quarta-feira, 5 de junho de 2013

762 - O ARROZ DA TIMBAÚBA (Pedra de Clarianã há dois anos)



        Em Várzea Alegre, na década de oitenta, o agricultor Zaqueu Guedes buscou a agência local do Banco do Brasil para realizar o financiamento da plantação de arroz na sua propriedade rural localizada no Sítio Timbaúba.

         Após uma longa espera, finalmente o gerente do Banco chamou Zaqueu para a mesa de atendimento e perguntou:

         - Seu Zaqueu, quanto o senhor vai precisar para tocar a lavoura de arroz este ano ? Quantas tarefas* o senhor vai plantar?

       - Dotô, lá adonde eu vou prantá é bem pertin de cem – respondeu o experiente agricultor.

        Cumpridas as formalidades, finalmente o banco aprovou e liberou para Zaqueu o empréstimo para a plantação de cem tarefas de arroz.

        Passados dois meses, o agricultor recebeu na sua propriedade a visita do fiscal do Banco do Brasil, responsável pelo acompanhamento da execução dos projetos de financiamento. Após observar e medir com rigor a roça onde fora plantado o arroz, com muita pose, o exigente funcionário do banco contestou:

        - Senhor Zaqueu, no cadastro consta que o senhor obteve um empréstimo para realizar a plantação de cem tarefas de arroz, mas vejo que só tem trinta tarefas plantadas.

        - Pode aí no seu papel, mas eu disse ao seu gerente foi que ia prantá pertin dos cem. – respondeu o agricultor.

        - Mas seus trinta é muito longe de cem, seu Zaqueu. – continuou o fiscal com um sorriso irônico no canto da boca.

       O experiente agricultor, com a sagacidade de sempre, imediatamente retrucou:

      - É nada, meu rapaz. Conte mais eu. Meu vizin Zé Batista prantou trinta tarefa. Meu vizin Ferreira Custodio prantou tombém trinta. Outo vizin Raimundo Cunha prantou mais quarenta. Eu tou ou num tou bem pertin dos cem deles?



* Tarefa é uma medida de área muito usada no interior nordestino

Colaboração: Aldir Cunha

(imagem Google)

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