terça-feira, 25 de agosto de 2009

77 - OURO BRANCO

           Nos últimos dias do mês de agosto Várzea Alegre vive uma grande festa. Na homenagem ao padroeiro São Raimundo Nonato, a cidade do sertão cearense recebe inúmeros visitantes e se emociona com a volta de milhares de varzealegrenses que migraram para diversos lugares do mundo. Além das intensas atividades religiosas, com salvas de fogos, novenas e procissão, o clima festivo toma conta da receptiva cidade, especialmente no parque de diversões e nas barracas instaladas nas ruas centrais.

           Ainda no auge da produção do algodão arbóreo, início da década de oitenta, antes da arrasadora praga do bicudo*, o agricultor Gilson Primo procurou o seu amigo Antônio Ulisses para vender várias sacas do “ouro branco”. Na verdade, se tratava de antecipação da safra, pois se aproximava o marco inicial das comemorações - dia do levantamento da bandeira - e Gilson buscava dinheiro para investir na ansiada festa de agosto. Sentado em sua cadeira de balanço na calçada alta do escritório de compra e venda de algodão e oiticica, localizado no início da “Rua dos Perus”, o corretor Antônio Ulisses perguntou:

          - Gilson, você vai querer quanto?

          O repentista e divertido agricultor, já imaginado onde e como gastaria o dinheiro, com sua forma pausada de articular as palavras, disse:

          - Antônio Ulisses, bote o que der, mas note aí na ficha de São Raimundo, pois vamo nas barracas trocar tudo por bagos de garrafa.



* Bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis) besouro responsável por importante praga agrícola nos E.U.A., introduzido no Brasil em 1983 e causador de enormes prejuízos nas plantações de algodão do sertão nordestino.(fonte: Wikipedia)

Colaboração: Antônio Alves da Costa Neto

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