sábado, 9 de maio de 2009

36 - ORELHA QUENTE



No ano de 1968 vivia-se o auge da Jovem Guarda, movimento que mesclava música, comportamento e moda. Mas em resistência à massificação do ritmo iê-iê-iê, os rádios brasileiros tocavam o seguinte xote:

"Cabra do cabelo grande
Cinturinha de pilão

Calça justa bem cintada

Custeleta bem fechada

Salto alto, fivelão

Cabra que usa pulseira

No pescoço medalhão

Cabra com esse jeitinho

No sertão de meu padin

Cabra assim não tem vez não(…)”

Os versos bem humorados do Xote dos Cabeludos, do grande compositor varzealegrense José Clementino, imortalizados pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga, traduzem a desconfiança do sertanejo com a aparência pouco convencional dos membros e adeptos da Jovem Guarda.

Alguns anos depois, quando adolescentes, eu e vários outros primos, entre os quais Hildemburg (Nenê) e Hildemberg (Bega), decidimos usar brincos. Além das dores decorrentes da inflamação nas orelhas, sofremos comentários e críticas em face do à época pouco comum comportamento de jovens do interior cearense.

Em um fim de tarde estávamos reunidos no Calçadão Antônio Costa, no Bar de Toinha Boa Água, quando nosso tio Francisco da Chagas (Chico Nenê) se aproximou e passou a nos observar. Estranhando seus sobrinhos com adornos enfeitando as orelhas, Chico, com sua voz retumbante e indiscreta sinceridade, comentou:

- Meus sobrinhos, não se enfeze comigo não, mas se tivesse com vontade de dar o cu eu não faria esse arrodeio todo não.


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