sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

104 - PRATO CAMUFLADO






       Gostamos ou sentimos cada parente, cada amigo, cada pessoa de maneira especial, porém distinta. Não há como comparar os sentimentos, afinal há amor suficiente para distribuir entre todos. Assim, nada mais constrangedor para uma criança do que responder às tradicionais perguntas: “nenê gosta mais do papai ou da mamãe? Quer mais bem a vovó sicrana ou a vó fulana ?

        Mesmo amando todos, na casa de cada um de seus filhos ou filhas minha avó materna Maria Amélia tinha preferência por alguns netos. Que me perdoe minha irmã Flaviana, mas lá de casa eu e Fernando gozávamos de certo prestígio com nossa querida avó.

       Meu irmão merecia os créditos adicionais que recebia. Afinal, era muito paciente e dedicado. Trocava as resistências do ferro de engomar e lia as intermináveis bulas de remédio da nossa velhinha.

       Nascidos no interior cearense, eu e inúmeros primos moramos vários anos com nossa avó na capital alencariana. Eu percebi claramente a preferência no horário das refeições. Vovó se mantinha modestamente com os proventos de professora. Na sua acolhedora casa não havia tempero suficiente para atender o voraz e interminável apetite dos vários netos que ali estudavam.

        Mas até pra demonstrar suas preferências minha vozinha era inteligente e criativa. Para não provocar ciúmes, aparentemente meu cardápio era igual ao demais. Contudo, sutilmente, vovó escondia um segundo bife em meu prato, encoberto pelas fartas porções de arroz e feijão servidas no almoço.


(imagem Google)

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