sexta-feira, 6 de setembro de 2013

792 - O SAPATO DO SETE DE SETEMBRO



     Minha avó materna Maria Amélia nutria fervoroso amor à Pátria e buscava transmitir esse sentimento aos seus inúmeros filhos. Cultuava os heróis, respeitava os símbolos e comemorava as datas nacionais.

     Em 1951, na pacata Várzea Alegre, minha mãe Terezinha estudava no Grupo Escolar, atual Escola José Correia Lima, e se preparava para o desfile cívico em homenagem à independência do Brasil que ocorreria no dia 7 de setembro.

   Naquela época os parcos recursos não possibilitavam melhor vestir e calçar os numerosos membros da família. A saia da farda da pequena estudante estava bastante desbotada, mas minha avó, mesmo sem prática na tinturaria, cuidou de  tingi-la. A aluna também estava sem calçado, por isso minha avó tomou emprestado os sapatos novos que vira Julinha, esposa de seu primo Valdimiro, usando na igreja.

    No dia esperado, Terezinha saiu com a saia manchada e calçando o sapato de Julinha, com numeração bem superior a usada pela menina. Para melhor acomodar os pequenos pés da estudante, minha avó encheu os sapatos com algodão.

     Mas nada disso diminuiu o orgulho da pequena aluna do Grupo Escolar em participar das comemorações pelo Dia da Independência. Ao contrário, a menina Terezinha chinchelou* o sapato, ajustou a saia e marchou pelas ruas da pequena cidade do interior cearense. 

     No dia seguinte ao desfile, a menina foi obrigada pela mãe a devolver o sapato que tomara emprestado.  Ainda hoje Terezinha não sabe qual a reação da dona ao ver o calçado novo bastante amassado. Pois, em vez de entregar diretamente, a tímida garota, ciente do estrago que causara, deixou o par de sapato atrás da porta de entrada da residência de Julinha e voltou correndo para casa.  

* no sertão nordestino, "chincelar" significa pisar na parte posterior do calçado

Colaboração: Terezinha Costa Cavalcante
(imagem Google)   

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