, corre ali, calça o enecalça o ene.



(imagem Google)

domingo, 5 de agosto de 2012

633 - O NOIVADO DE GEAN




Na segunda metade da década de 1990, o varzealegrense Gean conheceu e iniciou um relacionamento com a jovem Agatângela. O namoro vingou, prosseguiu e os dois decidiram “juntar os panos”. Na organização para o casamento, a namorada sugeriu:

- Gean,  é tradição a noiva se encarregar das coisas pequenas da casa e o noivo comprar as grandes.

Passados uns três meses da preparação para o ansiado matrimônio, a noiva perguntou:

- O que você já comprou para nossa casa?

O extrovertido Gean, em mais um de seus comuns e divertidos repentes, respondeu:

- Três coisas grandes. Uma escada, uma mangueira de aguar plantas e uma vara de espanar cumieira*...


* cumeeira é a parte mais alta de um telhado
Colaboração: Gean Claude Alves de Holanda
(imagem google)

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

632 - NAMORO APERTADO




Os episódios da regravação da novela Gabriela retratam clararamente como em menos de um século as relações de namoro entre os jovens mudou radicalmente. Naquela época, retratada pela rica obra de Jorge Amado, o pai escolhia o namorado da filha e decidia diretamente sobre o casamento.

Há alguns meses, em uma cidade do interior cearense, observando o avançado namoro da sua jovem filha, o preocupado pai decidiu colocar o indeciso genro na parede:

- Você quer minha filha pra casar ou pra o que é mesmo?

O jovem rapaz, nervoso e surpreso com a ríspida indagação, respondeu:

 - Pra o que é mesmo...


Colaboração: Carlos Leandro da Silva (Carlin de Dalva)
Imagem Google

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

631 - O BARBEIRO E O DEPUTADO




Em Várzea Alegre, na antiga rua Major Joaquim Alves, um dos clientes mais ilustres da barbearia de Vicente Cesário era o empresário e político Otacílio Correia. Além de cortar o cabelo e de fazer a barba, o simpático empresário adorava ouvir as histórias do espirituoso dono do estabelecimento. Tudo regado a umas geladas cervejas vendidas no lugar.

Certo dia, na década de setenta, em visita à cidade cearense, Otacílio foi à barbearia do amigo. Como sempre, após pagar um valor maior que o costumeiramente cobrado pelos serviços, o político pediu:

- Vicente, vambora tomar umas geladas agora.

- Tem não, deputado. A geladêra véia queimou – justificou o barbeiro.

O deputado Otacílio então disse:

- Vá ali na loja de Luiz Proto e diga a ele que mande uma geladeira nova pra cá. Eu passo lá pra pagar ainda hoje.

Menos de meia hora depois, com o novo equipamento já instalado, Otacílio insistiu:

- Agora bote umas cervejas no congelador pra gente tomar daqui a pouco.

- Num tem cerveja não, deputado. – afirmou o Barbeiro.

Mais uma vez o deputado falou:

- Então vá lá em Luiz Silvino e diga ele que bote duas grades de Antártica na minha conta.

Logo que a bebida chegou, Vicente foi a um café próximo e trocou meia duzia das cervejas quentes por geladas. Após tomar a bebida na companhia de Vicente Cesário, Otacílio se levantou, caminhou em direção à porta e se despediu. Naquele instante, o barbeiro cobrou:

- Ei, Otacílio, num vai pagar nem a cerveja??


Colaboração: Washington Cavalcante
(imagem Google)