terça-feira, 21 de abril de 2009

30 - A CAIXA DA RODOVIÁRIA

Quando estudei em Fortaleza, aos cuidados da minha querida avó Maria Amélia, toda tarde de domingo eu ia à Rodoviária apanhar uma caixa com mantimentos enviada de Várzea Alegre por meu pai. Eu não era o único. No mesmo dia, vários adolescentes cumpriam meio a contragosto aquela tarefa, que findava se transformando em um agradável encontro de estudantes.

Nas várias caixas de papelão, bem amarradas com barbantes, despachadas do sertão, havia um pouco de tudo. Não faltava feijão verde, paçoca de carne seca, queijo de coalho, carne de criação, tijolo de leite, bolacha maria e cream cracker, mariola, pasta kolynos, sabonete phebo. E, claro, algumas barras da apreciada e indispensável rapadura.

Em um desses domingos, depois de muito procurar no bagageiro do ônibus, fui informado por seu Guimarães, conhecido motorista da empresa Vale do Jaguaribe, que meu pai não estivera naquela manhã no ponto de Zé de Ginu, onde costumeiramente despachava a caixa.

Quando voltei para casa ainda sem entender o acontecido, minha avó admitiu que meu pai telefonara pela manhã avisando que não enviara a encomenda naquele domingo. Eu fiquei inconformado por não ser alertado, pois aproveitaria para assistir no castelão ao clássico rei – Ceará versus Fortaleza. Minha querida avó, com seu jeito original de controlar as coisas, certamente temendo que eu me viciasse no futebol do domingo e largasse a responsabilidade semanal da caixa, buscou em vão me convencer:

- Flavin, foi bom você ter ido pra rodoviária mesmo. Vai que seu pai se enganou e mandou a caixa.

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