domingo, 2 de agosto de 2009

68 - MISTURANDO OS SANGUES




        Após se conhecerem em Fortaleza e namorarem por um período, a bela varzealegrense Paula Goretti e o japonês Harumi Tanaka decidiram contrair núpcias. O casal escolheu a cidade da noiva, a pequena Terra do Arroz, para realizar a cerimônia.

        Para o casamento religioso, ocorrido em 1978, vários parentes do nubente japonês vieram à Várzea Alegre. Na época, a pequena cidade sofria com o isolamento e não costumava receber visitas de pessoas de outros paises, muito menos oriundos da distante terra do sol nascente.

         O pai do noivo, Saburo Tanaka, sobrevivente das bombas da 2ª Guerra Mundial, veio de Castanhal, Estado do Pará, onde vivia em uma comunidade isolada, mantendo as tradições e a língua japonesa.

         No dias de confraternização, em que pese a simpatia dos cearenses e a paciência dos japoneses, aconteceram pequenos choques no encontro de culturas e línguas totalmente diferentes. De um lado, a sofrida e extrovertida tradição sertaneja, do outro, a milenar e circunspeta civilização oriental.

         Chamou a atenção a forma dos japoneses se cumprimentarem. Meu pai Luiz Cavalcante, muito hospitaleiro, na chegada da comitiva nipônica foi logo dando a mão, mas ficou sem jeito, com o braço estendido, e sem saber como retribuir o gesto sereno e simples de abaixar a cabeça dos visitantes.

         Os anfitriões estranharam a forma como uma irmã do noivo lia um livro em japonês. Em vez de seguir a frase na horizontal como na escrita ocidental, a leitura da japonesa se dava de cima pra baixo.

         Atualmente ninguém mais se surpreende com a presença de orientais na pequena Várzea Alegre, pois além da globalização e do melhor acesso a informações, a qualquer hora é possível encontrar um descendente do estranho Saburo Tanaka caminhando sobre os paralelepípedos das ruas da cidade.

Colaboração: André e Alan Costa Tanaka

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