sexta-feira, 18 de maio de 2012

601 - CAMA INDISCRETA




Certa manhã de sábado, na década de setenta, em uma pequena cidade do interior cearense, duas jovens e simples donas de casa se encontraram no mercado de carnes e passaram a conversar:

         - E aí, Maria, como tão as coisa? Ainda tá cum visita em casa?

A amiga, com discrição, se aproximou da outra, e, falando baixo,  reclamou:

- E num é que tou, muié. Já faz mais de mês que meu cunhado Zé vei do sítio pra mode se tratar de paratife* e tumá umas injeção. De lá pra cá nunca mais eu e Ontôi fizemo imoralidade...

A vizinha, sem compreender o motivo da longa abstinência sexual da amiga, perguntou:

- Valha, e é por que?

A pobre mulher, referindo-se ao indiscreto ranger da cama e ao barulho do velho colchão de molas, completou:

- É que o cunhado Zé dorme numa rede da sala vizin do meu quarto e de Antôe. E a cama lá de casa é conversadera e fala alto demais. E só nós se mexê que ela já puxa uma prosa...


* nome dado no sertão cearense à Leptospirose, grave doença que se espalha pela urina dos ratos.
(imagem Google)

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