sábado, 3 de setembro de 2016

942 - ENTERRO DE AMIGO



     Participar das últimas homenagens aos falecidos trata-se de um costume comum a povos de todas as épocas e de todos os continentes. No entanto, por variados motivos, há pessoas que preferem não testemunhar esses sensíveis e dolorosos momentos de despedida.

     Em Várzea Alegre, cariri cearense, na década de 1970, faleceu um grande amigo do agricultor José de Souza Lima (Pé Véi). Passou o velório, houve a missa de corpo presente e nada do agricultor se movimentar para acompanhar as cerimônias fúnebres.

     No final do dia, um conhecido passou apressado pela estrada vicinal do aprazível sítio Buenos Aires, e, vendo o agricultor sentado no chão e preparando um cigarro de fumo, questionou:

     - Pé Véi, hômi. Tu num vai na rua pro enterro do teu amigo, não? É daqui pa’pouco...

     - Vou não, respondeu, o indolente lavrador.

     - E por que tu num vai? Era tão teu amigo...

     Pé Véi continuou sentado, deu uma pitada no cigarro de fumo, e, com o ócio criativo digno de Macunaíma*, completou:

     -Que é que tem? Ele também num vai no meu...

*personagem do romance de Mário de Andrade
(Imagem Google)

2 comentários:

  1. Verdade, um não vai no enterro do outro e o outro não vão no enterro do um.

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  2. 😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂... excelente 😂😂😂😂😂😂.... morri !!!!

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