terça-feira, 14 de maio de 2013

755 - A CARNE DO TROPEIRO





Até a década de sessenta do século passado, grande parte das mercadorias era transportadas no lombo de animais, em difíceis e cansativas jornadas pelo interior do Brasil. Francisco Tavares Borges, conhecido popularmente como Bogin, foi um desses tropeiros que percorreram as terras nordestinas, desbravando novas rotas.

Certa vez, no Estado do Maranhão, após várias semanas de difícil viagem, com os mantimentos rareando, Bogin encontrou na beira da estrada uma vaca caída, dando os últimos suspiros. Bogin parou sua tropa, sangrou a vaca e retirou vários pedaços de carne.

Retomada a viagem, o tropeiro seguiu pelo pouco habitado caminho até encontrar uma modesta casa, coberta de palha, com uma mulher à porta. Mesmo com pouca comida, sugeriu:

- Dona Maria, vou deixar esse saco de carne aqui com a sinhora?. Pode ir comeno da carne. Perpare uma paçoca pra nóis comer na volta e saigue o resto pra nóis levar. Nós vorta daqui uns dias…

Cerca de uma semana depois, pela manhã, Bogin voltou pela mesma estrada viscinal e parou na simples casa onde deixara a carne. A pobre senhora preparou um delicioso almoço para Borgin e seus peões. Após a farta refeição, o tropeiro preparava os animais para partir e enchia os embornais de paçoca e carne seca, quando a mulher agradeceu:

- O sinhô é hômi de bom coração. Aqui em casa nós nunca teve tanta fartura de carne…

O experiente tropeiro interrompeu, dizendo:

- Dona Maria, carece agradecê não. A sinhora e sua famia que foi boa cum nós. Provaram que a vaca morreu foi de tingui*, num foi picada de cobra não...


* Arbusto que pode matar o gado que o come sem que a carne do animal se torne tóxica.
Colaboração: Igor Borges
(imagem Google)
 

3 comentários:

  1. Esse era meu avô. Queria muito ter o conhecido.
    Deixou várias histórias como esta.

    ResponderExcluir
  2. Me sinto bastante horado por ser neto de uma pessoa inlustre como Seu Borgin. Meu Avô que não o conheci. Muitas histórias...

    ResponderExcluir
  3. Sou grato Flávio calvalcante por postar as histórias de meu Avô. Forte abraço.

    ResponderExcluir