Eu sou de origem comercial. Desde criança, no sertão cearense, acompanho sucessivas gerações de familiares trabalhando em bodegas, armazéns, sapatarias, padarias, farmácias, boutiques, papelarias, bares e outras atividades de venda no varejo.
E não há como realizar o comércio sem a arriscada venda a prazo. Por isso ouvi tantas histórias de cobranças mal sucedidas e de perdas substanciais por conta da falta de pagamento de alguns mal intencionados clientes. Para meus parentes, agir como velhaco, deixando de honrar os compromissos, trata-se de um dos maiores defeitos do ser humano, praticamente um pecado capital.
Numa dessas situações, um conhecido figurão da nossa cidade natal comprou em uma modesta sapataria, a prazo, um par de sapatos de couro legítimo e de sola reforçada. Propositadamente, se esqueceu de pagar, não quitou sequer a primeira das várias parcelas do caro calçado adquirido.
Passados alguns meses, em um evento festivo da pequena cidade, a dona do comércio encontrou o caloteiro muito bem vestido e usando os lustrosos sapatos. Com certa descrição, sem afrontar os direitos do consumidor, a dedicada comerciante abordou o mau pagador, dizendo:
- É danado!! Esses sapato vai se acabar nos teu pé e eu não vou te cobrar…
(Imagem Google)
Colaboração: Carlos Leandro da Silva (Carlin de Dalva)