quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

987 - OS ÓCULOS DO CHICO TERRA



A vida me presenteou e continua me abençoando com muitos amigos e amigas. Mas, infelizmente, aqui e ali, o nosso plantel de amizades sofre sérios desfalques.

Nos últimos tempos,  dois queridos amigos  de Macapá partiram definitivamente para o plano superior: Francisco Almeida, conhecido como “Chico Terra” e Suanise Alves Pereira, tratado por todos como “Seu Anízio”.


E o melhor remédio para amenizar a permanente saudade dos amigos é relembrar os bons momentos da rica convivência com essas pessoas especiais. 


Certa vez, o fotógrafo, músico e jornalista “Chico Terra” sofreu um acidente doméstico que o obrigou a permanecer algumas semanas internado no hospital de emergências à espera de uma cirurgia ortopédica. Nesse período, Chico me pediu para conseguir um novo óculos de grau para ele.


Imediatamente, busquei o amigo Anízio, proprietário de uma pequena venda de peças e acessórios para óculos, localizada na Alameda Serrano, no centro comercial de Macapá. Logo ao chegar ao  movimentado estabelecimento, contei a situação ao experiente técnico ótico:


- Seu Anízio, sei que o correto seria procurar um oftalmologista. Mas um amigo meu está internado no hospital e precisa de um óculos com urgência. Ele não tem a receita mas sabe o grau. Dá certo fazer os óculos dele ?


O velho Anízio, da mesa em que atendia os inúmeros clientes, com sua inseparável lupa na mão, levantou a cabeça, e, na sua rabugice cômica,  esbanjando sinceridade, lançou mais um dos seus repentes:


- Dá pra fazer sim. Mas se ele não enxergar o problema é dele.


(Imagem Google)



segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

986 - DEUS GREGO


A busca pela beleza física vem de longe, certamente desde o surgimento do mundo. O culto ao belo, presente em diversas culturas, possui raízes na mitologia, com profundas discussões filosóficas na Antiguidade Clássica. E no saber popular, empírico, passado de gerações a gerações, também há remédios para essa recorrente angústia humana.

No último domingo, no intervalo de provas de ciclismo amapaense, em uma prazerosa e divertida conversa,  o amigo e esportista Valdeci Nunes nos confidenciou que, quando criança, sofria com sua aparência física. 

Percebendo a chateação e o inconformismo do pequeno filho, a amorosa mãe do ciclista Valdeci buscou ajudá-lo:

- Meu pequenozin, pra você ficar mais bonito, se esconda atrás da porta, mastigando “cabeloro” cozido.  

Como os antigos gregos, que realizavam rituais e apresentavam oferendas à deusa Afrodite, o menino Valdeci, por diversas vezes, escondeu-se por trás da porta em madeira de sua modesta casa, mastigando “cabeloro”, duro pedaço da carne do boi, extraído do tendão que se estende da cabeça às vértebras do animal.

Valdeci finalizou nossa resenha dominical falando que desconfia que a simpatia não funcionara completamente. Mas, com certeza, sempre que mastigava “cabeloro” atrás da porta, sua autoestima melhorava, saindo, em seguida, pelas ruas do município portuário de Santana, no Amapá, de peito estufado, olhar firme e andando na maior boçalidade, sentindo-se mais bonito do que qualquer Deus grego ou romano.

Colaboraçao: Valdeci Nunes

(Imagem Google)