sábado, 1 de agosto de 2009

67 - DÚVIDA





         Em 1970 minha avó materna Maria Amélia se mudou para Fortaleza. No mesmo caminho seguiram seus filhos solteiros Francisco das Chagas, Maria Zélia, Paulo Danúbio e Paula Goretti. Dos não casados, apenas Antônio Ulisses ficou em Várzea Alegre.

        Em dúvida sobre a mudança para Fortaleza, onde já morara cumprindo o serviço militar obrigatório, Antônio Ulisses escolheu o acolhedor comércio de Alberto para curtir a saudade da mãe e dos irmãos e meditar acerca de sua ida ou não para a Capital Alencarina.

         O sagaz Alberto, conhecedor da angústia do amigo, pôs para tocar a música Daqui Pra Lá no volume máximo da radiola do bar:

     Não sei se vou, não sei se fico,
     Se eu fico aqui, se eu fico lá.
     Se estou lá tenho que vir
     Se estou aqui tenho que voltar.

         Sozinho em uma mesa, tomando cerveja e pensando na vida, Antônio Ulisses, apenas com um gesto na mão, toda hora pedia a Alberto para voltar a música. A melancólica cena entrou na madrugada e se repetiu durante todo o final de semana, até porque o dono do bar adorava “dar corda” e aperrear seu amigo Antônio Ulisses.

         Na segunda-feira seguinte, logo pela manhã, Antônio Ulisses foi até o escritório do usineiro Joaquim Diniz para apanhar alguns sacos de estopa para guardar algodão. O simpático empresário, morador da Rua Duque de Caxias, próximo ao Bar de Alberto, surpreendeu com o comentário:

        - Afinal, Antônio Ulisses, você vai ou fica? Se não decidiu pelo menos vire o disco. Eu e Balbina já ouvimos demais aquela música.


(imagem Google)

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